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Entrevista

PCO nos EUA: unidade contra o imperialismo

Diário Causa Operária conversou com Fábio Picchi, representante do Partido da Causa Operária no Congresso do Partido dos Comunistas dos Estados Unidos

Em março, o Partido da Causa Operária (PCO) foi convidado a participar do Congresso do Partido dos Comunistas dos Estados Unidos (PCUSA), em território norte-americano. Segundo informaram representantes do partido brasileiro a este Diário, o PCO foi convidado ao evento ainda no ano passado, após participar de uma manifestação em Nova Iorque.

Atendendo ao chamado, o PCO enviou Fábio Picchi, militante em São Paulo, para participar do Congresso. O Diário Causa Operária entrevistou Picchi que, de maneira exclusiva, nos forneceu um relato acerca de sua viagem aos Estados Unidos, contando um pouco da história do PCUSA e do que foi discutido durante o Congresso.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

Fábio Picchi, nos Estados Unidos

O que é o Congresso do Partido dos Comunistas dos Estados Unidos? Assim como os Congressos do Partido da Causa Operária (PCO), o evento tem por objetivo realizar uma ampla discussão sobre a situação política, nacional e internacional, e, finalmente, eleger a direção do Partido. Nossa participação se deu na parte aberta do Congresso, durante a discussão política.

Um aspecto interessante do Congresso é que também ocorreram congressos de outras organizações ligadas ao PCUSA, como os Amigos Norte-americanos do Povo Soviético (US Friends of Soviet People, em inglês) e a Liga dos Jovens Comunistas (League of Young Communists, em inglês) que também realizaram discussões, mais pertinentes às suas áreas de atuação específicas, e elegeram sua direção.

Que outras organizações foram representadas no Congresso? Internacionais, presencialmente, estávamos nós, representando o Partido da Causa Operária; Joti Brar, representando o Partido Comunista Britânico (Marxista-Leninista); e uma delegação de três coreanos – dos quais tive a oportunidade de conversar com apenas uma companheira, Eonsun – todos representado o Partido da Democracia Popular.

Estes partidos ocupam uma posição de liderança na Plataforma Anti-imperialista Mundial, organização da qual o PCUSA também faz parte e para a qual nós também requisitamos entrada.

Qual foi a principal discussão feita no Congresso? Foi dado um grande destaque para a situação internacional e a atuação internacional do PCUSA.

Antes das intervenções presenciais dos convidados internacionais, houve uma série de vídeos de companheiros de outras organizações como o Partido Comunista do Zimbábue, Partido Comunista da Nova Iugoslávia e outros, que mandaram uma mensagem saudando o Congresso. No total, mais de 30 organizações o fizeram, por vídeo ou por escrito. Os membros da direção do partido reforçaram que esse crescimento do trabalho internacional estava diretamente ligado às posições corretas sobre a guerra da OTAN contra a Rússia e sobre a Palestina, posições também defendidas pelo PCO.

Sobre a situação interna, o PCUSA debateu um racha que houve em sua organização em 2022 de membros oportunistas que fundaram outro partido que acabou se dissolvendo no final de 2023. Fico feliz que o PCUSA tenha conseguido superar esses problemas e saído disso uma organização mais forte. Chegaram a sofrer ataques baixos como roubo de seu domínio na Internet e de sua infraestrutura digital, mas hoje já conseguiram estabilizar tudo novamente.

Foi celebrado o programa semanal que passaram a fazer no YouTube, um programa de formação política e também mais de 60 livros publicados desde o último congresso, em 2021, como uma vitória dessa recuperação.

Houve a aprovação de resoluções? Se sim, quais? Não participamos do processo de aprovação das resoluções internas. O debate foi fechado apenas para os delegados, mas um documento com o que foi aprovado deve ser publicado em breve.

Foram tiradas medidas concretas para pôr a política discutida em prática? Do que pudemos acompanhar da discussão, o partido pretende ampliar sua atuação internacional com todas as organizações que estejam de alguma forma lutando contra o imperialismo, de forma a combater o sectarismo. Pediram nosso apoio para participarem como observadores da próxima reunião do Foro de São Paulo, por exemplo. Pretendem também ampliar seu trabalho de imprensa tanto impressa, como digital.

Pode falar mais sobre o que é o PCUSA e sobre a perseguição que eles sofreram em 2022? O PCUSA reivindica o legado do Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA, na sigla em inglês), fundado pelo jornalista John Reed, entre outros famosos comunistas norte-americanos. O racha aconteceu em 2016, segundo o PCUSA por parte daqueles que hoje lideram o CPUSA, um setor oportunista que, no pouco que pudemos observar de sua política, serve de ponto de apoio para o Partido Democrata dentro da esquerda norte-americana como tantas outras organizações. Ficaram, infelizmente, com o nome histórico do principal partido comunista nos Estados Unidos.

Desde 2016, o PCUSA lutou para construir uma organização sólida, estabilizar sua imprensa, mas em 2022, teve sua liderança questionada por setores pequeno-burgueses dentro do partido. O conflito emergiu como uma disputa de poder, questionando a autoridade do então secretário-geral do PCUSA, Angelo D’Angelo. Mas, na nossa percepção, o fundo político dessa disputa pequena foi o apoio firme da ala que permaneceu no partido em relação à Rússia, denunciando os nazistas ucranianos e seu apoio pela OTAN.

A perseguição envolveu os ataques baixos com os quais temos muita familiaridade. Sabotaram a imprensa deles na Internet, roubaram o sítio principal, acusaram dirigentes de abuso. Há vários artigos caluniadores na Internet contra eles, parecidos com os que existem contra o PCO. É o preço que se paga por combater o imperialismo… Ficamos felizes que tenha superado essa fase.

A partir de agora, como se dará a colaboração entre o PCO e o PCUSA? Tem alguma prévia? Até o momento, eles nos ajudaram a integrar a Plataforma Anti-imperialista Internacional e pediram nossa ajuda tanto para participarem como observadores do Foro de São Paulo, como para conseguirem contato com representantes do Hamas. Avaliam ser muito importante para o público norte-americano que um partido daqui converse com a organização para quebrar os preconceitos gerados pela propaganda imperialista incessante.

Há muito o que colaborar nesse terreno. Eles estiveram, por exemplo, no encontro da juventude que houve na Rússia, no início deste ano, e nos disseram que irão trabalhar para que nós estejamos presentes lá no ano que vem.

Nós convidamos observadores deles para que participassem do nosso Congresso este ano e também conversamos sobre um intercâmbio nos cursos de formação política. Eles enviariam companheiros da juventude do partido deles para as nossas universidades de férias, por exemplo, e nós enviaríamos representantes nossos para as deles.

Não foi discutido, mas imagino que haverá uma boa troca entre os nossos órgãos de imprensa.

Que política o PCO levou para o Congresso? Foi principalmente a nossa postura anti-imperialista. Nossa análise correta da derrota dos EUA no Afeganistão como um ponto de inflexão na política mundial, seguido de nosso apoio implacável à Rússia, às rebeliões na África e, agora, ao Hamas.

Como a política do Partido foi recebida? Ainda não mencionei que o PCUSA segue uma tradição fortemente stalinista – “marxista-leninista”, na denominação deles. E mesmo sabendo que nós somos um partido trotskista, receberam nossa política de forma muito positiva.

Basicamente, nos foi dito que concordamos em tudo, exceto sobre a história da União Soviética, naturalmente. Na nossa consideração, isso é muito positivo. A luta anti-imperialista é a questão central do momento.

Outras questões, como acesso irrestrito a armas e liberdade de expressão, também foram bem recebidas, mas acredito que sejam menos controversas aqui nos Estados Unidos.

Pode falar mais sobre como o fato de o PCO ser uma organização trotskista e o PCUSA ser uma organização stalinista impacta a relação entre os dois? Não pude detectar divergências práticas sobre nada entre as nossas organizações. Conversamos sobre Cuba, Nicarágua, Venezuela, Bolívia, Brasil, isso para ficar apenas na América Latina. A questão russa foi o que nos uniu em primeiro lugar. Ainda assim, sobre a situação do Irã, sobre Hesbolá, Hamas… ambas as organizações têm uma posição anti-imperialista sólida.

Mesmo a caracterização sobre o período neoliberal na Rússia e a ascensão de Putin. Tudo muito similar.

Considerei que entrar no debate sobre stalinismo e trotskismo não era apropriado, visto que, na prática, podemos construir uma frente que efetivamente lute contra o imperialismo. Finalmente, é o que importa para nós. Seguimos uma doutrina materialista. Isso está visível no nosso apoio e relação com o Hamas, uma organização de traços religiosos, islâmica, distante ideologicamente do marxismo, mas revolucionária em sua ação prática.

Pelo que pude perceber, o PCUSA não é uma organização stalinista na prática, e parece restringir a crítica a Stálin com receio de entrar numa frente com o imperialismo criticando a antiga União Soviética, o bolchevismo e o marxismo. Eles podem dizer o mesmo de nós: que somos uma organização que não é trotskista na prática, pensando em todos aqueles que mancharam o nome de Leon Trótski ao longo do século XX. Enfim, acho que podemos fazer um debate amigável de ideias sobre o tema, mas reitero, a luta anti-imperialista é a coisa mais importante no momento.

Qual a posição do PCUSA sobre o identitarismo? Novamente, acho que pensam como nós. Têm uma posição democrática sobre as liberdades individuais e condenam essa política identitária como algo que tem o objetivo explícito de dividir a classe operária. Como o companheiro Alex Dillard colocou: “parece ser uma política criada com o objetivo de ser odiada pela pessoa comum”.

Vocês levaram algum material impresso para o Congresso? Se sim, o que os participantes acharam? Sim. Trouxemos a edição especial do Dossiê Causa Operária sobre a Palestina. A publicação foi muito bem recebida por todos. Entreguei-a à delegação coreana e a Joti Brar, além do dirigente do PCUSA e outros militantes com quem tive uma relação mais próxima. Todos ficaram surpresos com a nossa capacidade de produzir uma publicação dessa qualidade de forma quinzenal. Não pude deixar de ficar orgulhoso, sendo um dos redatores.

Mostrei, naturalmente, o nosso Diário e os companheiros ficaram impressionados com o volume de publicações e sua frequência regular. Em questão de estabilidade de imprensa, acho que estamos à frente de organizações às vezes até maiores que a nossa e tudo isso é resultado do trabalho incessante da nossa militância. A entrevista com o Dr. Basem Naim na COTV, então, causou grande entusiasmo em todos.

Gostaria de aproveitar este espaço para agradecer todos os companheiros que trabalham na nossa imprensa por tornar mais fácil nosso trabalho de representar o Partido internacionalmente. O que construímos é algo raro na esquerda mundial e precisamos dar muito valor.

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