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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

O Mundo Depois de Nós: o capitalismo continua a caminho do fim

Filme é um exemplo de cinema catástrofe que escamoteia a luta de classes no capitalismo

No ano passado, escrevi um texto sobre um filme da Netflix que se tornou, naquele momento, um assunto que repercutiu: Não olhe para cima. O enredo contava a história da possível destruição do planeta por um meteoro devido à incapacidade das pessoas de tomarem decisões para se livrarem do problema. No fundo, ressaltei, tratava-se de uma propaganda do partido democrata.

Com o seu enorme sucesso, este ano, a Netflix decidiu lançar uma nova produção que segue a mesma linha do filme catástrofe. Trata-se de O Mundo depois de Nós (Leave the World Behind), dirigido por Sam Esmail, um funcionário da TV americana que faz séries pseudosérias.

No lugar de Leonardo DiCaprio e Meryl Streep, temos Julia Roberts, Ethan Hawke e Kevin Bacon, todos ícones do cinema estadunidense. No enredo, Amanda (Julia), Clay (Ethan) e os dois filhos deixam Nova York para um fim de semana em uma casa paradisíaca. Tudo vai bem até que estranhos acontecimentos abalam o que poderia ser as férias perfeitas de uma família de classe média.

Em meio a pseudodramas totalmente desinteressantes, como o desejo da filha adolescente de assistir ao último episódio da série Friends, é revelado que se trata do início de uma guerra civil nos Estados Unidos.

Carregar esse suspense até o fim só é possível pelo uso de elementos bastante conhecidos do cinema de terror e pela total alienação representada na futilidade de personagens bastante clichês, que expressam não ter a menor ideia da realidade do país em que vivem.

Revela a mentalidade da própria audiência a quem ele se destina, se é que a identificação com esse tipo de história ainda é possível.

Ao final, temos, nos créditos, os nomes de Michelle e Barack Obama como produtores, junto com a própria atriz principal. Uma propaganda evidente.

De interessante, se comparado com o filme anterior, é tornar mais concreto um conflito dentro dos Estados Unidos aparentemente causado por suas próprias contradições. Não temos mais meteoros, alienígenas, zumbis ou terroristas ameaçando a ordem planetária, mas uma reação provocada internamente, como uma implosão.

Propositalmente, o filme não explicita qual é a ameaça e porque ela acontece. Do nada, temos o que parece ser um ataque que para completamente o país, mas não se sabe muito bem de onde ele vem e para onde vai. Também não há intensão de explicar tal estado de coisas do ponto de vista político e material.

Se você é um democrata identitário fã da Julia Roberts, implicitamente você sabe quem é o inimigo interno. Se você é um republicano evangélico fã de Clint Eastwood, você também sabe.

Ao menos, o tema do fim do mundo virou agora o fim do país. Essa espécie de tomada de consciência, diante da película anterior, representa uma evolução e aponta, ao que parece, que uma crise disruptiva parece estar no horizonte.

Novamente, como no filme de 2022, é a crise sem fim do capitalismo que é representada, apesar de continuar escamoteada na visão imbecil que a família liderada pela personagem de Julia Roberts (incluindo a mesma) tem das ameaças.

Talvez a ideia seja proposital, vai saber. Não é isso que indica o ponto de vista do filme, ou seja, não há indícios de que haja uma chave irônica na abordagem do tema. Tudo é levado muito a sério, em especial, os ridículos conflitos que acontecem na cozinha da luxuosa casa que serve de cenário.

Seja como for, essas produções estadunidenses até ajudam a entender a temperatura da política interna que, mesmo alienada, aponta para o conflito, ou seja, para o acirramento da luta de classes dentro do país. Mesmo que Michelle e Barack Obama tentem disfarçar.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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