A aprovação do presidente Lula (PT) despencou de 35% para 24% em dois meses, registrando o pior índice de todos os seus mandatos, conforme levantamento do Instituto Datafolha. Segundo a pesquisa, a reprovação também atingiu um recorde, subindo de 34% para 41%.
O Datafolha ouviu 2.007 eleitores em 113 cidades entre os dias 10 e 11 de fevereiro, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O percentual de pessoas que avaliam o governo como regular também aumentou, passando de 29% para 32%.
A principal crise recente enfrentada pelo governo foi a tentativa de fiscalização de transações bancárias pelo Pix acima de R$5 mil. A medida gerou forte reação contrária. Diante da repercussão negativa, o governo revogou a medida e promoveu mudanças na comunicação, com a substituição de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira na chefia da Secretaria de Comunicação Social.
A inflação dos alimentos também impactou a popularidade do governo. Em meio ao aumento de preços, Lula chegou a sugerir que os brasileiros evitassem comprar produtos caros, declaração que gerou forte reação negativa e foi explorada pela oposição.
Os índices atuais são inferiores aos registrados durante o escândalo do Mensalão, em 2005, quando a aprovação de Lula chegou a 28% e a reprovação alcançou 34%. No terceiro mandato, iniciado em 2023, a média da aprovação era de 36%, enquanto a reprovação ficava em 31%.
Em comparação com seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), Lula enfrenta um cenário semelhante. No mesmo período de governo, Bolsonaro tinha 40% de reprovação, mas sua aprovação era de 31%, superior à atual de Lula.
Os dados revelam que a queda de popularidade atingiu eleitores historicamente ligados ao petista. Entre os que recebem até dois salários mínimos, a aprovação despencou de 44% para 29%. Esse grupo representa 51% da amostra populacional, com margem de erro de três pontos percentuais.
Nos 33% de entrevistados que possuem apenas ensino fundamental, a queda foi de 15 pontos percentuais, passando de 53% para 38%. No Nordeste, reduto histórico do petismo, a aprovação caiu de 49% para 33%.
Entre eleitores de Lula no segundo turno contra Bolsonaro, a aprovação recuou 20 pontos, atingindo 46%. A desaprovação quase dobrou, indo de 7% para 13%, enquanto a parcela que avalia o governo como regular passou de 27% para 40%.
Lula só apresenta saldo positivo entre os menos escolarizados, com uma margem de 10 pontos, e entre os nordestinos, com três pontos. Os piores índices de saldo negativo estão entre os que recebem de dois a cinco salários mínimos (33 pontos negativos), de cinco a 10 salários (33 pontos negativos) e acima de 10 salários (45 pontos negativos). As margens de erro nesses segmentos variam entre 4 e 12 pontos.
A pesquisa não incluiu cenários eleitorais para 2026, mas o resultado deve intensificar os debates internos no governo sobre a viabilidade de Lula disputar um novo mandato. Outros levantamentos apontam que ele ainda é o favorito, mas a queda na aprovação levanta dúvidas sobre sua capacidade de recuperação política.
Em declaração recente, Lula indicou que só disputará a reeleição “se estiver bem de saúde”. O presidente tem repetido que o grande desafio de seu governo é combater as “fake news” e reverter a percepção negativa. “Esse é o meu ano. Eu quero desmascarar essa quantidade de mentira que tem nas fake news, no celular, todo mundo mentindo para todo mundo”, afirmou em recente viagem ao Norte do País.
Enquanto isso, setores da oposição se movimentam. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e nomes emergentes do bolsonarismo, como Pablo Marçal e o cantor Gusttavo Lima, começam a testar a receptividade de uma eventual candidatura. Bolsonaro, inelegível até 2030 por enquanto, busca manter sua influência no cenário político.