O Partido dos Trabalhadores (PT) se notabilizou nos últimos anos por uma espécie patológica de “otimismo”. Entre aspas porque não se trata de uma leitura concreta da realidade que permita a alguém dotado de senso crítico nutrir esperanças honestas no futuro, mas de uma ilusão profunda sobre os eventos políticos. A direita começou a se levantar para pedir o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff? “São só meia dúzia de ‘gatos pingados’.” Eles cresceram? “No Congresso não passa.” Passou? “No Senado a gente reverte.”
Quando ficou claro para qualquer pessoa normal que Lula seria preso, o mesmo. Quando ficou claro que não seriam “apenas três dias”, o mesmo. E agora, que está claro o emparedamento sofrido pelo governo pela ação da burguesia e a necessidade de um cavalo-de-pau na política do Planalto, o mesmo. Nada de novo.
Em todos os casos, um denominador comum se destaca: há um método no otimismo para tolos defendido pela esquerda pequeno-burguesa. Esse método visa desarmar a mobilização popular, a única força de eficácia comprovada para enfrentar a direita, com farta comprovação histórica.
O “otimismo” desorientado, destinado a empurrar o povo a um estado de apatia completo, mostrou-se um importante instrumento de auxílio aos ataques da direita contra o povo brasileiro. Os exemplos supracitados poderiam ser complementados com inúmeros outros, como as reformas da Previdência e trabalhista, a eleição de Bolsonaro e diversas outras, que fizeram com que a direita tomasse a ofensiva, situação que mesmo com idas e vindas, teve início com a campanha golpista na década passada e ainda hoje não foi completamente derrotada.
O verdadeiro otimismo, capaz de gerar um movimento transformador e tirar a esquerda da defensiva em que foi posta desde o começo da mobilização golpista, implica, em primeiro lugar, no abandono do “otimismo” entre aspas, que nada mais faz do que enganar as bases da esquerda e induzir ao engano. As bases dos movimentos sociais, de trabalhadores, estudantes e camponeses, precisam ser ativas, ir às ruas, impulsionar o ativismo político latente.
Essa energia popular existe e foi publicamente reconhecida pela direita com o episódio da PL do Estupro, que obrigou a burguesia a um recuo em sua sanha repressora. Outro exemplo dela se deu no último dia 30, no Dia Nacional de Defesa da Palestina, quando milhares de pessoas de todo o país reuniram-se na Avenida Paulista para expressar o repúdio popular ao sionismo e seus crimes horrorosos, e defender a Palestina de maneira séria, incluindo os partidos e demais forças que compõem a Resistência Palestina.
O sucesso dessas duas mobilizações dá motivos de sobra para as forças da esquerda serem otimistas, sem aspas. A tendência das massas trabalhadoras a se unirem ao ativismo sério é muito visível a quem está fazendo o que se espera de um movimento: que movimente.
É essa política que precisa ser impulsionada e que deve ser motivo de um otimismo consequente, de quem sabe que a pasmaceira atual será superada pela ação dos trabalhadores e estudantes, as bases onde repousa a verdadeira força da esquerda. Fora delas, não há nada além de ilusão.