O Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos de todo o mundo, começou neste domingo, 10 de março de 2024. No decorrer do último mês, o governo de Benjamin Netaniahu, impulsionado por seus setores mais extremistas, personificados nas figuras de Itamar Ben-Gvir (Ministro da Polícia) e Bezalel Smotrich (Ministro das Finanças), tentou restringir o acesso dos muçulmanos, especialmente palestinos, à Mesquita de al-Aqsa.
Contudo, com o avanço da resistência, o fracasso de “Israel” em impor-lhe derrotas militares, e a possibilidade de que mais uma provocação contra a mesquita faça explodir com ainda mais intensidade a Revolução Palestina (que por ora segue parcialmente contida pela repressão sionista e imperialista sobre os civis palestinos), o governo de Netaniahu teve de recuar.
A princípio, os muçulmanos poderão visitar Al-Aqsa durante o Ramadã, mas provocações não estão descartadas. Caso ocorram, se impulsionará mais ainda o avanço da Revolução Palestina, como já aconteceu várias vezes durante a história desse povo martirizado.
Este artigo cumpre a função de destacar a importância da Mesquita de al-Aqsa para os palestinos e muçulmanos de todo o mundo, e fazer um apanhado da história de provocações e ataques de “Israel” contra o local sagrado, e da resposta revolucionária da resistência palestina a essas provocações.
A MESQUITA DE AL-AQSA E SEU CARÁTER SAGRADO AOS MUÇULMANOS
A Mesquita de al-Aqsa está localizada na cidade de Jerusalém, especificamente em sua região leste, em uma colina na chamada Cidade Velha. O local é de grande importância religiosa para as três grandes religiões abraâmicas, quais sejam, o Cristianismo, o Islã, e o Judaísmo.
Nos ateremos aqui à importância sagrada para os muçulmanos, afinal a mesquita vem sendo atacada ao longo dos anos, e tende a ser atacada de novo, como forma de “Israel” exercer sua ditadura nazista contra os palestinos.
Há um consenso entre as principais vertentes do Islã que as cidades mais sagradas para os muçulmanos são: Meca, Medina e Jerusalém. Os locais mais sagrados, por sua vez, são a Grande Mesquita de Meca (Al-Masjid al-Haram), na qual se inclui a Caaba; a Mesquita do Profeta (Al-Masjid an-Nabawi), em Medina; e a Mesquita de al-Aqsa (Al-Masjid al-Aqsa).
Al-Aqsa é alvo de “Israel” pois está localizada justamente na Palestina, região colonizada pelo sionismo com auxílio do Império Britânico, e em Jerusalém. Os sionistas, por sua parte, sempre se utilizaram de forma oportunista da religião judaica como pretexto para a limpeza étnica que vem sendo realizada lá há mais de um século.
Por que os muçulmanos consideram a mesquita um local sagrado? Pois, segundo eles, certo dia no ano de 621, o profeta Maomé fez uma jornada noturna física e espiritual para Al-Aqsa e, de lá, para o céu, onde se encontrou com Deus. Celebra-se esse acontecimento no dia 27 do mês de Rajab, do calendário islâmico, sendo uma das datas mais celebradas pelos muçulmanos.
ALGUMAS DAS PROVOCAÇÕES E ATAQUES CONTRA A MESQUITA DE AL-AQSA
As escavações visando minar as estruturas da mesquita
No ano de 1967, após “Israel” ter tomado controle de Jerusalém Oriental com sua vitória na Guerra dos Seis Dias, inúmeras escavações passaram a ser feitas por autoridades israelenses perto dos muros exteriores da mesquita, em seus lados sul e oeste.
À época, os palestinos protestaram, afirmando que os sionistas estavam escavando túneis para minar as estruturas da mesquita, para que ela ruísse, e para que sobre suas ruínas os sionistas construíssem o Terceiro Templo (de Salomão).
Outras escavações ocorreram nos anos de 1984 e 1988, sob a responsabilidade do Ministério Israelense dos Assuntos Religiosos.
Neste último caso, a Primeira Intifada, levante revolucionário do povo palestino, já havia começado. Os palestinos responderam a esses ataques à mesquita arremessando pedras contra os sionistas, que, por sua vez, recorreram a suas forças de repressão.
Em 2007, novamente “Israel” começou a realizar escavações no local. Desta feita, uma vez que a resistência palestina já estava melhor organizada, e a luta dos palestinos havia avançado com a Segunda Intifada, as escavações provocaram revoltas por todo o mundo muçulmano. O líder do Hamas, Ismail Hanié, exortou a união de todos os palestinos para protestarem contra as escavações.
A trama do “Submundo Judeu” para destruir Al-Aqsa
Com o acordo de 1979 entre “Israel” e o Egito (uma capitulação do governo egípcio perante o imperialismo e o sionismo), setores da extrema direita sionista perderam a fé no governo de “Israel”. Iehuda Etzion, líder da organização “Submundo Judeu”, continuação do Gush Emmunin, se organizou, juntou de Menachem Livni, outro membro da organização, para destruir a Mesquita de al-Aqsa e a Cúpula da Rocha, santuário no centro do complexo de Al-Aqsa.
Iehuda Etzion, que era discípulo de Shabtai Ben-Dov, membro da já extinta milícia fascista Lehi, esperava que a destruição da mesquita jogasse “Israel” em guerra contra os outros países árabes, e que dessa guerra, para ele, o Estado sionista necessariamente sairia vencedor.
Assim, a destruição da mesquita resultaria na construção do Terceiro Templo e na criação da Grande “Israel”.
Iehuda Etzion e os demais envolvidos foram presos em 1984 pelo próprio Estado sionista. Sua ação, afinal, geraria uma crise de proporção gigantesca, com consequências totalmente imprevisíveis.
O Massacre de Al-Aqsa
O massacre ocorreu em 8 de outubro de 1990, durante o terceiro ano da Primeira Intifada.
Tudo foi ocasionado por uma provocação dos sionistas. O movimento fascista Fiéis do Monte do Templo decidiu lançar a pedra fundamental do Terceiro Templo, ação provocatória que foi justamente respondida com protestos por parte do povo palestino.
Contudo, mostrando que os governos israelenses que se propagandeia como democráticos não têm nenhum problema em apoiar os setores mais fascistas do sionismo, o aparato de repressão estatal foi mobilizado contra os palestinos.
Mais de 20 palestinos foram assassinados, e mais 150 ficaram feridos.
A SEGUNDA INTIFADA: EM NOVA PROVOCAÇÃO, TODA A PALESTINA SE LEVANTA CONTRA “ISRAEL”
A Segunda Intifada começou em 28 de setembro de 2000, e durou até 8 de fevereiro de 2005.
Foi um levante revolucionário de todo o povo palestino contra o acúmulo de anos de opressão por parte dos israelenses.
O estopim, contudo, foi a visita de Ariel Sharon ao complexo de Al-Aqsa, uma clara provocação aos palestinos. Afinal, Sharon não era um sionista qualquer, mas um dos piores algozes do povo palestino, sendo o principal responsável pelo Massacre de Sabra e Chatila, que resultou no assassinato brutal de mais de 5 mil palestinos e libaneses que residiam naquele campo de refugiados, na cidade de Beirute, no Líbano.
Em razão da visita, os palestinos levantaram-se em protesto, que foi duramente reprimido pelo aparato de repressão de “Israel”, que se utilizou de gás lacrimogêneo, balas de borracha e até mesmo munição letal. A repressão resultou no assassinato de dezenas de palestinos e em centenas de feridos.
Mostrando tenacidade em não se curvar diante do nazismo dos sionistas, o povo palestino se levantou e deu início à Segunda Intifada.
Foi nessa época revolucionária que o Hamas se tornou o principal partido do povo palestino.
O DILÚVIO DE AL-AQSA E A REVOLUÇÃO PALESTINA
Atualmente a Palestina vive uma Revolução, o que pode ser observado pelo fato de que todo o povo palestino se levanta em armas contra “Israel”.
Essa revolução foi desencadeada pela Operação Dilúvio de al-Aqsa, realizada no dia 7 de outubro de 2023 por várias organizações da resistência palestina, sob a liderança do Hamas.
O estopim da operação pode ser indicado, novamente, como ataques contra a Mesquita de al-Aqsa.
No dia 5 de abril daquele ano, após a oração noturna do Ramadã, palestinos se barricaram dentro da mesquita, para protegê-la dos colonos judeus que planejavam sacrificar uma cabra no local. Novamente o Estado de “Israel” se mostrou cúmplice dos colonos, cuja atividade taxa de ilegal: a polícia israelense invadiu a mesquita, vandalizando o local sagrado para os muçulmanos, e expulsando todos os palestinos que lá estavam.
Feriram pelo menos 50 palestinos e prenderam arbitrariamente mais de 400.
Em resposta, e não só a essa ação, como a mais de um século de limpeza étnica, além de ao avanço de “Israel” e de seus colonos contra todo o povo palestino, o Hamas e a resistência desataram o Dilúvio de al-Aqsa que, por sua vez, colocou em movimento a Revolução Palestina.
Observe, leitor, que o estopim que batizou a operação revolucionária ocorreu durante o Ramadã.
Agora, após quase um ano, o Ramadã inicia-se novamente.
E, apesar do anúncio por parte do governo Netaniahu não irá restringir o acesso dos muçulmanos à Mesquita de al-Aqsa, pode-se esperar que ataques e provocações serão feitas.
Afinal, o genocídio e a ação dos colonos, fascistas, está a todo vapor.
Por outro lado, a Revolução Palestina está em marcha. O povo palestino todo se levanta em armas contra “Israel”. A resistência, sob a liderança do Hamas, nunca esteve tão bem organizada e unificada. De forma que ataques e provocações contra al-Aqsa só servirão para acelerar o fim de “Israel’ e a libertação de todo o povo palestino.