Brasil

A esquerda que ‘passa pano’ para a ditadura judicial

Jornalista defende passar o trator nos direitos dos manifestantes do 8 de janeiro, preparando o terreno para a burguesia atropelar os direitos do resto do povo

O jornalista Florestan Fernandes Jr., escritor e diretor de redação do Brasil 247, publicou uma matéria no portal de notícias e análises políticas criticando apaixonadamente a possibilidade de anistia, e redução de penas, para os condenados por participação no protesto de 8 de janeiro de 2023. O mote para a matéria foi a entrevista do Ministro da Defesa, o general José Múcio Monteiro, no programa Roda Viva na TV Cultura. Em seu texto Anistia pra golpista? Aqui não!, o jornalista cita o parentesco de Múcio com pessoas acampadas na frente do quartel do exército e diz que o ministro “passou pano”.

Na sua argumentação, Fernandes afirma “não existe na história do Brasil uma tentativa de golpe de Estado tão fartamente registrada como a que transcorreu nos quatro anos do governo Bolsonaro e que teve seu auge no 8 de janeiro”. Nada menos do que quatro anos e mais alguns dias de “tentativa de golpe”, culminando com a eleição de Lula. Quantos generais estariam implicados nesses “fartos registros”? O próprio jornalista aponta que “aqueles que articularam, financiaram e usaram seus cargos públicos para a concretização do golpe” não foram sequer denunciados pela Procuradoria Geral da República.

Para quem cabe então todo esse furor repressivo? Apenas para pessoas comuns que aderiram ao protesto? Setores da esquerda realmente acham que passar com o trator do Poder Judiciário em cima de manifestantes de direita e extrema direita é um caminho real para ganhar a luta política contra o bolsonarismo e contra os militares golpistas?

Depois de tudo o que já se tornou público sobre muitas dessas pessoas presas, para além do fato de não terem qualquer poder real para dar um golpe de Estado, como problemas de saúde e pobres. Gente comum que foi convencida ao longo dos anos pela imprensa burguesa que Lula e o PT são criminosos profissionais.

A ideia seria punir para servir de exemplo, como a direita sempre defendeu em relação a quem comete crimes como roubo ou tráfico de drogas? É nisso que essa parte da esquerda se tornou? Gente que abre mão de disputar as ruas com a direita e coloca seu destino na mão do Judiciário, que por sua vez está nas mãos da burguesia? Às vezes parece que até os “intelectuais” da esquerda não entendem o que significa a burguesia ser a classe dominante. Esse tipo de ideia, que vem sendo ventilada há vários anos, mostra sua relevância quando vemos esquerdistas pedindo para a burguesia defender a “democracia” contra seus próprios cães de guarda.

Ao defender o atropelo de direitos democráticos, o que sai fortalecido é o poder do Estado de esmagar o povo. Especialmente em relação a quem participa de uma manifestação política que termine com alguma confusão ou quebra-quebra. Finalmente, querer responsabilizar todos os presentes num ato por danos cometidos por alguns não parece coisa de quem participa de atos públicos. Atos que normalmente são abertos a qualquer um que apoie suas demandas, onde quem participa desconhece a imensa maioria das pessoas, no caso de atos grandes.

Outros acham que a punição seja cabível por conta da pauta “golpista”, sem perceber a enorme margem que abrem com isso. Pedir a derrubada do governo eleito seria a rigor “golpista”? Então todos que pediram o “Fora Bolsonaro” são golpistas? Isso vale no caso de um governo fruto de uma fraude eleitoral como Bolsonaro? Quem decidirá isso? A esquerda? Florestan Fernandes Jr? Ou a burguesia através dos seus juízes? Vale a pena depositar esse tipo de poder na mão do judiciário?

Para setores de esquerda de classe média que nunca conheceram de perto como funciona a “lei”, podemos até considerar uma posição “natural”, pois estão muito longe da realidade do povo e da militância de esquerda nas ruas. Mas para alguém como Lula é complicado entender seu cálculo, pois além de uma longa experiência política no movimento sindical, ainda no final da ditadura militar, não faz muito tempo ele próprio foi vítima de um atropelo judicial que atrasou sua eleição em quatro anos e trouxe enormes prejuízos aos trabalhadores e ao país em geral.

Que Lula lembre mais da sua trajetória na luta política e escute menos esses intelectuais de classe média que, saibam eles ou não, estão na mão da burguesia e defendem apaixonadamente interesses contrários aos da própria esquerda, e do povo.

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