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Futebol

Vini Jr. e Daniel Alves, o antirracismo de Schroedinger

A esquerda pequeno-burguesa caiu no golpe identitário da imprensa duas vezes, em ambos os casos, apoiando a monarquia de Felipe VI da Espanha

O caso de racismo contra Vini Jr. se tornou uma ferramenta do imperialismo para manobrar a sua política identitária. O jogador sofre por ser um brasileiro jogando na Espanha e também por ser negro. Algo que aconteceu com muitos outros como Neymar e Daniel Alves. Estes dois, no entanto, não são considerados como vítimas de racismo pela imprensa burguesa e, por isso, também não são defendidos pela esquerda.

No caso de Vini Jr. o portal A Verdade, ligado à Unidade Popular (UP), publicou um artigo intitulado Racistas que atacaram Vini Jr. são condenados na Espanha. Ele segue a linha identitária de usar a punição como forma de se combater o racismo, uma grande inovação do identitarismo: os oprimidos serão libertos pela ação repressora do Estado burguês. Se nem Vini Jr., que é prestigiado e rico, consegue escapar do racismo, quem dirá a esmagadora maioria dos imigrantes na Espanha.

O texto começa: “Vini Jr. é alvo principal de ataques racistas organizados por grupos fascistas de torcedores espanhóis dentro de estádios. Desde o ano passado, o jogador brasileiro vem se destacando no enfrentamento a estes ataques”. Colocado dessa forma, até aparenta que há uma milícia de camisas negras que está a espera dos jogadores negros para agredi-los. Na realidade, são espanhóis tão racistas quanto a monarquia, a punição, no entanto, só chega nos pobres.

O artigo segue afirmando que algumas pessoas foram condenadas por racismo. Em suas palavras: “esta condenação, entretanto, não marca um ponto final na luta contra o racismo no futebol, visto que o próprio Vinícius Júnior e diversos outros jogadores de origem latino-americana, asiática, africana e árabe sofrem o racismo escancarado nos estádios europeus dentro e fora de campo”. De fato, ela não terminará a luta contra o racismo até porque não representa nenhum avanço ára a luta contra o racismo.

As causa do racismo devem ser combatidas, assim como de qualquer questão social, para que ele tenha um fim. No caso da Espanha, e de toda a Europa, é a questão da opressão dos imigrantes. Na Espanha, o setor que mais sofre com a repressão do Estado são os próprios imigrantes, ou seja, ao se fortalecer o aparato de repressão no geral, isso apenas irá piorar a situação dos imigrantes na Espanha, isto é, irá piorar o racismo no país.

Ele segue: “não há dúvidas de que no atual momento político em que diversos países ao redor do mundo sofrem a ofensiva do fascismo, apoiado em sua ideologia racista e xenofóbica que cresce através de grupos supremacistas, fazendo com que essas ideias se estendam para o esporte”. Aqui, o artigo afirma que a extrema direita seria responsável pelo racismo na Europa, algo que pode ser verdade, mas certamente não é a causa. Afinal, o racismo europeu existe desde muito antes do surgimento da extrema direita. Na Espanha, inclusive, há um governo de esquerda, e isso não influi nos casos de racismo. Até porque esse governo não está sendo um grande aliado dos imigrantes.

O identitarismo chega no ápice: “desta forma, a condenação que ocorre na Espanha representa uma abertura para o avanço da luta antirracista ao redor do mundo. Não é para menos, o futebol é uma paixão para pessoas em todo planeta e é o esporte mais praticado em diversos países, incluindo o Brasil, onde essa paixão movimenta especialmente a juventude negra das favelas e bairros pobres”. Aqui está o cerne da questão. O autor considera que uma condenação do judiciário da Espanha avança uma luta. Essa é uma tese da política burguesa, ou seja, que não libertará ninguém.

O movimento operário tradicionalmente sabe que as conquistas são feitas por meio da luta. Não é o Judiciário que irá ser um aliado dos oprimidos. No quesito do racismo, isso é ainda mais absurdo. Isso porque é o aparato de repressão do Estado o maior inimigo dos negros no mundo inteiro. E isso leva essa polêmica a levantar outra polêmica, o caso Daniel Alves. Outro jogador brasileiro negro foi condenado pela Espanha e preso de forma preventiva em um claro ataque racista.

Fosse um membro da burguesia espanhola, nunca teria passado tanto tempo em prisão preventiva sem ser julgado. Já o brasileiro, mesmo que jogador e rico, sofreu com os abusos do Judiciário. Imagine os marroquinos que trabalham nas fábricas e nas lavouras. O caso Daniel Alves é ignorado como um aumento da opressão dos imigrantes, mas o caso Vini Jr. é exaltado, pois aparece na imprensa burguesa. A esquerda pequeno-burguesa mais uma vez cai no golpe identitário.

O texto termina: “por isso é fundamental que o conjunto dos movimentos negros utilizem esse importante momento para avançar a consciência racial do nosso povo. Podemos mostrar à população negra que sentiu na posição de Vini uma voz, que o racismo tem raízes muito mais profundas. A condenação individual de alguns racistas é apenas um passo. Na realidade, para acabar com a ideologia do racismo precisaremos juntar todos os oprimidos para lutar, juntos, contra a estrutura do sistema capitalista racista”.

Aqui há também um aceno para o “movimento negro” identitário. O momento é definido pelo governo da Espanha e pela imprensa burguesa. Ele exalta o combate ao racismo de Vini Jr., mas, na verdade, o que está exaltando é o Judiciário da Espanha. Vini Jr., bem como todos os outros jogadores brasileiros, combatem muito mais o racismo ao serem os melhores do mundo. A maior expressão disso foi o Rei Pelé, o homem mais popular do mundo, um negro brasileiro que será eternamente lembrado. Daniel Alves, Vini Jr. e Neymar, nesse sentido, todos combatem o racismo da mesma forma, indireta, mas importante.

O governo da Espanha, por sua vez, bem como todos os governos imperialistas identitários, são os grandes inimigos dos negros no mundo inteiro. A esquerda que cai nesse golpe fortalece os maiores inimigos dos oprimidos do mundo inteiro.

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