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Faixa de Gaza

O papel das mulheres na luta armada do Hamas contra ‘Israel’

Leia na íntegra entrevista feita em 2005, em meio à Segunda Intifada, com a comandante da primeira unidade feminina da ala militar do Hamas

Enquanto ocorrem as mobilizações deste 8 de março, o Estado nazista de “Israel” continua massacrando as mulheres na Faixa de Gaza. São inúmeras as denúncias das aberrações que foram cometidas contra as palestinas pelo exército sionista desde o dia 7 de outubro, indo desde bombardeios até estupros e execuções. Nesse sentido, não há como o Dia Internacional da Mulher não ser sobre as mulheres vítimas da ocupação israelense, devendo estar ser a principal bandeira dos atos de hoje.

Por isso, este Diário dedicou, nas suas últimas edições, uma série de artigos destacando denúncias das barbaridades feitas contra as mulheres palestinas, bem como sua participação na resistência armada hoje e ao longo da história.

Com o presente artigo, continuamos esta campanha, reproduzindo, logo mais, uma entrevista feita em 2005 com a comandante da ala feminina do braço armado do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

Antes, entretanto, é preciso destacar alguns pontos importantes sobre o texto que será lido em seguida. Em primeiro lugar, a mera existência dessa entrevista, feita por um órgão de imprensa palestino, o Hamas Al-Risala, desmente uma série de calúnias feitas contra o Hamas e seus combatentes.

A máquina de propaganda sionista divulga a mentira de que o Hamas seria um partido profundamente “machista”, uma força de opressão contra as mulheres palestinas que procura deixá-las política e socialmente atrasadas em comparação com os homens de Gaza.

Como veremos, porém, é justamente o contrário. Tanto é que a entrevistada destaca que as mulheres palestinas são incentivadas a participar da resistência armada não só por outras mulheres, como também por homens.

Em segundo lugar, a entrevista apresentada neste artigo atesta a evolução política do Hamas ao longo do tempo. Em seu primeiro programa, o partido palestino apresentava algumas concepções e políticas sectárias e muito religiosas.

Com o passar do tempo, como demonstra o programa mais recente da organização, o Hamas evoluiu muito, passando a ter uma compreensão muito mais acabada sobre o problema do imperialismo e da libertação da Palestina.

A entrevista abaixo foi feita logo após a vitória do Hamas em expulsar a ocupação sionista de Gaza, em meio à Segunda Intifada. Este foi um episódio crucial para o desenvolvimento da organização palestina, uma luta que consagrou o Hamas como o partido das massas palestinas.

As declarações da comandante entrevistada demonstram isso, uma transição entre uma política mais religiosa para uma política mais desenvolvida, mais concreta. É à luz destes acontecimentos que o texto abaixo deve ser lido.

Por fim, cabe destacarmos as seguintes colocações da comandante palestina:

“Hoje estamos colhendo os frutos da resistência na esperança de que haja mais passos, levando à libertação de toda a Palestina… A vitória [palestina] e a fuga [de Israel] dos assentamentos são resultado dos golpes dolorosos [que sofreram] da resistência.

[…]

Ó filhos do povo palestino resistente, que derrotaram o inimigo sionista e o humilharam, mantenham a fé e preservem a vitória para que não seja em vão. Esta é uma vitória que alcançamos através do sacrifício.”

Apesar de não sabermos sua identidade, podemos ter certeza que a comandante palestina forneceu uma contribuição essencial para chegarmos até aqui: quase uma década após a libertação de Gaza, o povo palestino resistiu e, por meio da heroica operação Dilúvio de al-Aqsa, está cada vez mais próximo da “libertação de toda a Palestina”.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra traduzida pelo Diário Causa Operária (DCO):

Comandante da Unidade Feminina da Ala Militar do Hamas: ‘Nossos membros anseiam pelo martírio’

O movimento Hamas recentemente estabeleceu unidades femininas como parte das Brigadas ‘Izz Al-Din Al-Qassam, sua ala armada. Em uma entrevista com o semanário Hamas Al-Risala, a comandante da primeira das unidades disse que as mulheres estavam treinando com armas leves e “anseiam pelo martírio”.

A seguir estão trechos da entrevista com a comandante da unidade feminina da ala militar do Hamas, e fotos de membros vestidas com trajes islâmicos completos treinando com armas leves e pesadas.

P: “Para começar, gostaríamos de saber quem vocês são.”

R: “Somos uma unidade feminina das Brigadas Armadas do Hamas, as Brigadas do Mártir Izz Al-Din Al-Qassam.”

P: “Por que vocês se juntaram às Brigadas Al-Qassam e não a um dos outros grupos armados?”

R: “Porque as Brigadas Al-Qassam são consideradas os líderes e os pioneiros da jihad. Abandonamos todos os caminhos exceto o do Hamas e sua ala armada – as Brigadas Al-Qassam.”

P: “Alguém pediu para vocês operarem como parte das Brigadas, ou foi um pedido de vocês?”

R: “Ninguém nos pediu para operar como parte das Brigadas. Simplesmente amamos a jihad e seu caminho…”

P: “Qual era o seu objetivo ao se juntar à organização militar?”

R: “Havia apenas um único objetivo: jihad e resistência até que as terras fossem libertas.”

P: “Não seria melhor para vocês lidarem com a educação e desenvolvimento da próxima geração…”

R: “É tudo um único caminho. Criamos nossos filhos e cumprimos nossos deveres domésticos, o dever de incentivar a devoção à religião, assim como outros deveres cotidianos, e o ápice deles é a jihad pelo bem de Alá. A jihad é um dever que todo muçulmano é obrigado a cumprir se puder. Nos juntar à organização militar é uma das tarefas cotidianas essenciais.”

P: “Entendemos que vocês estão competindo com os homens no campo de batalha.”

R: “É uma honra para nós competir com os homens, mesmo que o papel deles seja mais avançado. Eles são os homens no campo, corajosos e homens de sacrifício, mas estamos tentando aliviar um pouco o fardo deles. Atrás de cada homem há uma mulher que fortalece suas mãos.”

P: “Como vocês conseguem combinar a filiação a uma unidade militar, educar os filhos e cuidar dos maridos e do lar?”

R: “Isso é completamente normal. Gerenciamos nosso tempo e conhecemos nossos deveres, como toda mulher que trabalha…”

P: “Vocês fazem treinamento e atividades com armas?”

R: “Fazemos um nível moderado de treinamento com armas leves.”

P: “Seus maridos sabem que vocês são membros de unidades militares, e eles as encorajam, ou é o contrário?”

R: “Sim, nossos maridos sabem. Eles nos encorajam, e nós [mulheres] nos encorajamos umas às outras.”

P: “O que vocês acham das mulheres que realizaram operações de martírio, como a mártir Reem Al-Riyashi, que pertencia às Brigadas Al-Qassam?”

R: “A mártir Reem Al-Riyashi é como uma coroa em nossas cabeças e uma pioneira da resistência. Ninguém pode compreender a magnitude de seu sacrifício.”

P: “Vocês esperam ser como Reem Al-Riyashi?”

R: “Pelo nome de Alá, esperamos nos tornar como ela imediatamente.”

P: “O que mulheres como vocês dizem aos seus filhos?”

R: “Nossa mensagem é educá-los para a jihad, que é um dever sagrado que não pode ser negligenciado…”

P: “O que vocês acham do papel das mulheres palestinas na Intifada de Al-Aqsa?”

R: “Seu papel é muito importante e não é menos importante do que o do homem. A mulher é a esposa e irmã do combatente. Ela carrega o difícil fardo de sustentar a família e educar as crianças para a jihad.”

P: “As atividades de vocês se limitam à inteligência e ao apoio? Vimos mulheres do Hamas que guiaram os mártires, como Tamam Al-Tamimi. É essa sua única área de atuação?”

R: “As atividades armadas não se limitam a guiar [bombistas] ou a atirar. Existem muitos tipos de jihad e resistência.”

P: “O que vocês têm a dizer às mulheres árabes e muçulmanas após a derrota do inimigo sionista em Gaza?”

R: “Hoje estamos colhendo os frutos da resistência na esperança de que haja mais passos, levando à libertação de toda a Palestina… A vitória [palestina] e a fuga [de Israel] dos assentamentos são resultado dos golpes dolorosos [que sofreram] da resistência.”

P: “Que mensagem vocês, como mulheres [servindo] em unidades militares, gostariam de enviar à ocupação e às esposas dos soldados que mataram nosso povo?”

R: “Os governantes sionistas que falaram sobre a Grande Terra de Israel precisam aprender a lição que a resistência e seus heroicos homens lhes ensinaram. Hoje eles estão progressivamente perdendo seus recursos. Não temos nenhum desejo de matá-los desde que eles deixem as terras que nos roubaram. Estes são os nossos direitos e queremos obtê-los. Se eles não quiserem ir por vontade própria, serão derrotados e [tudo o que restará deles] serão restos de cadáveres.”

P: “Qual é a sua mensagem final?”

R: “Ó filhos do povo palestino resistente, que derrotaram o inimigo sionista e o humilharam, mantenham a fé e preservem a vitória para que não seja em vão. Esta é uma vitória que alcançamos através do sacrifício.”

P: “Você é mãe de um mártir ou de um prisioneiro? Se sim, o que você pensa ao ver a ocupação saindo de lá agora, com seu filho tendo realizado uma ação contra um dos assentamentos que a ocupação está deixando?”

R: “Sim, tenho filhos mártires, um filho que é prisioneiro e filhos que foram feridos, mas tudo isso tem pouco valor quando é pelo bem de Alá. Graças a Deus, não tenho arrependimentos e posso suportar o sofrimento dessas perdas. Estou muito feliz por ter oferecido [um sacrifício] e colhido os frutos. O sangue do meu filho não foi derramado em vão, e a prisão do meu [outro] filho não é em vão. A resistência produziu um fruto maduro. Este ponto de virada histórico é o prólogo para a grande vitória e a reconquista do restante das terras.”

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