Um estudo divulgado na última quarta-feira (21) pelo projeto MUDE com Elas revelou que 45,3% dos jovens negros de 14 a 29 anos no Brasil trabalham na informalidade, enfrentando péssimas condições, sem direitos e baixos salários. A pesquisa, realizada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e pela Ação Educativa, com apoio da organização Terres des Hommes e do governo alemão, expõe os efeitos da estagnação da economia para a população negra, incapaz de ser resolvida por discursos identitários.
Baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do IBGE, o relatório aponta que a taxa de desemprego entre jovens negras atingiu 16% no terceiro trimestre de 2024, 3,6 vezes superior à dos jovens brancos do sexo masculino (4,4%). Jovens negras recebem, em média, apenas 46,3% do salário de jovens brancos no Brasil, diferença que sobe para 62,2% na Região Metropolitana de São Paulo.
A informalidade entre jovens mulheres negras é de 40,8%, 8,4 pontos percentuais acima da verificada entre mulheres brancas. A coordenadora do projeto, Fernanda Nascimento, afirmou: “é impossível pensar políticas de equidade para as juventudes negras sem considerar as desigualdades territoriais que afetam seu cotidiano, seu acesso à infraestrutura urbana e sua dignidade habitacional”.
Além das condições de trabalho, o estudo destaca desigualdades habitacionais. Em São Paulo, 19,3% dos domicílios em áreas com maior concentração de jovens negras não possuem esgoto ligado à rede central, contra apenas 0,4% em regiões de predominância branca.
Apenas 6% dos domicílios em áreas de jovens negras são apartamentos, enquanto nas regiões de jovens brancas esse índice chega a 68,2%. Fernanda Nascimento concluiu que “é impossível pensar políticas de equidade para as juventudes negras sem considerar as desigualdades territoriais que afetam seu cotidiano, seu acesso à infraestrutura urbana e sua dignidade habitacional”.
A estagnação econômica agrava essas disparidades. Segundo o IBGE, o PIB brasileiro cresceu apenas 1,2% em 2024, insuficiente para gerar empregos formais em larga escala. A informalidade, que atinge 39,8% da força de trabalho total, segundo o IBGE, é ainda mais severa entre negros, que representam 56% dos trabalhadores informais, conforme o Dieese. Políticas identitárias, frequentemente promovidas como solução para os problemas enfrentados pelos negros, sequer arranham a raiz do problema: a falta de crescimento econômico e a ausência de políticas públicas robustas para inclusão no mercado formal.