Dia 25 de maio é o grande dia da libertação do Líbano. O Hesbolá, após 22 anos de ocupação sionista do país, derrotou o Estado de “Israel” em um dos momentos mais humilhantes de sua história. Na prática, essa foi a primeira derrota militar dos israelenses, que se deu por meio da luta revolucionária da resistência. Poucas semanas depois, o imperialismo, por meio da ONU, estabeleceu o que seria a nova fronteira, a “Linha Azul”, outra estrutura destruída pelo glorioso ataque do Hamas no dia 7 de outubro.
A primeira invasão do Líbano por “Israel” aconteceu em 1978 e foi chamada de Litani, em referência ao rio no sul do Líbano, que era até onde o exército sionista se propunha a dominar. Ela aconteceu, pois a resistência palestina, liderada pela OLP naquele momento, se fortalecia cada vez mais nos campos de refugiados do Líbano, em grande parte no sul do país, a região mais próxima da Palestina. A chamada “guerra civil do Líbano” foi, na verdade, uma guerra de “Israel” contra os palestinos e também contra o povo do Líbano.
A invasão em grande escala aconteceu em 1982 com a operação Paz na Galileia. Essa foi de uma violência quase indescritível. No mesmo ano, aconteceu o Massacre de Sabra e Chatila, quando o exército sionista cercou esses bairros em Beirute e armou milícias fascistas com armas brancas que assassinaram mais de três mil palestinos em dois dias. Com tamanha violência, rapidamente os libaneses se organizaram, assim surgiu o Hesbolá, o movimento criado para derrotar a ocupação sionista, em 18 anos ele seria vitorioso.
O Hesbolá organizou uma guerrilha tão poderosa que, em dois anos, já havia expulsado as tropas dos EUA do país. Derrotar “Israel” foi mais complexo, mas aconteceu de forma ainda mais bela. Em uma manhã de junho, os sionistas bateram em retirada repentinamente com o avanço do Hesbolá, foi uma espécie de Afeganistão de “Israel”. Ocuparam o país por mais de 20 anos para criar um problema ainda maior do que havia encontrado no princípio. O Hesbolá, como está claro agora, é uma ameaça muito maior do que era a OLP naquele momento.
A linha azul da ONU
A Linha Azul é uma linha de demarcação que divide o Líbano de “Israel” e das Colinas de Golã, um território sírio ocupado pelos sionistas em 1967. Ela foi definida pela Organização das Nações Unidas em 7 de junho de 2000 com o propósito de determinar se “Israel” havia se retirado completamente do Líbano. Naquele momento, era descrita como “temporária” e “não uma fronteira, mas uma “linha de retirada”. E de fato ela não foi respeitada, pois em 2006, “Israel” invadiu o Líbano novamente, mas foi rapidamente derrotado pelo Hesbolá.
Em 19 de março de 1978, o Conselho de Segurança da ONU adotou as Resoluções 425 e 426, pedindo a retirada israelense do Líbano após sua invasão, com o objetivo de garantir que o governo do Líbano restabelecesse a autoridade efetiva na área até a fronteira. O Conselho de Segurança da ONU e a OTAN estabeleceram a Força Interina das Nações Unidas no Líbano, UNIFIL, na sigla em inglês, que ocuparia a região. Essa força seria a base para tentar estabilizar a guerra na região, o que nunca fez com sucesso.
A Linha Azul é baseada no posicionamento do exército sionista antes de 14 de março de 1978. Não deve ser confundida com a Linha Verde, estabelecida em 1949, que é a linha de armistício da Guerra Árabe-Israelense de 1948, nem com a Linha Verde de Beirute durante a guerra na década de 1980. A linha de 1949 é, por sua vez, a mesma que a Linha do Mandato de 1923, que era a fronteira entre os territórios sob mandato francês e britânico. A Linha Azul de 2000 difere em cerca de meia dúzia de pequenos trechos da linha de 1949, embora nunca por mais de 475 metros. Ou seja, é um novo desenho da fronteira.
No dia 24 de maio, com a derrota de “Israel”, o enviado especial da ONU viajou para a região da fronteira para acompanhar a implementação do relatório do secretário-geral de 22 de maio. O cartógrafo da ONU e sua equipe, assistidos pela UNIFIL, trabalharam no local para identificar uma linha a ser adotada para fins práticos de confirmação da retirada israelense. Embora tenha sido acordado que essa não seria uma demarcação formal de fronteira, o objetivo era identificar uma linha no terreno que se aproximasse das fronteiras internacionalmente reconhecidas do Líbano.
Antes da guerra de 2023, já existiam disputas de fronteira entre Líbano e “Israel”. As principais estão em 14 pontos, incluindo na aldeia de Ghajar, nas Fazendas de Shebaa e nas colinas ao redor de Kfar Chouba. Dorothy Shea, ex-embaixadora no Líbano, disse que as conversas diplomáticas haviam resolvido pelo menos sete dos pontos disputados. Mas os israelenses são uma ameaça permanente ao país, independentemente do formado da fronteira. Em 2006, tentaram repetir o que haviam feito em 1978 e 1982 e foram derrotados de forma fulminante.
No entanto, a Linha Azul entrou em processo de decomposição no dia 8 de outubro. Foi quando o Hesbolá começou a atacar o Estado de “Israel” em apoio à luta do povo palestino, que havia começado no dia anterior. Desde então, o Hesbolá vem se impondo e, na prática, empurrando a linha cada vez mais para o sul. Depois de 46 anos, agora quem dá as cartas é o Hesbolá. “Israel” também ataca o sul do Líbano, mas no quadro geral, o caos no norte de “Israel” é muito maior que no sul do Líbano.
Um artigo do jornal israelense Haartez traçou o novo mapa da região em maio de 2024. A Linha Vermelha marca a nova fronteira de facto da entidade sionista, após a evacuação forçada de cerca de 200.000 colonos no norte. O Hesbolá transformou os assentamentos do norte em cidades fantasmas devido aos seus ataques. O artigo afirma: “a guerra com o Hamas e o Hesbolá, e a decisão de ‘Israel’ de evacuar dezenas de milhares de civis de sua fronteira norte com o Líbano, significa que há uma parede invisível atravessando a Galileia. Uma parede maciça foi erguida em todo o país, e todos estamos batendo nossas cabeças nela”.