Três valas comuns descobertas no interior do Complexo Médico Nasser, localizado em Khan Younis (sul da Faixa de Gaza), revelaram mais de 300 corpos desde a expulsão das forças israelenses do local, em 7 de abril. Entre os cadáveres, encontram-se velhos, mulheres e crianças, entre pacientes e profissionais de saúde, conforme informações de Hani Mahmoud, correspondente da rede de TV Al Jazeera, do Catar. Os corpos encontrados no hospital Nasser somam-se aos de al-Shifa, totalizando 392 cadáveres localizados em valas comuns, uma monstruosidade pela quantidade, mas que fica ainda pior pelos detalhes.
Segundo Mohammed Mughier, funcionário da Defesa Civil do governo de Gaza, “dez dos corpos foram encontrados com as mãos amarradas, enquanto outros ainda tinham tubos médicos ligados a eles, indicando que podem ter sido enterrados vivos”, disse Mughier, que acrescenta: “precisamos de exames forenses para aproximadamente 20 corpos de pessoas que achamos que foram enterradas vivas”.
Yamen Abu Sulaiman, chefe da Defesa Civil, disse que três valas comuns separadas foram encontradas no hospital. Apesar de quase 400 corpos terem sido encontrados até o último dia 25, apenas 65 puderam ser identificados. Isso devido ao estágio de decomposição dos corpos, aliado também às mutilações, torturas ou outras dificuldades, disse ele, acrescentando que os corpos estavam “empilhados” e mostravam indícios de execuções em campo.
O horror indescritível da situação fez Mughier, questionar: “por que temos crianças em valas comuns?” Segundo o funcionário da Defesa Civil, a selvageria dos soldados sionistas são “crimes contra a humanidade”.
Em uma coletiva de imprensa no sul de Rafá na quinta-feira (25), Sulaiman pediu aos países do mundo que defendam “pôr um fim imediato a essa agressão contra nosso povo”, bem como para que as organizações humanitárias e passagem à imprensa internacional para poder entrar em Gaza e “examinar esses crimes”.
Segundo Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, as vítimas “foram enterradas profundamente no solo e cobertas com lixo”. O Exército de “Israel” defende-se alegando que tropas sionistas desenterraram os corpos para garantir que não havia reféns entre eles e os enterraram novamente. Trata-se do mais puro cinismo.
Segundo a jornalista de Al Jazeera Hamdah Salhut, os invasores sionistas “disseram ter informações de que havia prisioneiros enterrados lá (Hospital Nasser) e que fizeram isso de maneira direcionada e precisa, com dignidade e respeito”, mas contrapõe a versão israelense: “o que temos visto nas imagens em campo e o que ouvimos dos palestinos, é uma história completamente diferente.”
O escândalo provocado pela descoberta dos cadáveres, a existência de mulheres e crianças entre eles, os sinais de torturas e outras barbaridades como os corpos algemados entre os descobertos (sem esquecera quantidade descoberta até o momento) fez com que o porta-voz da Secretaria-Geral Organização das Nações Unidas (ONU), Stéphane Dujarric, pedisse “uma investigação clara, transparente e confiável” sobre as valas comuns. A declaração foi proferida no último dia 23, em entrevista coletiva.
Volker Turk, chefe de direitos humanos da ONU, pediu uma “investigação independente, eficaz e transparente” sobre as mortes. “Os hospitais”, disse, “têm direito a uma proteção muito especial conforme a lei humanitária internacional, e a morte intencional de civis, detentos e outros que estão fora de combate é um crime de guerra”.
Já o norte-americano Jake Sullivan, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, pediu “que isso [as mortes nas valas comuns] seja investigado de forma completa e transparente”, disse. Antes que alguém se enganasse, a jornalista Heidi Zhou-Castro, da Al Jazeera, destacou que Sullivan não solicitou uma investigação “independente”, o que significa que o governo da principal potência imperialista ficaria satisfeito com um simulacro de investigação conduzida por “Israel”.
“Essa é a principal diferença entre o pedido dos EUA de uma investigação sobre as valas comuns em comparação com o de outros líderes mundiais e do Alto Comissariado da ONU [para os direitos humanos]”, disse ela.
Zhou-Castro lembrou ainda o recente pacote aprovado no Congresso norte-americano para destinar dezenas de bilhões de dólares à ditadura sionista, sem outro objetivo exceto manter o massacre do povo palestino, o que tem muito mais significado concreto do que declarações demagogas feitas pelo governo norte-americano. “No que diz respeito à ação”, lembrou a jornalista, “só há ação em apoio a Israel.”
Esse apoio, torna o imperialismo tão ou mais responsável por todas as monstruosidades sofridas pelo povo palestino. Sem os governos norte-americano e europeus, “Israel” sequer teria condições de existir, nem mencionar todos os crimes cometidos em mais de 100 anos de invasão sionista da Palestina.