O órgão Esquerda Online, ligado à corrente interna do PSOL Resistência, publicou um artigo no último dia 5 intitulado Marçal é uma ameaça fascista. A vitória de Boulos é chave para o Brasil, defendendo que “enfrentar e derrotar” o candidato bolsonarista à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), e acrescentando que “apenas a vitória de Boulos pode impedir o triunfo do bolsonarismo”. Se a “chave para o Brasil” derrotar o fascismo é um homem de uma ONG ligada à CIA, que se une à temida ROTA já na campanha eleitoral e promete dobrar o efetivo da GCM, a classe trabalhadora paulistana e brasileira está em sérios apuros. Diz a matéria de Esquerda Online:
“A onda Pablo Marçal na cidade de São Paulo é o fato político nacional mais importante das eleições até aqui. Ela expressa de forma perturbadora o cenário político ainda marcado pela ascensão da extrema direita. Esse novo e bizarro fenômeno fascista ameaça a maior cidade do país e, dessa maneira, o Brasil de conjunto. Enfrentá-lo e derrotá-lo é a principal tarefa da conjuntura. Apenas a vitória de Boulos pode impedir o triunfo do bolsonarismo.”
Esquerda Online comete um erro clássico da esquerda pequeno-burguesa, de olhar um fenômeno superficialmente, desconsiderando a questão social. A direita, seu setor mais extremista e o fascismo não são outra coisa, mas expressões da política da burguesia, a classe social que se beneficia da política com a política de repressão, ataques aos direitos democráticos e rapina. Essa consideração escapa ao órgão do PSOL, mas é fundamental para se entender o quão longe da verdade estão os esquerdistas que defendem Boulos, um elemento infiltrado na esquerda para dar golpes e dividir o campo, o que tem feito desde o “Não vai ter Copa”.
Nos últimos 10 anos, o candidato do PSOL não fez outra coisa além de reforçar sua campanha direitista, criando um movimento paralelo à Frente Brasil Popular para dividir a luta contra o golpe de 2016 e o governo Bolsonaro, cedendo às ruas ao bolsonarismo durante o movimento “Fora Bolsonaro” e finalmente, chantageando o PT para que o partido se anulasse na principal cidade do País, tal como fez no Rio de Janeiro e em outras cidades. Como candidato, Boulos já tratou de renegar suas ligações com o movimento social que usou como trampolim para sua carreira política, o MTST, dizendo “não ser mais líder de movimento social, mas deputado federal”, defendeu o chamado “equilíbrio fiscal” (que pode ser traduzido em cortar gastos sociais para aumentar a fatia dos banqueiros parasitas) e dedica-se sistematicamente a atacar a Venezuela, o principal centro de contestação ao imperialismo na América do Sul.
Muito mais do que a máscara esquerdista utilizada, Boulos se posiciona da maneira desejada pela classe social que com a outra mão, impulsiona o bolsonarismo e Pablo Marçal. Seria preciso demonstrar qual a diferença fundamental entre eles, muito mais do que as perfumarias e divergências morais menores, sem relevância para o atendimento dos interesses do setor mais poderoso da classe dominante.
“A luta central da esquerda é contra o bolsonarismo, que tem duas candidaturas, a de Nunes e a de Marçal. Mas elas não são iguais. Enquanto Nunes tem a seu favor a máquina da prefeitura, um enorme tempo de TV, o acordo com 12 partidos e o apoio formal de Tarcísio e Bolsonaro, Marçal conta com um movimento reacionário mobilizado e com uma influência massas em base a ideias ultra-neoliberais. Os dois representam, como afirma a campanha de Boulos, duas faces da mesma moeda. Mas não podemos ter dúvida de que Pablo Marçal é a expressão mais perigosa do bolsonarismo nessas eleições, na medida em que encarna uma alternativa diretamente neofascista. Em outras palavras, Marçal é o candidato fascista ‘puro sangue’, enquanto Nunes é o nome da aliança do centrão com o PL de Bolsonaro e Tarcísio.”
Ao estabelecer o enfrentamento contra o “bolsonarismo” como “a luta central da esquerda”, Esquerda Online demonstra a origem da leitura totalmente desorientada e pior, desorientadora. A esquerda não deve combater as manifestações da crise da dominação burguesa, mas a burguesia. Defendendo um candidato tão comprometido com o setor mais poderoso e perigoso da burguesia, a ala imperialista, o órgão se veria em uma situação estranha caso se posicionasse de maneira diferente. A profundida do debate precisa ser suprimida para o golpe do “Boulos esquerdista e inimigo da extrema direita” faça sentido.
O que a esquerda realmente deve combater é a classe dominante e seus instrumentos, Boulos entre eles. É a derrota da burguesia, finalmente, o que vai criar condições para que o fantasma do fascismo seja realmente derrotado. Chamar voto em alguém do imperialismo para combater os filhos do imperialismo não faz sentido e tampouco vai acontecer, sendo mais provável o oposto, que tal como ocorre no Chile de Gabriel Boric, o fascismo se fortaleça com a aplicação da política do psolista.