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Brasil

Vão prender Bolsonaro?

Imprensa golpista baixa o tom de estímulo às ações judiciais contra Bolsonaro, militares se mostram incomodados com a situação

Diante da euforia de setores da esquerda com a perseguição imposta pelos setores mais importantes da burguesia a Bolsonaro, os principais jornais da burguesia no Brasil publicaram editoriais ou matérias de opinião abordando os desdobramentos das recentes ações da Polícia Federal. As publicações procuraram elogiar os militares que teriam se oposto ao suposto golpe que ocorreriam em 8 de janeiro de 2023. Ao mesmo tempo, manifestaram a preocupação da burguesia com a possibilidade de entregarem o controle do regime político aos militares. Cada um ao seu estilo, os veículos da imprensa golpista mostram que a situação é mais complexa do que os eufóricos gostariam que fosse.

O Estado de S. Paulo publicou um editorial intitulado O envolvimento de militares na conspiração, no subtítulo, um resumo da posição do jornal: “não foi por falta de aviso. Bolsonaro tentou contaminar os quartéis com o vírus do golpismo e conseguiu algum apoio. Felizmente, prevaleceram o juízo e o respeito à Constituição”. O jornal dos Mesquita aponta Bolsonaro como uma espécie de maçã podre que circula entre os militares, conseguindo contaminar alguns deles. Cinicamente, o editorial diz que “ninguém pode se dizer enganado” sobre Bolsonaro, dado que seus posicionamentos eram bem conhecidos.

No entanto, o mesmo jornal desempenhou papel central na campanha golpista que derrubou o governo reeleito de Dilma Rousseff e nos desdobramentos do golpe, como a prisão ilegal de Lula e a própria eleição de Bolsonaro. O edital conclui celebrando que “prevaleceu o respeito à Constituição”, defendendo a punição “exemplar” dos militares envolvidos e ponderando sobre a importância de que as Forças Armadas atuem dentro dos limites estabelecidos pelo “Estado Democrático de Direito”.

O Globo, dos Marinho, publicou uma coluna de opinião de Carlos Sandenberg chamada Um baita equívoco. Ela começa com uma anedota sobre o medo do comunismo manifestado por bolsonaristas. O colunista então passa a explicar da sua maneira por que o Brasil não teria se tornado comunista com o PT. Sendo o principal exemplo o fato de que “houve grossa corrupção no Brasil”, mas ela “foi apanhada, e todos ficaram sabendo porque não tem ditadura por aqui, e a imprensa livre contou e conta tudo”. O exemplo contrário seria “o regime de Maduro” na Venezuela.

O besteirol continua com a afirmação de que o “golpe bolsonarista” seria “impossível” por conta do nível de incompetência dos envolvidos. Simples assim. Segundo a análise do colunista, Bolsonaro ficou esperando seus apoiadores no comando militar e eles ficaram esperando por Bolsonaro. O golpe não teria acontecido por essa mistura de incompetência com desencontro. No entanto, aparece novamente a figura dos chefes militares que salvaram a democracia, sua recusa ao golpe “foi essencial para que a coisa não avançasse”.

A Folha de S. Paulo, por sua vez, publicou o editorial Que se faça Justiça, não vingança. Tratando como inevitável que Bolsonaro e integrantes do alto escalão do seu governo terão que “prestar contas à Justiça”, o jornal manifesta a preocupação para que tudo ocorra “num quadro que precisará ser justo e regular, com amplo direito de defesa e o devido processo legal”. Novamente, temos a oportunidade de ver o quão flexíveis são os valores da imprensa burguesa, dependendo, é claro, dos interesses em disputa.

O jornal dos Frias expõe de forma mais nítida o receio com possíveis reações dos militares às investigações: “seria precipitado e impróprio, nesta fase dos desdobramentos, concluir que o ex-presidente e os outros investigados incidiram nesses delitos”. O editorial vai além e pede pelo fim das “heterodoxias” nas investigações, apontando Alexandre de Moraes como “condutor anômalo do inquérito”. Por fim, faz um chamado para que os rituais jurídicos sejam cumpridos devidamente pela PGR na acusação e pelo STF, que atuaria como árbitro imparcial, “ouvindo com equidistância os argumentos de acusação e defesa”.

Essa preocupação se manifesta ao mesmo tempo em que o ex-vice Presidente, o general Hamilton Mourão, vem a público protestar contra a condução das investigações: “se as pessoas responsáveis e sérias não se reunirem para avaliar, diagnosticar e denunciar o que está acontecendo, não tenho a mínima dúvida que estamos nos encaminhando para a implantação de um regime autoritário de fato no País”. De fato, o Judiciário vem lançando mão de expedientes autoritários, como já havia feito com o próprio Lula e com a conivência e apoio de toda a direita.

Mourão foi além e fez uma espécie de convocação para os militares diante da atual operação da Polícia Federal: “no caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem os seus integrantes ao largo da Justiça Militar”. Partindo de uma figura com poder e influência real nas Forças Armadas, as falas de Mourão aparecem como um aviso à burguesia brasileira para que reduzam a intensidade das ações e mantenham a situação dos militares confortável no regime político.

As declarações e artigos apresentados aqui mostram que, ao que tudo indica, a burguesia está tentando ser mais cuidados em sua perseguição a Bolsonaro. Seja pelo problema dos militares, que, como visto, preocupa a imprensa burguesa, seja pelo fato de que, se Bolsonaro for preso agora, com um processo tão arbitrário quanto o atual, as chances de que sua popularidade aumente são gigantescas. Nesse sentido, o ex-presidente se tornaria uma espécie de Donald Trump, outra preocupação do imperialismo.

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