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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Coluna

O cinema de Norman Jewison

O socialismo no cinema dos Estados Unidos

Se hoje o cinema estadunidense pode ser classificado como o pior do mundo, com diretores e atores mediados, célebres por atender a indústria cultural e enaltecer o imperialismo, portanto, o fascismo, quando não, genocidas inescrupulosos, já houve, embora raramente, artistas criativos que, embora nos limites de um país dominado pela extrema direita, realizaram obras interessantes. Se tal cinema, antes do imperialismo cultural se espalhar feito praga na virada do século XX para o XXI, for comparado com os cinemas da América Latina e da Europa, poucos cineastas dos EUA se destacam; entre eles, o canadense Norman Jewison realizou, pelo menos, dois filmes merecedores de atenção nos Estados Unidos, isto é: “Rollerball – os gladiadores do futuro”, 1975, e “F.I.S.T.”, 1978.

Começando pelo segundo, chama atenção um filme com Sylvester Stallone viver o papel de um líder sindical disposto a, inclusive, pegar em armas e matar em nome dos direitos dos trabalhadores; logo ele – diga-se de passagens, um ator bastante limitado –, célebre por propagandear mentiras sobre a Guerra do Vietnã e por defender outras intervenções armadas do imperialismo ao redor do mundo. No filme, Stallone representa Johnny Kovak, filho de emigrantes húngaros, inspirado no líder sindical Jimmy Hoffa, quem termina envolvido com o sindicato dos caminhoneiros dos Estados Unidos, semelhantemente a Hoffa.

Em princípio, empregado como mão de obra barata para carregar produtos dos depósitos para os caminhões, Kovak se indigna com as condições aviltantes de trabalho, indo de encontro, violentamente, a gerentes pelegos e patrões desonestos, ao mobilizar os entregadores. Contudo, nada se resolve, pois Kovak e os companheiros de luta são enganados e demitidos sistematicamente; durante uma greve, organizada segundo a lei, a burguesia, como sempre, desonestamente, levanta calúnias sobre os manifestantes e contrata milícias ilegais para espancar os grevistas, assassinando um dos correligionários.

Longe de baixar a cabeça, Kovak, praticamente sem opções, procura ajuda no crime organizado, que arma os grevistas, constrange os pelegos e fura-greves, ameaça a polícia, caso apoie as milícias; numa das cenas mais empolgantes do filme, os companheiros espancam os milicianos, colocando-os em retirada, com Kovak assassinando a cacetas, em retaliação, um daqueles fascistas.

Com tais atitudes, o sindicato dos caminhoneiros, cuja sigla é F.I.S.T. – Federation Interstate Truckers –, que também significa “punho”, cresce, assim como cresce o envolvimento com a máfia; em vista disso, um senador passa perseguir Kovak, acusando-o de praticar o crime organizado. Ora, se há crimes organizados, são os crimes da burguesia, em regra, praticados impunemente; disso o senador, alienadamente, não se dá conta, concentrando-se apenas no sindicalista e nos mafiosos. Na trama, a bem da verdade, Kovak reluta antes de procurar ajuda na máfia, entretanto, devido aos desmandos e atitudes ilegais da burguesia e seus pelegos, envolvendo logros, agressões físicas e, inclusive, o assassinato, o sindicalista não vê outra solução, e isso passa longe dos horizontes estreitos do político, quem, com atitudes persecutórias, termina favorecendo a burguesia criminosa e assassina.

O segundo filme comentado é “Rollerball – os gladiadores do futuro”, com James Caan no papel do desportista Jonathan E.; trata-se de ficção científica, passada num futuro próximo, quando o planeta se torna dominado não por governantes eleitos pelo povo, mas por corporações capitalistas, que cuidaram de dividir o mundo entre si. Em termos políticos, no filme se tematiza a fase histórica do capitalismo quando o imperialismo, finalmente, suplantou todos os governos, impondo-se sobre os antigos países; nesse mundo, a alienação se alastra mediante drogas farmacêuticas estupefacientes, a total falta de conhecimento histórico e um esporte, bastante violento, chamado rollerball. No jogo, os atletas, sobre patins e motocicletas, debatem-se ferozmente para marcar pontos; cada time se identifica com uma das corporações regentes do planeta.

Lançado em 1917, “O imperialismo: fase superior do capitalismo”, de Lenin, mais de um século após, ainda é guia bastante seguro para saber quem manda no mundo, inclusive no mundo fictício das personagens de “Rollerball – os gladiadores do futuro”, e por quais meios. Em linhas gerais, Lenin, dando continuidade às análises de Marx e Engels sobre as transformações do capitalismo, mostra que o livre mercado foi suplantado por outra fase, com grandes monopólios dominando o capital, a sufocar os pequenos comerciantes; tal dominação ocorre em quatro fases: (1) a formação dos monopólios, concentrando a privatização dos meios de produção; (2) o domínio da matéria-prima pela indústria; (3) a uniformização, por meio dos bancos, das moedas nacionais, dos sistemas de crédito e de juros; (4) a repartição do mundo pela burguesia internacional, concentrada, em especial, nos EUA, na Inglaterra, na França e na Alemanha, quer dizer, os senhores das guerras. No filme, numa quinta fase, recapitulando, não há mais países, mas corporações, revelando-se, explicitamente, a divisão do planeta por meio delas.

Por fim, entre tantos tópicos tematizados em “Rollerball”, a noção de indivíduo termina suplantada pela alienação das massas, desconhecedora da própria história, cujas informações foram apagadas nas memórias ineficientes dos computadores; no próprio esporte, quando um dos jogadores se destaca, ele é, imediatamente, aposentado, recebendo várias benesses das corporações. Jonathan E., contudo, mesmo considerado além da idade para praticar rollerball, insiste, desafiando os patrocinadores; para intimidá-lo e, inclusive, tramar contra sua vida, as regras do jogo são eliminadas paulatinamente, até não restar quase nenhuma. Para conceber situação semelhante, basta imaginar um jogo de futebol no Morumbi, em final de campeonato, por exemplo, Corinthians versus São Paulo, com a torcido em peso, sem arbitragem, valendo chute no saco e todo tipo de porrada; sendo rollerball, com motocicletas atropelando os jogadores e a permissão de socos, com luvas de couro revestidas de espinhos de aço. Pois bem, com tudo isso, Jonathan E. se torna o único sobrevivente da partida final, eliminando seus oponentes e a semear, com apoio maciço dos torcedores, ímpetos revolucionários.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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