Movimento de mulheres ligado ao PSTU lança manifesto para o Congresso da UNE (CONUNE), que será realizado em julho. Como de costume, não se apresentam como partido político, mas como coletivos, como coletivo “Rebeldia – Juventude da Revolução Socialista” e “Movimento de Mulheres em Luta”. Intitulado “Mulheres na Linha de Frente! Nem Uma a Menos”, traz uma mistura de pautas tradicionais da esquerda, como a legalização do aborto, quanto um arsenal identitário e antipetista.
Cabe registrar que a postura “sem partido” acompanha esses grupos da esquerda desde a capitulação contra a extrema direita nas ruas em 2013, quando a maioria da esquerda cedeu aos gritos de “abaixa a bandeira” e incorporou a censura ao partidarismo e até ao uso do vermelho nas bandeiras e camisetas dos grupos. Desde então, é preciso pesquisar a fundo para encontrar a ligação entre esses “coletivos” com seus respectivos partidos políticos.
O Movimento de Mulheres em Luta (MML), filiado à CSP Conlutas, traz em seu estatuto a “autonomia frente aos partidos políticos” e “autonomia política” das entidades de bases que o “constroem”. O manifesto começa falando sobre o “feminicídio” e argumentando que mulheres são assassinadas por serem mulheres. Ao mesmo tempo, lembra a Lei do Feminicídio de 2015, que aumenta a pena de homicídios no caso das vítimas serem mulheres, mas reconhece o fracasso.
O problema é que esses grupos seguem na linha de apoiar o endurecimento das leis como resposta aos problemas sociais. Uma política confusa, acusando o “sistema” de matar as mulheres, mas também reivindicando que o mesmo sistema reforce seu arsenal para encarcerar a população.
Adaptando-se ao ambiente universitário, pedem pelo fortalecimento de ouvidorias e contratação de seguranças “concursados”. Muito longe da perspectiva revolucionária da criação de comitês de autodefesa, independentes de qualquer controle institucional.
Na discussão sobre permanência estudantil, além de errar ao fazer a defesa sectária de políticas de permanência “para as mulheres”, introduz nesse ponto a polêmica pauta das “cotas trans”. Longe de ser uma reivindicação popular entre as mulheres, pede também “representatividade” para uma população que, na melhor das hipóteses, beira 2% da população geral no Brasil, porcentagem que inclui pessoas que se identificam como “não-binárias”.
Um projeto de lei de 2023 da deputada federal pelo Erika Hilton (PSOL) que tramita na Câmara dos Deputados, pretende reservar 5% das vagas em universidades e institutos de ensino superiores federais para “pessoas trans e travestis”.
Assim como o setor mais poderoso da burguesia, essa esquerda se preocupa com a “violência nas redes sociais”. O manifesto denuncia a “indústria do ódio”, que seria formada por “plataformas que impulsionam misoginia” e influenciadores conservadores. Apesar de não formular diretamente uma proposta, a “denúncia” acaba servindo como uma manifestação de apoio à iniciativa do imperialismo de seguir piorando a censura nas redes sociais.
Para uma plataforma não “impulsionar a misoginia”, bastaria censurar por conta própria. Mesmo diante da censura massiva de conteúdos denunciando a recente onda de crimes de ‘Israel’ contra a população palestina, parte da esquerda segue defendendo mais censura, a “censura do bem”. Por trás de um discurso combativo, uma política reacionária que afeta gravemente a luta política em defesa dos interesses populares.
Finalmente, adivinhem quem aparece no manifesto como aliado da extrema direita? Ninguém menos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No item “Lula e o PT rifam nossas pautas para a direita”, afirmam que o governo federal troca “direitos das mulheres” por apoio a “suas políticas de arrocho e cortes na classe trabalhadora”, ou seja, para poder atacar os trabalhadores, libera ataques específicos às mulheres. Uma lógica ao melhor estilo PSTU.
Independentemente das muitas críticas cabíveis ao governo Lula e ao PT, uma colocação dessas não passa de oportunismo. Na fantasia do PSTU, o governo Lula não estaria sendo pressionado pelo imperialismo, mas sim aplicando as medidas que gostaria. Como fizeram durante a campanha que culminou no golpe de Estado em 2016, igualam o PT com os partidos da direita, ignorando propositalmente que se assim fosse a burguesia nem precisaria derrubar seu governo.
É a versão repaginada do bom e velho “fora todes”, como exposto no título de matéria no jornal do PSTU, Opinião Socialista: “UNE: Por um movimento estudantil que enfrente o governo Lula e a Extrema direita!”.
Apesar de se apresentarem como marxistas, defendem em todas as oportunidades o fortalecimento das instituições dominadas pela ditadura imperialista. Na questão feminina, orientam as mulheres a confiar nos mecanismos legais e a se contentar com medidas demagógicas diante da opressão real, deixando de informar que esses problemas só serão superados com a emancipação econômica das mulheres em geral, algo que só vai acontecer com uma revolução. Ao invés de preparar as mulheres para a luta revolucionária, querem que elas defendam mais censura e mais repressão.