Os britânicos dominaram a Palestina em 1917 e começaram a colonizá-la de forma diferenciada. Os imigrantes sionistas, que eram parte do projeto do imperialismo britânico, se tornaram uma parcela branca da sociedade e assim surgiu um verdadeiro apartheid. Na década de 1940, antes da criação de “Israel”, isso já era uma realidade. Por isso o Grupo de Socialistas da Palestina escreveu uma carta aberta em 1944 intitulada: Sionismo, um entreposto do imperialismo. Na parte um deste artigo, se discutiu a questão dos camponeses; na dois, sobre os operários; agora, o tema é a administração geral.
A carta afirma: “é verdade que a saúde, a educação e o padrão de vida geral aumentaram consideravelmente na Palestina, assim como em todos os outros países do Oriente Próximo, durante os últimos 20 anos. Não é nossa tarefa agora examinar o que o Governo fez ou não fez nesses campos, mas a questão é: Qual foi a participação do sionismo nisso?”. Uma qualidade dos argumentos é que eles desmentem mentiras que os sionistas contam até hoje.
Ela segue: “primeiramente, aqui estão números de relevância direta: dos 655.175 pacientes que visitaram hospitais judaicos em 1940, 2.038 eram muçulmanos, ou seja, um terço por cento. (Resumo estatístico da Palestina 1941). Não se deve esquecer que alguns dos hospitais judaicos mais modernos, como o Hardrassa em Jerusalém, às vezes são honrados com as visitas de personalidades árabes eminentes dos países vizinhos, como o Emir Abdula, o Primeiro-Ministro Nuri Pasha es-Said, etc”. Ou seja, uma segregação absurda, na prática, não havia hospitais para os palestinos.
Sobre a educação destaca: “não há um único aluno árabe em nenhuma das numerosas escolas judaicas do país. É significativo que quando o rico judeu iraquiano – Kadoorie – deixou em seu testamento uma quantia substancial para a construção de uma escola agrícola na Palestina, e o governo, em conformidade com seu desejo, abriu não apenas uma escola judaica, mas também uma árabe, a imprensa sionista de direita a esquerda levantou um clamor. Obviamente, o sionismo está interessado em um baixo nível de saúde e educação para os árabes; um povo saudável, com certo grau de educação, não tolerará ter seu país tomado”. Ou seja, a situação era a mesma do que da saúde.
Os socialistas destacam que a Palestina é especialmente segregada: “dificilmente há uma colônia no Império Britânico onde encontramos um regime autocrático em uma forma tão pronunciada como na Palestina. Não há representação através de parlamento, nem há qualquer órgão consultivo. Para esta falta, o Governo avança a explicação de que os sionistas não concordariam com instituições democráticas porque então estariam em minoria. Esses mesmos sionistas em todo o mundo baseiam sua reivindicação à Palestina e sua demanda por imigração judaica ilimitada em ‘direitos democráticos’”.
A colocação aqui é muito interessante, é a política de “Israel” até os dias de hoje. Se dizem os grandes defensores da democracia, dentro da sociedade sionista segregada, mas no todo defendem a ditadura brutal contra os palestinos. Os judeus sionistas devem ter todos os direitos democráticos, mas os palestinos não podem ter nada.
O sistema de prisão administrativa, que existe até hoje, é citado: “por vinte e seis anos, a Palestina foi governada com regulamentos de emergência. Neste país, é possível prender qualquer pessoa a qualquer momento e mantê-la na prisão por anos ‘administrativamente’ – sem a possibilidade de ter seu caso tratado através dos canais normais de justiça. Tudo isso é ‘democraticamente’ apoiado pelos sionistas, que pedem por isso em nome da ‘manutenção da lei e da ordem’”.
O artigo então discorre sobre porque o sionismo dominou a classe operária de judeus europeus na Palestina:
“Primeiramente, eles desfrutam de certos privilégios sobre os trabalhadores árabes. O salário do trabalhador judeu é duas ou três vezes maior que o de seu colega árabe; o trabalhador judeu beneficia da existência de uma organização trabalhista poderosa que é reconhecida pelo governo e apoiada por organizações sionistas. Embora seu padrão de vida seja inferior ao de um trabalhador nos EUA, na Inglaterra ou nos Domínios, ainda é superior ao do trabalhador árabe
Em segundo lugar, os trabalhadores judeus vivem dentro de uma economia e sociedade sionista fechada. Em terceiro lugar, a indiferença dos governos aliados em relação à situação dos judeus na Europa faz os judeus aqui acreditarem que não há outro refúgio além da Palestina. Em quarto lugar, o sionismo encontrou imediatamente uma forte inimizade da maior parte da população árabe. Mentes astutas tentaram direcionar isso para o canal do ódio contra todo o povo judeu. Em vez de tirar a conclusão correta, ou seja, que deveriam desistir de suas ideias de conquista sionista, os trabalhadores judeus seguiram seus líderes sionistas que declaram que o fortalecimento do sionismo é uma salvaguarda contra o perigo árabe.”
Ou seja, a ideologia sionista colonial se baseava também em acabar com o movimento operário tradicional. Os judeus europeus naturalmente se aliariam aos árabes, pois assim teriam mais força contra os capitalistas e os ingleses. Mas o sionismo se mostrava como um movimento pseudo progressista, possuia seus próprios sindicatos e outras organizações de esquerda. Assim, a segregação se sustentou até o momento da fundação do Estado de “Israel”.
Ela, na verdade, foi crucial para que pudesse ser feita a maior tragédia da Palestina, a Nakba, a limpeza étnica de 800 mil palestinos. Isso só foi possível, pois os operários estavam divididos. Caso palestinos estivessem organizados juntos aos sionistas, a limpeza étnica seria impedida pelas organizações de trabalhadores.