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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Coluna

Os quadrinhos de Bianca Ribeiro

Mulheres, bruxas e paranormais

Na Comic-Com 2015, cidade de São Paulo, eu conheci, na seção de quadrinhos brasileiros, a Bianca Pinheiro e sua novela gráfica “Dora”; desde a capa, o olhar penetrante da mocinha Dora, a protagonista da história, já se fixa em todos os leitores:

Tramas feito as de “Dora” se chamam, pelo menos nos estudos literários, narrativas maravilhosas, as quais se definem em relação às narrativas estranhas e fantásticas. Dessa maneira: nas (1) narrativas estranhas, o sobrenatural advém do equívoco, explicando-se racionalmente – por exemplo, os ataques de catalepsia das personagens de Edgar Allan Poe –; (2) nas narrativas fantásticas, o sobrenatural transita entre o mistério e a explicação racional – muitas personagens de Howard Phillips Lovecraft hesitam entre o sonho, a loucura e realidades alternativas –; (3) nas narrativas maravilhosas, o sobrenatural se torna realidade – histórias de vampiros, lobisomens, zumbis são narrativas maravilhosas –. Dora, portanto, com sua paranormalidade, estaria entre essas últimas; seus poderes, porém, precisam ser observados detalhadamente.

No universo dos quadrinhos e da literatura de terror, Dora não é a única mocinha paranormal com poderes psíquicos a ter problemas com isso; consigo lembrar de, pelo menos, outras duas: (1) Jean Grey, dos X-Men; (2) Carrie, a estranha, do romance de Stephen King. Quem acompanha o Universo Marvel, certamente conhece a possessão de Jean Grey, a mocinha bondosa dos alunos do Professor Xavier, pela entidade Fênix e, consequentemente, sua morte trágica; quem aprecia literatura e cinema de horror, sabe quem é Carrie, a mocinha paranormal e sexualmente reprimida pela mãe abusadora. Quando Carrie menstrua, isto é, quando ela entra na puberdade, seus poderes telecinéticos se manifestam; vítima de bullying, ela termina por assassinar quase todos os colegas no baile de formatura.

Ora, Jean Grey se mostra mocinha gentil, possuída por forças do mal; Carrie se apresenta possuída por poderes, segundo a mãe, vindos das trevas; ambas parecem duas bruxas medievais condenadas por pactos com demônios, portanto, merecendo morrer… ao que tudo indica, Dora, com algumas variações, realiza o mesmo tema, ou seja, o tema das bruxas ou moças paranormais contra padres, policiais, soldados e cientistas.

A palavra Dora vem do grego “dōron”, cujo significado é “presente”; Dora se revela, justamente, uma dádiva, entretanto, ninguém se dá conta disso e, contrariamente, a menina se vê perseguida por toda gente, respondendo, consequentemente, com agressividade. A HQ, portanto, admite ser lida enquanto história de horror, contudo, nela também se tematiza a emancipação feminina, pois Dora permanece oprimida, entre outros motivos, por ser mulher, assim como Carrie. Em ambas, a repressão se intensifica quando se entra na puberdade; no caso de Dora, enviam-se soldados fortemente armados para dar cabo dela.

Por fim, vale a pena ressaltar, além do olhar expressivo da protagonista, a beleza do traço simples e econômico, movendo-se entre massas compactas de branco e preto, muito bem articuladas visualmente.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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