Carolina Iara, candidata ao cargo de vereador pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na cidade de São Paulo, decidiu lançar na Internet uma campanha mui democrática. Em vez de se preocupar com a repressão policial, que assassina milhares de pessoas pobres todos os anos no Brasil, em vez de denunciar a ditadura do Judiciário contra a liberdade de expressão dos que defendem a luta do povo palestino, a moça decidiu fazer de sua plataforma a exclusão do candidato a prefeito de São Paulo pelo Partido Renovador Trabalhista do Brasil (PRTB), Pablo Marçal.
“Às emissoras de televisão, rádio, órgãos gerais de imprensa e ao TRE SP”, começa a petição. “Como pessoas preocupadas com o a democracia brasileira e a seriedade do processo eleitoral da cidade de São Paulo (SP), solicitamos a não participação do candidato Pablo Marçal nos debates entre candidaturas para a Prefeitura da cidade”.
Isso mesmo. A justificativa para excluir um candidato de participar dos debates é a “defesa da democracia”. E qual é a “democracia” que a candidata defende? A “democracia” na qual quem escolhe os candidatos que podem concorrer em uma eleição não é o povo, mas os órgãos de imprensa do grande capital e o Judiciário tutelado pelos militares e pelo imperialismo.
O que Iara defende é que em vez de o povo ter o direito de conhecer as propostas dos candidatos e escolher aquele que representa os seus interesses, a Rede Globo o faça. Pablo Marçal é tosco? É. É de direita? Sim. Representa algo negativo para os trabalhadores? Sim. Mas quem tem que dizer isso são os próprios trabalhadores, e não o grande capital.
Ao defender a tutela da “democracia” pela grande imprensa e pelo Judiciário, a candidata do PSOL está apenas referendando a ditadura que já existe no País contra os partidos e candidatos que se opõem ao regime político. Qualquer pessoa com o mínimo de experiência política sabe que os partidos de esquerda mais ideológicos, que defendem os interesses dos trabalhadores contra os interesses dos patrões, nunca são chamados para os debates. Antes, o motivo ficava claro. Era uma questão de classe: os partidos operários, como o Partido da Causa Operária (PCO), não são bem-vindo nas emissoras dos patrões.
O PSOL, no entanto, faz um esforço para eliminar essa questão de classe e confundir ainda mais o povo trabalhador. Ao dizer que a Rede Globo tem o direito de excluir as pessoas que não são “democráticas”, a candidata está dizendo que todas as sacanagens feitas pela Família Marinho foram feitas em defesa da “democracia”.
Ninguém de esquerda poderia levar essa ideia a sério. No entanto, é até compreensível o fato de essa proposta ter nascido de uma candidatura do PSOL. O partido está tão integrado ao regime político que se sente parte dele. Na medida em que candidatos como Guilherme Boulos (PSOL) são paparicados pela Folha de S.Paulo, na medida em que recebe convites para trabalhos em institutos vinculados a organizações parceiras do Departamento de Estado norte-americano, o PSOL, ainda que não seja uma representação direta dos interesses dos capitalistas, acaba acreditando que o é. E, assim, sai na defesa do programa dos inimigos dos trabalhadores.
Fale o PSOL em “democracia” ou não, uma coisa é fato: a defesa da exclusão de qualquer candidato de um debate é a defesa escancarada da censura e da perseguição aos inimigos políticos. É a defesa da política do partido da ditadura militar, a ARENA.