Os bolsonaristas herdaram da direita norte-americana uma tradição de defesa do armamento. Essa, por sua vez, se apoia na Revolução dos EUA de 1776, é uma contradição, a direita que se apoia em ideias revolucionárias. Na maior parte do mundo, a política do armamento é defendida pela esquerda ou o grupo que ocupada esse papel, o grupo que luta contra a classe dominante. A direita então mistura a ideia do armamento com a do combate ao crime, aí sim uma política tradicionalmente reacionária. Mas o ponto principal é a melhor propaganda do armamento cunhada por Bolsonaro, “o povo armado não será escravizado”, é uma política revolucionária e, na prática, é anti-bolsonarista.
Vejamos primeiro a política dos pequenos crime. De fato, o armamento pode reduzir as chances de pequenos crimes, assaltos, roubos de casa etc. Mas, ao mesmo tempo, é um método ineficiente. Andar com um .38, mesmo que exposto na cintura, ainda não garante que outra pessoa com armas, ou duas pessoas armadas, te rendam e roubem seus pertences. O mesmo vale para invasão de casas. Eu inclusive já tive familiares que tiveram seu apartamento invadido e que possuíam armas e mesmo assim não conseguiram impedir o roubo. Obviamente que os assaltantes vão preferir assaltar pessoas desarmadas, mas a arma em si não impede o roubo.
O problema dos crimes pequenos é social. Há países na Europa com mais e menos armas. No norte, por exemplo, visto que a caça é comum, há alguns locais mais armados que outros. Mas isso não é o índice que importa, o que é relevante para a baixa criminalidade é a alta qualidade de vida dos trabalhadores, pouca miséria e pouca desigualdade. Isso garante muito mais a segurança do que qualquer arma. É um fato óbvio, e que enfraquece o argumento direitista pelo armamento, pois ele é não é a melhor forma de combater o problema que a direita apresenta.
Agora vejamos os crimes grandes, os crimes que realmente precisam de armas para serem combatidos. A invasão do Iraque pelos EUA, a invasão da Palestina pelos sionistas, o golpe de Estado de 1964, as chacinas da PM nas favelas, os massacres no campo pelos pistoleiros do latifúndio. Aqui, a questão, em última instância, também é social, é preciso retirar o poder do imperialismo e do latifúndio. Mas no quesito prático, o armamento das vítimas seria muito mais eficiente do que na prevenção de roubos de celular. Um assentamento armado é muito mais difícil de ser invadido por pistoleiros. Um país armado é muito mais difícil de ser invadido por outro. Quando se chega na escala da nação, isso é, na verdade, a única forma real de prevenir o crime.
Por isso a frase “um povo armado não será escravizado”. O povo é a maior escala possível. Um povo armado não será escravizado por outra potência, não será escravizado pelas classes dominantes que querem o oprimir. É nessa escala que o argumento tem seu maior valor. E no que isso infere, armar os trabalhadores das favelas, os trabalhadores sem terra, os operários das fábricas, ou seja, a maioria da população brasileira. E não é isso que desejam os bolsonaristas. Aqui fica exposta a contradição do seu argumento. Algo óbvio, pois esse é, na verdade, um argumento marxista, como disse Lênin, a única garantia da democracia é um fuzil no ombro de cada operário.
Vejamos o maior exemplo disso no atual momento: o Iêmen. Se há um local no mundo onde o povo não é escravizado é neste país. O governo tentou escravizar o povo, e foi derrubado; a Arábia Saudita e mais oito países árabes tentaram escravizar o povo por oito anos e foram derrotados; agora, o imperialismo tenta escravizar o povo iemenita e também está sendo derrotado. Todas as sextas-feiras, centenas de milhares de pessoas vão às praças do país, grande parte delas armada. Por isso os iemenitas criaram uma palavra de ordem para sua política, “uma mão para proteção e a outra para a construção”.
O armamento, portanto, é a política para impedir os grandes crimes, os crimes do imperialismo. No Brasil, é o roubo do petróleo, o roubo da Amazônia, o roubo da Eletrobrás, o roubo financeiro do Banco Central. Tudo aquilo que aconteceu nos governos Bolsonaro e Temer.
A verdade é: Bolsonaro defende o povo desarmado e o povo escravizado. Quem defende o fim dos crimes, de grande e de pequeno porte, são os marxistas.