Um grupo de aproximadamente 1.200 oficiais e reservistas do exército de ocupação sionista divulgou uma carta aberta, nesta semana, exigindo o cessar imediato da guerra contra a Faixa de Gaza e o retorno dos prisioneiros israelenses mantidos no enclave. A informação foi publicada originalmente pelo jornal hebraico Haaretz e repercutida por veículos internacionais como o britânico The Guardian.
No documento, os signatários — integrantes de diversas unidades militares, em serviço ativo ou na reserva — se dirigem ao gabinete de guerra de Benjamin Netaniahu e ao novo chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de “Israel”, general Eyal Zamir. “Nós, oficiais e comandantes atuais e da reserva, exigimos o fim da guerra política em Gaza e o retorno imediato de todos os detidos”, afirma a carta.
Segundo os oficiais, “a continuação da guerra vai contra a vontade da maioria esmagadora do público e levará à morte de detidos, soldados do exército e civis inocentes”. A declaração denuncia ainda que a ofensiva em curso serve aos planos do governo sionista para viabilizar uma futura ocupação completa da Faixa de Gaza.
A iniciativa ocorre em meio a uma escalada da repressão e ao aprofundamento do genocídio em Gaza, iniciado em outubro de 2023. Até o momento, mais de 54 mil palestinos foram assassinados pelas forças sionistas, a maioria composta por mulheres e crianças. Paralelamente, cresce a instabilidade interna no regime israelense, com protestos na capital Telavive e outras cidades, exigindo a renúncia de Netaniahu e a libertação dos prisioneiros.
Outro documento, divulgado por 41 oficiais, soldados do setor de inteligência e cibersegurança das forças armadas, reforçou a pressão contra o governo. A carta, revelada pelo The Guardian, afirma que os signatários se recusam a participar de novas operações militares em Gaza. Eles classificam as ordens do gabinete como “claramente ilegais” e denunciam que a própria ofensiva israelense colocou em risco os detidos, que teriam sido atingidos por fogo amigo e submetidos a condições de escassez e fome.
“Durante meu serviço, testemunhei ataques que feriram detidos”, declarou um dos oficiais ao jornal britânico. “A guerra não está atingindo seus objetivos e apenas prolonga o sofrimento de todos”. O documento também acusa o primeiro-ministro de ter deliberadamente rompido o acordo de cessar-fogo em março, agravando a situação humanitária e inviabilizando uma possível troca de prisioneiros.
Os signatários denunciam que a guerra foi “desenhada para preservar o governo de Netaniahu” e atender aos setores “antidemocráticos e messiânicos” que compõem sua coalizão. Eles afirmam que não obedecerão mais ordens ilegais e que não aceitarão participar de uma guerra que consideram “eterna e desnecessária”.
A carta dos militares da inteligência se soma a uma série de manifestações similares. Em abril deste ano, 250 ex-agentes do Mossad assinaram um manifesto exigindo o fim da guerra em Gaza. O crescente número de vozes dissidentes dentro do aparato repressivo do Estado sionista reflete o aprofundamento da crise política interna do regime.
No plano internacional, a ofensiva de “Israel” já rendeu pedidos de prisão contra Netaniahu e seu ex-ministro da guerra, Yoav Gallant, no Tribunal Penal Internacional (TPI), por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Paralelamente, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) conduz um processo por genocídio contra o Estado sionista, denunciado por seus crimes sistemáticos contra a população civil palestina.
A divulgação das cartas dos oficiais ocorre em um momento de aumento das contradições no seio do regime de ocupação. Ao mesmo tempo em que Netaniahu insiste que “Israel controlará toda Gaza”, cresce a percepção — inclusive entre setores do próprio exército — de que a política genocida do gabinete não apenas fracassou, como tem agravado o cerco contra os próprios prisioneiros israelenses. As divergências internas revelam o esgotamento de uma guerra que, segundo os próprios militares sionistas, não tem mais objetivo militar, mas apenas político.