Nessa quinta-feira (8), a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação com a finalidade de supostamente investigar uma organização acusada de “tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito”. Todos os alvos da operação são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, segundo a PF, seria o grande beneficiado do suposto golpe.
A operação, intitulada de Tempus Veritatis (a hora da verdade), foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também é o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como parte da operação, Jair Bolsonaro teve o seu passaporte apreendido. Bolsonaro também foi proibido de entrar em contato com qualquer um dos investigados no âmbito da operação.
Entre os investigados, inclusive, está Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), partido do ex-presidente. Durante as buscas realizadas em sua residência, a Polícia Federal encontrou uma arma ilegal. Valdemar acabou sendo preso em flagrante.
Segundo Fabio Wajngarten, assessor de Bolsonaro, o ex-presidente estava em sua casa em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, no momento da operação, acompanhado de um ex-assessor. Recentemente, seu filho, Carlos Bolsonaro, havia sido alvo de um mandado de busca e apreensão.
Em declaração à emissora CNN, Bolsonaro afirmou que “ninguém entende essa ‘tentativa de golpe’” e que “não se movimentou um soldado em Brasília para dar golpe em ninguém aí”. Em discurso no Senado Federal, Hamilton Mourão, general reformado, denunciou a operação como parte de uma perseguição ao ex-presidente. Segundo Mourão, haveria uma tentativa de “suprimir a oposição neste País”.
O general reformado ainda afirmou que:
“Não podemos nos omitir, nem as Forças Armadas, nem a Justiça Militar, sobre esse fenômeno de desmando desenfreado que persegue adversários e que pode acarretar instabilidade no País.”
Dentre os alvos da operação, três já haviam sido presos preventivamente até o fechamento desta edição além de Costa Neto:
- Filipe Martins, ex-assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro;
- o coronel do Exército Marcelo Câmara, ex-assessor especial da Presidência e que era investigado no caso da suposta fraude ao cartão de vacinação do ex-presidente;
- e o major do Exército Rafael Martins de Oliveira, que atuou no batalhão de Forças Especiais da corporação.
Também há um mandado de prisão contra o coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto, que está no momento no exterior.
Além dos presos, figuras que integram o “núcleo duro” do bolsonarismo também estão sendo investigadas:
- general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro em 2022;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro;
- o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa de Bolsonaro;
- e o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha.
Segundo a PF, estão sendo cumpridos ao todo 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares. Ainda conforme a Polícia Federal, o Exército acompanha o cumprimento de alguns mandados.
O presidente Lula, por sua vez, disse que:
“O que eu acho e que eu quero é que o seu Bolsonaro tenha a presunção de inocência que eu não tive. O que eu quero é que seja investigado e seja apurado. Quem tiver responsabilidade pelos seus erros, que pague seus erros”, disse Lula.
A base de toda a investigação é a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que hoje o acusa de planejar um golpe de Estado. A delação de Cid, assim como ocorria durante a Operação Lava Jato, só foi obtida pela Polícia Federal após a sua prisão.
A operação contra Bolsonaro e seus aliados se desenvolve poucos dias depois de uma crise na Agência Brasileira de Espionagem, a Abin. Na ocasião, a Polícia Federal apontou que a Abin estaria espionando desafetos do ex-presidente.