A esquerda não cansa de cair no golpe do golpe, como bem demonstra o artigo O Power Point do golpe, de Oliveiros Marques, publicada no Brasil 247 nesta terça-feira (20). No olho da matéria, o articulista aponta que “a turma do golpista inelegível nos deixou o PowerPoint com tudo esquematizado: argumentos, movimentos, autoria”, dando a entender que Bolsonaro e seu grupo utilizassem os mesmos métodos da Operação Lava-Jato. Ficou famoso o “PowerPoint” de Deltan Dallagnol incriminando Lula.
Utilizar a apresentação não é uma boa ideia, pois as alegações que Dallagnol apresentou eram falsas. Em outras palavras, o conteúdo não correspondia à realidade. Acrescenta-se a isso o fato de o Supremo Tribunal Federal ter sido peça-chave para que a Lava-jato prosperasse e colocasse Lula na cadeia.
O que está acontecendo com Bolsonaro é uma continuação da Lava-jato, desta vez, no entanto, os golpistas agem sem intermediários. Iniciando seu artigo, Marques escreve:
“Parece que os golpistas brasileiros têm uma arma preferida: o programa para apresentações gráficas produzido pela big tech Microsoft, o PowerPoint. E não importa se o golpista é civil ou militar — lá está o programa sendo utilizado, com o desprezo pela estética estampado em seus slides. Foi assim com os golpistas em Curitiba, e se repetiu agora, na tentativa de golpe em 2022/2023.”
A menção a uma big tech não é gratuita, faz parte de uma campanha, a da censura, elaborada pelo imperialismo e encampada pela esquerda pequeno-burguesa que, como o nome já explica, está ligada ideologicamente à burguesia.
As empresas de tecnologia são acusadas de agirem em favor, ao criar um ambiente propício, com algoritmos maliciosos, “tóxicos”, que favorecem a extrema direita; e, portanto, seria necessário censurar as plataformas, as redes sociais, para coibir os fascistas. Cabe ao articulista explicar o porquê de o fascismo ter surgido na Itália e ganhado grande impulso na Alemanha quando não havia redes sociais.
No lugar de se organizar nas redes sociais, como faz a direita, a esquerda pede repressão, é um verdadeiro atestado de incapacidade. Em vez de batalhar para reconquistar o apoio da classe trabalhadora que se desgarrou, os pequenos burgueses vão chorar no colo do principal inimigo do povo.
Para informação de Oliveiros, apesar de o PowerPoint ser produzido pela Microsoft, foi inventado por uma empresa pequena no final dos anos 1980. Além disso, hoje existem diversas alternativas de código aberto para se produzir apresentações.
Quem tem o poder?
Oliveiros continua: “fico imaginando a cena: caso Benjamin Constant – então tenente-coronel – tivesse tido acesso a esse programa enquanto arquitetava o golpe militar que inauguraria a sequência de uso das patentes para derrubar regimes no Brasil”. Constant foi um dos principais articuladores do golpe que derrubou Pedro II. Parece que o articulista foi contra a proclamação da República e se revela um monarquista, pois termina seu parágrafo dizendo “teríamos hoje resolvidos vários problemas para interpretar o pensamento e os movimentos daqueles golpistas”.
A apresentação de Dallagnol, embora seja o produto de uma grande empresa, não tem poder em si; o procurador estava amparado por um amplo esquema golpista “com Supremo, com tudo”, sob regência do imperialismo, para dar um golpe. Que já teve duas fases: o golpe contra Dilma Rousseff e a prisão de Lula; e caminha para a terceira, com a retirada tanto de Bolsonaro quanto de Lula do caminho para a eleição de um candidato ao gosto do grande capital financeiro.
É preciso a leitura
Assim como Dallagnol, que não tinha provas, mas tinha convicções para condenar, Oliveiros diz que “embora o documento não tenha assinatura, basta procurar um pouco para encontrar as várias patas de quem o elaborou”. E completa: “o arquivo, salvo no celular do golpista delator Mauro Cid – e vejam só, também um tenente-coronel, como aquele tal Benjamin Constant –, é uma prova cabal da existência de um plano de atentado contra o Estado Democrático de Direito”. A prova contra Lula foi fato de ele ter visitado um apartamento. Imaginação é tudo.
Para o articulista, que também se apoia em um PowerPoint, o arquivo seria “mais uma comprovação de que o 8 de janeiro – assim como os ataques de dezembro de 2022 – não foram movimentos espontâneos de uma horda descontrolada. As falsas tiazinhas e os tiozinhos do zap, ou a moçoila do batom, haviam sido, sim, convocados e estavam sob o comando de um projeto de golpe desenhado por civis e militares”.
Oliveiros tem uma prova contundente contra seus argumentos: não havia armas, os inúmeros de vídeos, as reportagens, as câmeras de circuito-interno mostram exatamente uma horda descontrolada. Ainda assim, ele pede “a manutenção da mobilização pelo ‘Anistia Não’”. Ou seja, a esquerda se tornou uma verdadeira carcereira, assina embaixo de julgamentos coletivos e sem instâncias recursivas, e ainda assim enche a boca para falar de “Defesa do Estado Democrático de Direito”.
Para piorar, essa esquerda está fazendo frente com os golpistas de 2016 e 2018. Ainda assim, diz que “para que não sigamos com novas gerações de golpistas, é preciso matar o mal pela raiz. E isso se fará com a punição exemplar de cada um: financiador, planejador, executor, beneficiado”. Como se corta o mal pela raiz se juntando àqueles que fazem o mal. Os verdadeiros golpistas são os que estão atuando desde a Lava-jato e se fingem agora de heróis da democracia.