Política internacional

Esquerda esbanja otimismo para falar de Lula

Jornalista enxerga Lula como um mediador mundial da paz pelo simples fato de o presidente ter ido à Rússia e conversado com Putin

Lula e Putin

O artigo Quando Lula fala, o mundo escuta: o Brasil no centro da nova geopolítica da paz, de Reynaldo José Aragon Gonçalves, publicado no sítio Brasil 247 neste domingo (11), mostra que o otimismo da esquerda não encontra limites. A situação do governo Lula está tão ruim, que qualquer aceno minimamente positivo é motivo de festa e até mesmo exagero. A visita do presidente a Moscou não pode ser chamada de “virada do jogo diplomático”, mas é o que o autor tenta nos convencer.

Lula esteve na capital russa para as comemorações do 9 de maio, quando o mundo celebrou os 80 anos da vitória sobre o nazismo. O gesto é considerado por Gonçalves como sendo corajoso, dado que muitos líderes imperialistas preferem manter distância, pois a Rússia está sancionada pelo imperialismo.

Segundo o autor, “a disposição [de Putin] de negociar a paz com a Ucrânia — sem pré-condições, sugerindo Istambul como sede. O gesto, inesperado e rapidamente capitalizado por Lula em conversas diplomáticas, recolocou o Brasil no radar como ator internacional com voz própria. A coincidência temporal entre a visita e a abertura russa ao diálogo expôs que a diplomacia brasileira, com sua tradição de diálogo e neutralidade ativa, pode ter influenciado diretamente um dos maiores impasses geopolíticos do século XXI”.

De início, é preciso dizer que a diplomacia brasileira não anda nada neutra, principalmente se considerarmos como tem tratado países como Venezuela e Nicarágua. Depois, nem mesmo Donald Trump, presidente do principal membro da OTAN, não conseguiu terminar a guerra, ainda que tenha prometido, e não será o Brasil que terá tal poder.

O texto diz que “Lula foi acusado de ‘passar pano’ para Putin, apesar de reiterar publicamente — e diante do próprio presidente russo — que o Brasil condena a invasão da Ucrânia e não aceita ocupações territoriais”. Essa posição não é boa, pois a Rússia foi obrigada a fazer essa operação militar em decorrência do cerco inaceitável da OTAN, que usa os ucranianos como bucha de canhão.

Gonçalves diz que “Putin está isolado no ocidente, mas escuta Lula. E essa escuta, neste momento, pode ser mais poderosa do que as sanções de Washington”, mas não explica o motivo. Que Putin ouça Lula é natural, pois o Brasil é um dos países mais importantes do mundo e cujo governo não é hostil. Neste momento, parece muito mais importante que Lula ouça seus aliados do BRICS e tente fortalecer sua política externa, pois a interna vai de mal a pior, com seu governo totalmente acuado.

Qual paz?

O artigo diz que Lula tenta “construir um novo eixo de mediação global fora da órbita de Washington e Bruxelas. Ao propor um ‘clube da paz’ envolvendo países como China, Índia, Turquia e Indonésia, Lula não está apenas oferecendo uma saída diplomática para a guerra na Ucrânia. Ele está promovendo uma reconfiguração simbólica do poder internacional, onde os países do Sul Global, historicamente marginalizados das grandes decisões mundiais, assumem protagonismo em temas estruturantes da ordem mundial”.

No entanto, nenhuma paz pode ser conseguida sem que Lula proponha uma aliança militar desses países citados. A paz só pode ser conquistada pela força das armas, por paradoxal que possa parecer. Não adianta nada querer fazer uma “reconfiguração simbólica”, a política internacional é regida pela força.

Lula, em nome da paz, já deveria ter rompido relações com “Israel”, um Estado nazista que está promovendo um terrível genocídio na Faixa de Gaza.

Aconteceu pouca coisa para afirmar que “a ascensão internacional de Lula como figura de mediação e equilíbrio ocorre em um momento em que a extrema-direita global se reorganiza em torno de projetos autoritários, neocoloniais e tarifários”. Quanto ao autoritarismo, é o que mais se vê na Europa “civilizada”. Na Alemanha, por exemplo, grupos e partidos estão sendo perseguidos acusados de extremistas. E a ação da polícia contra apoiadores da Palestina é extremamente brutal por todo o continente.

Enevoado por seu otimismo, Gonçalves sustenta que “o gesto de Putin, ao aceitar negociar pouco depois do encontro com Lula, não é um ato isolado”, mas o presidente russo já vinha negociando há tempos.

O jornalista afirma ainda que o “reconhecimento público fortalece Lula internacionalmente e o blinda, ao menos parcialmente, contra os ataques internos e externos promovidos por setores da extrema-direita que trabalham para desestabilizar lideranças progressistas por meio de lawfare, campanhas de desinformação e sabotagem institucional”. Ocorre que uma coisa não tem nada a ver com a outra.

As campanhas contra Lula são orquestradas pelo imperialismo. E é preciso considerar que se trata de um governo fraco, pois não se apoia na classe trabalhadora. Se o imperialismo achar oportuno, ou vislumbrar uma chance de derrubar Lula, seguramente tentará fazê-lo.

Para o articulista, a importância de Lula se deve ao fato de supostamente ser “o único chefe de Estado com capacidade real de dialogar com franqueza tanto com as potências ocidentais quanto com os países do Sul Global”. Franqueza, no mundo diplomático, é uma moeda sem valor.

O artigo se perde no meio de jargões próprios do identitarismo e de uma esquerda academicista, tais como “disputa de narrativa” e “líder simbólico”. E, se Lula “representa uma alternativa à lógica do confronto, sem se curvar a nenhuma das potências hegemônicas”, por que impediu a entrada da Venezuela no BRICS, ou de ficar exigindo atas das eleições no país vizinho? Lembrando que o presidente brasileiro reconheceu as fraudulentas eleições no Equador, um verdadeiro golpe de Estado.

Gonçalves termina seu texto insistindo na tese, sem qualquer fundamento, de que Lula “aparece como alternativa à lógica destrutiva da extrema-direita internacional” e “articulador ativo de uma paz geopolítica”.

A guerra é uma decorrência da crise do imperialismo. Muito mais do que esperar por uma “paz geopolítica” a esquerda deve se preocupar com a agressividade cada vez maior das grandes potências, que perdem seu controle sobre os mercados, sobre os países atrasados e planeja ir para o confronto.

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