Na segunda-feira (6), o Hamas colocou o Estado de “Israel” em xeque. Após meses de discussões de cessar-fogo, o Hamas consegui fazer os Estados Unidos recuarem e assim aceitarem uma proposta favorável aos palestinos. “Israel” então precisaria decidir se aceitaria a derrota ou dobraria a aposta de forma perigosa. Benjamin Netaniahu escolheu a segunda. A operação em Rafá começou no dia seguinte, uma invasão tão truncada que até o governo dos EUA suspendeu o envio de armas a “Israel”. Agora o Hamas e os demais grupos da resistência palestina mais uma vez lutam contra a operação israelense em Gaza.
O primeiro alvo do exército sionista foi a passagem de Rafá. A principal entrada de ajuda humanitária, combustível e qualquer tipo de suprimento e também a única saída de palestinos feridos foi fechada logo no início da invasão. Na sexta-feira (10), tanques israelenses capturaram a principal estrada entre as partes oriental e ocidental de Rafá, cercando assim toda a parte oriental da cidade.
O avanço do exército de ocupação até a estrada Salahudin completou o cerco da zona vermelha, uma área onde o exército ordenou uma evacuação. O Hamas atacou tanques israelenses perto de uma mesquita no leste de Rafá. Abu Hassan, um palestino entrevistado pela Reuters, afirmou: “não é seguro, toda Rafá não é segura, pois os projéteis de tanque têm caído por toda parte, desde ontem”.
Mas a operação militar está tendo grandes impactos políticos negativos para “Israel”. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou com todas as letras que a invasão de Rafá não conseguiria derrotar o Hamas. O presidente Biden afirmou, na quarta-feira (8), que os israelenses “não entraram nos centros populacionais. O que fizeram foi na fronteira. Deixei claro que, se entrarem em Rafá não irei fornecer as armas que foram historicamente usadas para lidar com Rafá, para lidar com as cidades – para lidar com esse problema”.
E parece que os EUA dessa vez cumpriram sua palavra. O embargo de armas foi recebido como se fosse um grande escândalo pelo governo de “Israel”. Nunca nos últimos 60 anos isso havia acontecido. Pelo contrário, os EUA proviam “Israel” com cada vez mais armas. O Hamas chamou isso, em conjunto a postura diferenciada entre os EUA e “Israel” em relação ao cessar-fogo, como o início de um “desacordo superficial” entre ambos. Ou seja, a invasão de Rafá está separando ainda mais “Israel” do seu principal aliado, e, em última instância, quem de fato dá as ordens, o governo dos EUA.
Por que ‘Israel’ invadiu Rafá?
Diante do xeque imposto pelo Hamas com o acordo de cessar-fogo, “Israel” tinha que tomar uma iniciativa. O problema é que, depois de sete meses de guerra, já ficou claro que os objetivos militares de “Israel” são inalcançáveis. Tanto resgatar os prisioneiros como destruir o Hamas se mostrou impossível. O outro plano de limpeza étnica na Faixa de Gaza também não parece realista. “Israel” está em uma guerra que não tem para onde avançar e, quando ela finalmente acabar, o peso da derrota política será enorme para o governo Netnaiahu. Em desespero, o governo partiu para mais uma ofensiva militar, sem um objetivo político claro que não acabar imediatamente com as discussões de cessar-fogo.
Segundo Khaled Odetelá, um professor palestino, “a entidade sionista está diante de escolhas difíceis por todos os lados. Não tem uma visão clara para a guerra, não conseguiu alcançar nenhum de seus objetivos declarados, e não há objetivos alcançáveis em Rafá”. E continua: “Netanyahu é apenas uma pequena parte do quadro. Toda a sociedade sionista está diante de uma realidade difícil – ela se construiu nos últimos anos em torno da ideia de que não havia mais ameaças externas sérias. Mesmo as divisões internas que haviam começado antes de 7 de outubro eram parte do impulso de ‘Israel’ de ter alcançado algum senso de superioridade e estabilidade, todos os quais foram despedaçados”.
No fim, a grande questão é a derrota militar. Neste momento, a guerra está desintegrando a sociedade israelense a cada dia que avança. Esta semana, cidades do norte fundaram um movimento separatista de “Israel”. No entanto, essa guerra ainda garante alguma coesão que, dada as contradições de “Israel”, se materializa na figura de Netaniahu. É ele quem consegue equilibrar as relações entre os colonos, os judeus ortodoxos, a extrema direita mais radical e o imperialismo. A derrota de “Israel” nessa guerra levará a desintegração desse governo e a uma explosão ainda maior dessas contradições. Esse é o motivo do desespero dos sionistas. A derrota agora pode ser uma questão existencial.
Todos os planos lançados pelos israelenses falham de forma muita rápida. Na sexta-feira (10), os Emirados Árabes Unidos denunciaram que estavam sendo abordados por “Israel” para governar Gaza no futuro. O ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Abdullah bin Zayed, afirmou: “os Emirados Árabes Unidos afirmam que, quando um governo palestino for formado que atenda às esperanças e aspirações do povo palestino e desfrute de integridade, competência e independência, o estado [EAU] estará totalmente preparado para fornecer todas as formas de apoio a esse governo”.
Ou seja, a invasão de Rafá foi um ato desesperado. Enquanto isso, a resistência atua de forma estratégica e calma. A dor do povo palestino é a única “conquista” de “Israel”, mas, ao mesmo tempo, é algo que joga contra o sionismo. O Hamas afirmou que quanto mais os sionistas se aventurassem em Gaza, mais afundariam nas suas areias. A operação em Rafá é mais uma demonstração de que a política do Hamas estava certa.