O assessor da liderança do PT no Senado Marcelo Zero publicou, no último 9, fazer uma defesa envergonhada da candidata norte-americana à presidência dos EUA, a democrata Kamala Harris. Intitulado O grande perigo, o artigo de Zero, uma eventual vitória de Trump seria problemática para a América Latina porque a extrema direita “vê nossa região como uma fonte de grandes problemas, e não como um espaço para cooperação”, disse, acrescentando ainda:
“Kamala Harris não seria nenhuma maravilha, é claro. Não podemos ser ingênuos. Mas a eventual eleição de Trump representaria um retrocesso gigantesco para o Brasil e todos os países da região e do mundo que têm governos progressistas.”
Falar que a atual vice-presidente da maior potência imperialista do planeta não é nenhuma maravilha é até um elogio. Na conta de Kamala Harris estão, por exemplo, mais de 41,7 mil palestinos mortos, incluindo quase 16,5 mil crianças. Que tipo de monstro poderia ser pior do que uma mulher que participa de um esquema mafioso dessa magnitude, responsável por assassinar mais de 16 mil crianças.
Outro argumento de Zero é que “Trump representaria um retrocesso gigantesco para o Brasil e todos os países da região”. O autor pode não ter percebido, mas é no mínimo curioso que a declaração seja feita no momento em que os EUA, governado pelos democratas e por Harris, realizam uma campanha contra a Venezuela similar à empreendida pelos mesmos democratas contra a Ucrânia em 2014, inclusive com os guarimberos ateando fogo em um hospital.
A tentativa de Marcelo Zero de retratar Donald Trump como um “mal maior” frente a Kamala Harris é não apenas equivocada, mas perigosa. A democrata representa o setor mais criminoso da burguesia norte-americana, o imperialismo, sendo por isso mesmo, o mais importante apoiador do sionismo, por exemplo. Harris não só compactua com as políticas genocidas dos EUA, como também está profundamente inserida no aparato de poder que há décadas promove golpes de Estado, invasões militares e guerras que ceifam vidas em escala industrial.
Ao sugerir que a eleição de Trump traria um “retrocesso gigantesco”, Zero comete o erro clássico da pequena-burguesia: desviar o foco do inimigo principal para se apoiar em uma figura que supostamente seria menos nefasta. Trump é, sem dúvida, um defensor de uma política reacionária e fascista, porém não é a personificação mais acabada dos interesses da burguesia imperialista, que rejeitam o bilionário.
Essa ala do imperialismo, representada pelo Partido Democrata, é a verdadeira promotora de golpes de Estado em toda a América Latina e além. Harris, enquanto parte do governo de Joe Biden, não hesitou em dar continuidade à política de sanções econômicas e sabotagens políticas contra governos eleitos legitimamente, como na Venezuela e em Cuba. Sob sua liderança, os EUA seguiram promovendo o caos no Oriente Médio, apoiando o genocídio do povo palestino ao financiar o regime sionista de Israel. As mãos de Harris estão tão manchadas de sangue quanto as de Trump, se não mais.
Outro problema da operação de tentar limpar a barra de Harris, insinuando que ela é um “mal menor” em comparação com Trump, eles abrem as portas para a intromissão dos inimigos do povo e dos trabalhadores no campo da esquerda. Essa estratégia é um truque vil, que visa desarmar a luta popular contra o imperialismo, ao insinuar que devemos escolher entre dois lados de uma mesma moeda. A verdade é que tanto Trump quanto Harris representam os mesmos interesses imperialistas que escravizam povos inteiros, destroem economias nacionais e esmagam qualquer tentativa de soberania.
Enquanto Trump promove abertamente uma política de extrema direita, Harris esconde suas intenções por trás de um discurso falsamente progressista, típico dos democratas norte-americanos. Ela é uma especialista em realizar atrocidades sob o pretexto de “direitos humanos” e “democracia”. O que Zero não menciona em seu artigo é que a política de Harris é, de fato, muito mais perigosa justamente porque é mais insidiosa. Ela mantém a fachada de uma política inclusiva, enquanto perpetua o saque imperialista.
Vejamos o exemplo do Oriente Médio. Sob Harris e Biden, o apoio ao regime israelense não apenas continuou, mas se intensificou. Mais de 41 mil palestinos mortos, incluindo 16 mil crianças, estão diretamente nas mãos desse governo. Como alguém pode considerar essa figura um “mal menor”? O que Harris faz, o que os democratas fazem, é manter a fachada de uma política humanitária enquanto perpetuam genocídios e golpes ao redor do mundo.
Além disso, Harris é cúmplice das políticas de repressão e sabotagem econômica contra a Venezuela, que resultaram em uma devastação econômica no país bolivariano. Ao lado de Biden, ela é diretamente responsável por continuar as sanções que condenam milhões de venezuelanos à fome e à miséria. Isso é parte de um esforço maior do imperialismo para derrubar governos que ousam se opor aos interesses dos Estados Unidos. A pequena-burguesia tenta disfarçar isso, mas os fatos são inegáveis.
A verdade é que Harris e Trump são representantes da mesma classe social, do que há de mais nefasto no regime político norte-americano, um regime que sustenta sua hegemonia global à custa de golpes, assassinatos e destruição. Ao apoiar qualquer um desses dois, a esquerda está simplesmente escolhendo qual carrasco será mais eficaz na destruição dos trabalhadores e dos oprimidos.
A esquerda verdadeira deve rechaçar essa farsa e lutar por uma alternativa que não esteja ligada aos interesses da burguesia imperialista. Não há “mal menor” quando se trata de escolher entre dois representantes do imperialismo. O apoio envergonhado a Harris, como propõe Marcelo Zero, é uma traição aos povos da América Latina e do mundo, que sofrem sob o jugo do imperialismo norte-americano. A única posição correta é rejeitar ambos, Trump e Harris, e continuar a luta contra o imperialismo em todas as suas formas.