O Setembro Negro foi um dos eventos mais violentos na história da luta do povo palestino. Os guerrilheiros palestinos, que se organizavam na Jordânia liderados por Iasser Arafat, foram brutalmente reprimidos pelo reino de Hussein I a mando do imperialismo. Estima-se que 10 mil palestinos foram assassinados no processo. Após o mês de setembro de 1970 o imperialismo e o governo da Jordânia garantiram que todos os guerrilheiros palestinos fossem expulsos do país. Um texto do Partido Comunista da China denuncia esse processo.
O artigo do Peking Review de 1971 destaca que: “uma campanha de repressão armada em larga escala está em andamento desde 8 de janeiro. Tanques e artilharia pesada foram usados pelas tropas jordanianas chamadas para realizar o trabalho. Era a esperança dos imperialistas dos EUA e dos reacionários jordanianos liquidar a revolução palestina com um único golpe.”
Ele recorda a participação dos norte-americanos no Setembro Negro: “o secretário adjunto de Defesa dos EUA, David Packard, declarou abertamente, já em 25 de setembro do ano passado, que os Estados Unidos pretendiam compensar as armas perdidas pelas forças reacionárias jordanianas em ação contra os guerrilheiros. Ele disse que a ‘capacidade militar contínua’ dos reacionários jordanianos deveria ser garantida. O chefe imperialista dos EUA, Nixon, indicou no dia seguinte que os Estados Unidos ‘ assumiriam essa responsabilidade para compensar as perdas sofridas pelos jordanianos na luta recente’. Para dar um impulso aos reacionários jordanianos, ele autorizou a apropriação de cinco milhões de dólares para esses fantoches. Aviões, tanques, peças de campo e munição dos EUA foram enviados para a Jordânia em um fluxo constante desde o final de setembro”.
Após o grande massacre, o principal dirigente palestino, Arafat, já previa que haveria uma nova investida para expulsar todos os palestinos. O texto destaca que: “em 18 de novembro de 1970, Nixon pediu ao Congresso dos EUA para fornecer aos reacionários jordanianos 30 milhões de dólares. Ele elogiou as autoridades jordanianas por sua ‘determinação e capacidade’ de liquidar os guerrilheiros palestinos “que se opõem a um acordo de paz.” Durante suas reuniões a portas fechadas com Nixon em sua visita de dezembro aos Estados Unidos, o rei Hussein da Jordânia pediu ao presidente dos EUA 200 milhões de dólares em ‘ajuda militar’”.
Ou seja, logo após a gigantesca repressão de setembro o rei jordaniano foi pessoalmente aos EUA ganhar a sua recompensa. Muito se fala do acordo do Egito com “Israel” em 1979, mas essa aliança da Jordânia com o imperialismo foi uma traição ainda maior do que a dos egípcios 8 anos depois.
O texto relata sobre a viagem: “o governo dos EUA prometeu fornecer às autoridades jordanianas 110 carros blindados leves, 45 tanques Patton e 18 interceptores Starfighter. Além dos dólares e armas dos EUA, o imperialismo dos EUA enviou um grande número de conselheiros militares, especialistas e oficiais para a Jordânia para participar diretamente na preparação do terreno para suprimir os guerrilheiros palestinos. No massacre de setembro passado, uma unidade de comando dos EUA dirigiu operações em Amã”.
Arafat, já havia denunciado que as violações dos acordos de cessar-fogo entre os guerrilheiros palestinos e o governo jordaniano foram “realizadas com a ajuda real e direta do embaixador norte-americano (em Amã), conselheiros militares norte-americanos e civis norte-americanos. Temos provas de que aqueles que estavam no comando operacional (na Jordânia) eram especialistas norte-americanos. Eles ainda estão lá”.
Segundo o texto ainda “o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, John King, foi obrigado a admitir em sua coletiva de imprensa de 12 de janeiro que, em relação aos combates na Jordânia, ‘temos informações. Estamos, claro, em contato com as autoridades jordanianas’. Mas quando um jornalista lhe perguntou se as autoridades jordanianas ‘começaram um novo esforço para acabar com os guerrilheiros’, ele hesitou, tentando esconder o que já havia revelado sem querer”.
O texto conclui da mesma forma que poderia ser conclui hoje, com a diferença que agora o Hamas está vencendo a guerra: “o imperialismo dos EUA deve pagar na mesma moeda a dívida de sangue que contraiu ao instigar os reacionários jordanianos a massacrar o povo palestino. Os guerrilheiros palestinos estão hoje lutando bravamente em autodefesa para esmagar as tentativas criminosas do imperialismo dos EUA e seus lacaios de acabar com a revolução palestina. O povo árabe, incluindo o povo jordaniano, compartilha um intenso ódio pelo inimigo. Eles têm condenado ferozmente o imperialismo dos EUA e os reacionários jordanianos por seu crime na supressão dos guerrilheiros palestinos”.
Um último aspecto que é relevante é que toda a participação do imperialismo na repressão do reino da Jordânia aos palestinos já era escancarada. Até mesmo o Partido Comunista da China já estava ciente do que estava acontecendo. A visita do rei Hussein I a Washington também não poderia ser menos discreta. Ele basicamente escancarou ao mundo que é um ‘office boy’ do imperialismo. E seu filho Abdula II, o atual rei da Jordânia, é ainda pior.