Saúde pública

Dengue está fora de controle na zona sul de São Paulo

Pirataria dos recursos públicos pelos banqueiros é fator principal responsável pela destruição da infraestrutura das cidades, que se mostram incapazes de derrotar um mosquito

O distrito de Jardim Ângela, localizado na zona sul de São Paulo, enfrenta uma escalada alarmante nos casos de dengue, aproximando-se de uma situação epidêmica. De acordo com o boletim epidemiológico de arboviroses da Secretaria Municipal da Saúde, até 19 de março de 2025, foram registrados 1.016 casos na região, resultando em um coeficiente de incidência de 290,9 casos por 100 mil habitantes. Esse índice está prestes a ultrapassar o limiar de 300, que caracteriza uma epidemia.

Outros distritos também apresentam números preocupantes: Capão Redondo, na mesma região sul, com coeficiente de 253,4; Cachoeirinha, na zona norte, com 213,1; Perus, também na zona norte, com 223,5; e Rio Pequeno, na zona oeste, com 202,9. Esses dados são preliminares e podem sofrer atualizações.

Durante uma visita da reportagem do jornal golpista Folha de S. Paulo ao bairro Jardim Capela (Jardim Ângela lidera casos de dengue na cidade de São Paulo), no distrito de Jardim Ângela, foram identificadas diversas condições propícias à proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Entre elas, garrafas PET com água acumulada, caçambas com lixo acumulado e recipientes abandonados com água parada. Em uma das poças observadas, foi possível identificar larvas do mosquito.

À reportagem da Folha, o açougueiro Roberto Carlos Gomes da Silva, de 58 anos, descreveu os sintomas que enfrentou há três semanas: “Comecei com dor de cabeça, dor na batata da perna, tontura e diarreia. Não conseguia comer. Procurei a UPA. Lá, constataram que as plaquetas estavam baixas. Precisei cancelar uma cirurgia de varizes”. Após sua recuperação, seu filho, Isaque Gomes da Silva, de 18 anos, também contraiu a doença, obrigando a família a cancelar a comemoração de seu aniversário.

Gilberto Pereira da Silva, conselheiro de saúde da região de M’ Boi Mirim, que inclui o Jardim Ângela, relatou que seu neto, Rodrigo, de 17 anos, perdeu uma semana de aulas devido à dengue. Ele expressou preocupação com sua própria saúde: “Não posso nem pensar em ser picado pelo mosquito. Já sofri seis infartos e dois AVCs. Passo o repelente direto. É o único jeito de me proteger”.

Os moradores reconhecem a presença de equipes da Secretaria Municipal da Saúde na área, mas apontam a necessidade de ações mais eficazes e educativas. Gilberto enfatizou: “A gente vê que nem as pessoas e nem a prefeitura estão fazendo a sua parte. Infelizmente é assim. A maioria da rua pertence à minha família. O mosquito não vai escolher quem picar”. Como conselheiro de saúde, ele se esforça para conscientizar a comunidade.

Em resposta, a Secretaria Municipal da Saúde informou que a região é monitorada pela Unidade de Vigilância em Saúde (Uvis) e pela Unidade Básica de Saúde (UBS) local, com ações contínuas de eliminação de criadouros, nebulização e aplicação de larvicida com drones, além de orientações aos moradores. Desde fevereiro, mais de 4.000 imóveis foram visitados e cinco operações de nebulização foram realizadas na área. No último sábado (22), a rua Conde de Silva Monteiro foi incluída nas ações de combate à dengue, e um mutirão de zeladoria está agendado para 30 de abril.

Até 19 de março de 2025, a cidade de São Paulo registrou 14.047 casos confirmados de dengue e uma morte. No mesmo período de 2024, foram contabilizados 67.168 casos e 19 óbitos.

Especialistas alertam que, embora os números atuais sejam inferiores aos do ano anterior, não há espaço para complacência. Paulo Abrão, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e professor da Unifesp, destacou que surtos de dengue são cíclicos e influenciados por fatores como clima e desarticulação do sistema de saúde. Ele ressaltou a importância de manter medidas preventivas:

“Zero óbito é a nossa meta. A dengue é prevenível. É uma doença de saneamento, de condição social, de informação, de educação em saúde. Temos que continuar reforçando e pressionando, inclusive o poder público.”

Médico do Departamento de Medicina Tropical e Infectologia da USP, Matheus Polly apontou também à Folha de S. Paulo que bairros operários enfrentam maiores desafios no acesso à prevenção e controle da dengue. Ele observou que essas regiões frequentemente apresentam maior vulnerabilidade social, com mais locais propícios à proliferação do mosquito e dificuldades no acesso aos serviços de saúde. Um drama que se torna pior com a pirataria dos recursos públicos pelos banqueiros, fator principal pela destruição da infraestrutura das cidades, que se mostram incapazes de derrotar um mosquito.

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