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São Paulo

Tarcísio quer dar mais poderes à PM que fez chacina em Santos

O governador do estado, Tarcísio de Freitas, visitou Netaniahu em março de 2024, é difícil saber quem deu aula para quem no quesito repressão e fascismo

Em São Paulo, o governo Tarcísio de Freitas prepara a PM para se tornar um esquadrão da morte ainda mais fascista. Ele colocou o subcomandante da PM, coronel José Augusto Coutinho, número dois da corporação e ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), para implementar o “Termo Circunstanciado Policial Militar (TC/PM)”. Isto é, um pacote que aumenta os poderes da PM, lhes dando mais capacidade de “investigação”.

Na prática, já é isso que acontece, pois a polícia, desrespeitando todas as leis, invade as casas de trabalhadores das periferias, favelas e assentamentos de todo o estado de São Paulo e do Brasil. Mas legalizar isso deixará a situação ainda pior. Vale relembrar o que já foi feito sob o atual governo Tarcísio de Freitas: a chacina do Guarujá e, agora, a chacina da Baixada Santista. A Operação Verão já foi a segunda maior chacina da história de São Paulo, perdendo apenas para o Carandiru.

O maior massacre em 30 anos

Em 2 de outubro de 1992, a Polícia Militar do estado de São Paulo realizou uma das maiores monstruosidades em toda a história do Brasil. A PM adentrou a Casa de Detenção de São Paulo, o presídio do Carandiru, e assassinou a sangue-frio mais de 100 prisioneiros. As famílias afirmam que o número real de mortos na chacina ultrapassa 250. O evento é uma mancha tão grande no currículo da polícia que 10 anos depois, o próprio presídio foi demolido.

O massacre foi comandado pelo Coronel Ubiratan Guimarães, uma espécie de personificação da Ditadura Militar em forma de PM. Ele iniciou sua carreira como oficial em março de 1964, três semanas antes do golpe. O Carandiru é a expressão máxima da política nazista dos esquadrões da morte. Para a ditadura, o trabalhador não era um ser humano completo, quem melhor expressa isso atualmente é o governo Netaniahu. O tratamento com os palestinos é muito semelhante. Se era e é assim em tempos de “paz” no Brasil, imagine em tempos de guerra.

Quando começou a ditadura do PSDB em São Paulo, se iniciou, também, a repressão de estilo “democrática”, isto é, do Partido Democrata dos EUA. As mortes aconteciam em quantidades semelhantes, mas aparentavam não ser tão horrendas quando o Carandiru, pois o massacre não era unificado. Mas o bolsonarismo, um movimento saudosista da Ditadura Militar, parece ter revivido o modelo antigo. No Rio de Janeiro, o primeiro governador abertamente bolsonarista, Cláudio Castro, tem como “conquista” o maior número de chacinas por ano, cerca de uma a cada dois meses.

Já em São Paulo, o bolsonarismo só assumiu o governo em 2023, mas não deixou a desejar no quesito massacres da PM. A primeira vítima foi a Baixada Santista. Começou com a chacina do Guarujá no mesmo ano que assumiu o cargo. A ROTA, supostamente se vingando da morte de um de seus soldados, assassinou ao menos 28 pessoas. E ainda mais impressionante, a justificativa pública foi justamente a vingança. É uma demonstração que na PM não reina nenhuma lei, apenas a barbárie do imperialismo.

No ano seguinte, 2024, a Baixada Santista seria mais uma vez a vítima. A operação de extermínio agora foi renomeada, Operação Verão, ela seria ainda mais mortal, com ao menos 56 assassinados. Em pouco mais de um ano de governo, Tarcísio de Freitas atingiu o marco de segunda maior chacina do estado, perdendo apenas para o Carandiru. Esse é o bolsonarismo em ação. Com toda a demagogia e retórica de liberdade, a realidade é o fascismo mais violento, de tipo sionista. O próprio Tarcísio esteve em “Israel” para elogiar a política de Netaniahu de assassinar mais de 10 mil crianças em poucos meses.

O que foi a Operação Verão

A Operação Verão foi supostamente uma resposta do governo de São Paulo ao assassinato de três policiais. Ao seu fim, a justificativa do secretário de Segurança do estado, Guilherme Derrite, era outra: “asfixiar financeiramente o crime organizado”. O secretário, que tem que aparentar um pouco menos nazista, em suas declarações de imprensa, colocou toda a culpa na organização PCC. Está aí o sionismo. Afirme que um grupo é o demônio na Terra, agora você tem carta-branca para assassinar qualquer um com a justificativa de combate ao demônio. Como diz a letra de “Diário de um Detento”, Adolf Hitler sorri no inferno.

De acordo com Derrite, a PM conseguiu causar prejuízo ao PCC ao apreender 2,6 toneladas de drogas e 119 armas de fogo. Alguns pesquisadores, ao serem questionados sobre esses números, afirmaram que essa apreensão representa menos de 1% da movimentação anual do PCC. Tirando o fato de que mesmo que fossem 100% da arrecadação do PCC não haveria justificativa pra uma chacina, os números reais deixam tudo ainda mais absurdo.

Além disso, todos sabem que o PCC se sustenta por dentro do governo de São Paulo. Para por um fim a essa organização, seria necessário desmantelar sua estrutura de poder que envolve prefeituras, membros do governo do estado, juízes etc. Matar pessoas nas favelas alegando que combaterá o crime é tão absurdo quanto matar trabalhadores bancários alegando que isso seria um combate ao domínio dos banqueiros sobre a economia. No quesito policial, a operação possível seria agir na fronteira, mas no Brasil, são mais de oito mil quilômetros de fronteiras, é quase impossível atuar desta forma.

O combate ao crime na prática

A última vítima do esquadrão da morte foi a cabeleireira Edneia Fernandes Silva, de 31 anos e mãe de seis filhos. Ela foi assassinada ao ser atingida por um tiro na cabeça na tarde de 27 de março, em Santos. Segundo a PM, ela foi baleada ao ser atingida em meio a uma troca de tiros entre agentes e “suspeitos” em fuga. Uma testemunha, porém, disse ter visto só um PM atirando: “eu vi muito nítido o policial atirando. Quando eu olhei, a Edneia estava caída em cima da mesa. Quando coloquei a mão nela, o sangue escorreu pelo meu braço. Pedi ajuda, mas nenhum dos policiais prestou socorro”.

Outro assassinado, Hildebrando Simão Neto, tinha apenas 20% da visão em um dos olhos e estava no quarto de casa quando a PM entrou no local atirando no dia 7 de fevereiro, em São Vicente. Qual motivo deu para executá-lo? Ele estaria armado e tinha um fuzil embaixo da cama. “O meu filho estava sempre com os dedos dos pés machucados, de tanto tropeçar. Como estaria armado se ele não consegue enxergar?“, questiona a mãe de Hildebrando, que preferiu não dar o nome.

Ela descreveu como foi o especializado combate ao crime da polícia. Minutos depois de retornar do trabalho, a mãe de Hildebrando se preparava para servir um café com pão aos filhos na cozinha quando foi surpreendida por um grupo de ao menos cinco PMs da Rota. Com os agentes na sala, tentou acalmar os ânimos dizendo que ali era casa de família. Sob a mira de fuzis, ouviu de um deles a pergunta: “só quero saber quem está na casa?“. Ao serem informados que o filho mais velho dela estava em um cômodo nos fundos, os policias foram até ele.

A mãe chegou a gritar, dizendo que Hildebrando tinha deficiência visual. Mas os policiais seguiram em frente. Em seguida, escutou o primeiro tiro. Ao todo, foram cinco disparos de fuzil dados à queima-roupa por dois policiais, segundo o boletim de ocorrência. Hildebrando teve a morte constatada pelos médicos no dia seguinte. Ele deixou um filho de quatro e uma filha de três anos. A mãe ainda relatou: “meus netinhos perguntam: ‘vó, cadê o papai? Eu falo que o papai tá no céu, que virou estrelinha. Aí, eles perguntam: ‘vó, por que o papai não nos levou com ele?’”.

Os assassinatos foram todos desde tipo. Dois dias depois, a vítima foi Leonel Andrade Santos, que usava muletas por um problema em uma das pernas. Os PMs alegaram que ele os atacou com armas de fogo. Beatriz da Silva Rosa relata: “meu marido não tinha arma. Era pai de família, que costumava levar as crianças para a escola. Os policiais mentiram. Ele nem teria como segurar as muletas e um revólver ao mesmo tempo. Era para a polícia proteger a gente. Mas o que vamos fazer se eles vêm para matar?”.

A PM é conhecida por disparar contra trabalhadores que têm qualquer objeto nas mãos e depois alegar que estavam armados. No Rio de Janeiro, há dois casos famosos: o do trabalhador que estava andando com uma furadeira e que foi acusado de ter uma pistola; e outro que andava com um guarda-chuva longo e que foi acusa de ter um fuzil. Esse é o resultado da política de legalizar a pena de morte e tornar o PM um promotor e um juiz, além de policial. Ele ganha o direito de assassinar qualquer um com base nesse tipo de “prova”.

O serviço de ‘inteligência’ da PM 

O argumento da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de troca de tiros com suspeitos foi o mesmo utilizado para justificar todos os assassinatos na operação. Na verdade, as vítima seriam os PMs, que estavam apenas se defendendo. A prova infalível disso é o que os PMs afirmaram. Lembra um certo Estado de “Israel”?

Claudio Silva, ouvidor das polícias de SP, afirmou: “os boletins de ocorrência são um ‘copia e cola’, que seguem o mesmo roteiro. Há uma série de elementos que nos leva a crer que não têm ocorrido confrontos. Como há confronto se apenas um lado atira?”.

Outra prática recorrente é que os assassinados pela PM tinham seus corpos movidos. A justificativa seria a de que estariam sendo levados para o hospital, mas morreram no caminho. Ou seja, é impossível fazer uma investigação, pois a PM esconde as provas de seus crimes. Com uma justificativa humanitária, é claro, ajudar as pessoas baleadas em meio a troca de tiros – a PM, afinal, é uma organização humanitária.

A PM também chegou a uma conclusão nada suspeita. Houve apenas um erro em todas os 56 assassinatos. A Secretaria da Segurança Pública afirmou que todos os casos foram rigorosamente investigados e que todas as vítimas da polícia estavam armadas, com exceção de uma mãe assassinada em Santos. Há pouco tempo, foi aprovada uma lei que obriga o uso de câmeras corporais pelos policiais, mas nenhum dos registros das mortes cita o uso de câmeras corporais dos agentes.

Bolsonarismo e sionismo

Tarcísio de Freitas, questionado sobre a chacina, afirmou: “e aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não tô nem aí“. Mais uma vez, a política do governador de São Paulo remete exatamente à mesma do sionismo. Não que a ONU tenha  grande legitimidade, mas impressiona quanto o comportamento é igual ao do governo de “Israel”, de desprezar a vida da população.

A Operação Verão na realidade mostra por que a extrema direita tem tanta admiração pelo Estado de “Israel”. É de fato um modelo para a polícia, o judiciário e os governos bolsonaristas. A Faixa de Gaza seria o ideal, mas, enquanto a crise não é grande o suficiente para isso, eles seguem o modelo alternativo, o da Cisjordânia ocupada.

O Hamas surgiu na Palestina como reação a essa política. E apesar do que dizem os direitistas, é um movimento extremamente pacífico. Uma versão brasileira do Hamas não será tão humanitária quanto os companheiros árabes. São Paulo e o Rio de Janeiro, nesse sentido, não são a Faixa de Gaza. Fato é que tal monstruosidade que é a Polícia Militar, e a totalidade do aparato de repressão brasileiro, estão fadados a acabar, por bem ou por mal.

Finalmente, quem semeia vento, colhe dilúvios.

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