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Coluna

O Trem de Lênin, de Damiano Damiani

Filme mostra a viagem histórica de Lenin a Petrogrado

O Trem de Lênin é um filme produzido para a TV europeia em 1988 e dirigido pelo cineasta Damiano Damiani. É falado em inglês e conta com atores famosos como Ben Kingsley, no papel de Lênin, Leslie Caron, como sua esposa Nadia Krupskaia e Dominique Sanda, como Inessa Armand.

O enredo conta a história da viagem que Lênin e um grupo de 30 exilados políticos bolcheviques do Partido Comunista Russo fizeram da Suíça à Estação Finlândia, em Petrogrado. A jornada, que daria origem às famosas Teses de Abril, culminaria na Revolução Russa de 7 de novembro de 1917.

O mérito dos atores e do diretor é o de buscar representar um momento da Revolução Russa que pouco foi abordado no cinema do Século XX. Provavelmente, foram inspirados pelo livro Rumo à Estação Finlândia, do crítico literário norte-americano Edmund Wilson, publicado em 1940, que versa sobre a evolução do pensamento socialista europeu de 1824 até essa histórica viagem.

O filme é oscilante por causa de sua forma. Com a necessidade de seguir as técnicas do drama do cinema comercial, ele altera momentos bons e ruins na abordagem dos seus temas.

Ficamos sabendo do acordo que os bolcheviques fizeram com os alemães para que o trem cruzasse seu território durante a I Guerra Mundial e a hesitação dos mencheviques. Os alemães esperavam usar Lênin como um agitador político e tirar a Rússia da guerra. 

Essa abordagem mostra a falta de compreensão histórica dos alemães e a lucidez de Lênin em relação a esse tema como um embate entre duas visões de mundo completamente diferentes.

No entanto, o filme em si não consegue abordar as questões materialistas e dialéticas que são fundamentais para entender o pensamento de seus personagens principais. Acaba assim representado Lênin, por exemplo, ora como político muito esperto, ora como uma figura messiânica. A forma exige um herói bem definido e isso se torna um problema sem solução na representação.

As personagens de Nadia e de Inessa, duas revolucionárias históricas, estão presentes como parte de um triângulo amoroso que é representado com olhos pequeno-burgueses. De concreto, não sabemos exatamente o que aconteceu, mas o foco apenas no drama amoroso retira dessas mulheres e do próprio Lênin a força de sua consciência revolucionária.

É possível perceber que há respeito pela histórica de Lênin, mas talvez as condições de produção ou os limites dos próprios criadores não permitiram uma atenção maior ao processo histórico representado. Falta urgência e luta. Sobra um certo ar doméstico.

Interessante notar que a obra foi produzida apenas um ano antes da queda do Muro de Berlim e apenas três do fim da União Soviética. Ele é um reflexo mais da subjetividade daqueles anos em que a jornada estava chegando melancolicamente ao fim do que de 1917.

O filme está disponível no YouTube com legendas em português.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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