Nesta segunda-feira (3), o presidente Lula realizou uma reunião de articulação com membros de sua equipe. Segundo a Folha de S.Paulo, o objetivo da reunião teria sido o de traçar uma “nova estratégia política” após a “grande derrota sofrida na semana passada no Congresso Nacional”. A grande derrota seria o fim das “saidinhas” de presos, uma medida fascista contra uma população de quase um milhão de brasileiros, “um pacote de costumes incluído por bolsonaristas na prévia do orçamento” e o veto ao dispositivo que buscava tornar crime a “comunicação enganosa em massa”.
À exceção da questão das saidinhas, que de fato representa não um problema “ideológico”, como diz a Folha, mas um problema democrático, as outras medidas não são em si questões fundamentais para o governo. E mesmo a questão das saidinhas, ainda que seja um grande crime contra a população brasileira, não era algo no qual o governo estava verdadeiramente empenhado em barrar. O que faz com que tudo seja visto como uma “grande derrota” é que as medidas revelaram a total debilidade da capacidade de articulação do governo junto ao Congresso Nacional.
Não faltarão teorias na imprensa burguesa e mesmo nos chamados blogues progressistas sobre o motivo pelo qual a extrema direita esteja tão bem articulada, mesmo com seu principal líder, Jair Bolsonaro (PL), inelegível, ao passo em que a esquerda, que ocupa a presidência da República, esteja patinando tanto. Mas fato é que as derrotas, naquilo que é mais fundamental, não se devem a uma incapacidade de negociação com a quadrilha que é o Congresso Nacional, mas sim na polarização política.
O governo Lula, por todas as contradições que possa ter, é um representante de uma política com a qual o conjunto da burguesia tem cada vez menos condições de tolerar. Ainda que Lula acene para a direita, libere emendas parlamentares e faça concessões importantes no que diz respeito à atuação do Estado, um presidente popular, apoiado pelo movimento operário, governando um país tão importante com o Brasil, vai totalmente na contramão daquilo que o imperialismo precisa hoje.
Humilhado no Afeganistão, na iminência de ser derrotado na Ucrânia e contestado em todo o mundo por seu apoio ao genocídio na Faixa de Gaza, o imperialismo está vendo a sua autoridade desmoronar. Está vendo países como Rússia, China e Irã dirigirem um amplo movimento de libertação da dominação imperialista. Caso não combate esse movimento e ponha a casa em ordem, a situação escapará completamente de controle.
É por isso que o ambiente político está cada vez mais hostil ao governo Lula. Qualquer tentativa de fazer concessões à “frente ampla” acaba se tornando um flanco aberto para sabotadores, como o caso da Petrobrás sob gestão de Jean-Paul Prates bem mostrou. A direita está cada vez menos disposta a um acordo com o governo. A burguesia quer um governo Milei, não um governo Lula no país mais importante da América do Sul.
Para Lula, não há alternativa. Ao mesmo tempo em que o imperialismo organiza uma ofensiva na América Latina, que deverá levar a outros golpes de Estado, também está sendo derrotado em outras importantes frentes. Trata-se, acima de tudo, de um momento de fraqueza dos donos do mundo. É preciso enfrentar o imperialismo nas questões mais essenciais para o governo, como na geração de emprego, na exploração do petróleo e em medidas econômicas de impacto. É preciso convocar o povo para defender nas ruas um programa de reivindicações reais.