Na última quarta-feira (10), três índios foram baleados no estado do Paraná, o governo federal afirmou que o ataque foi realizado por latifundiários. A comunidade guarani organizou uma resposta e fez prisioneiros na tentativa de garantir a sua terra. Então, os latifundiários acionaram o Judiciário e, assim, a 1ª Vara Federal de Guaíra determinou a prisão preventiva de uma mulher apontada como liderança dos índios da região.
Segundo o juiz, a prisão estancaria “os atos violentos relacionados ao conflito possessório”. Mas obviamente o judiciário estava apenas atuando ao lado do latifúndio, prendendo mais uma liderança da luta pela terra. No entanto, desta vez sim com medo da escalada, o Ministério Público Federal alegou falta de indícios de que a mulher tenha orientado ou instigado atos de violência. O MPF também afirmou que a prisão poderia “fechar um importante canal de negociação entre as autoridades e a comunidade indígena”.
O desembargador Favreto, que barrou a prisão, lembrou que havia uma viatura descaracterizada estacionada a 100 metros da ocupação. Como a zona é rural, “qualquer veículo parado no acostamento é facilmente notado”. Para ele, a estratégia policial adotada “não parece a conduta mais acertada”. Segundo o desembargador, “os indígenas nessa situação anseiam pela abertura de um diálogo e atenção das autoridades responsáveis”. Assim, a aproximação de uma viatura discreta dias depois do cerco “com certeza precipitou uma reação de defesa”. Ele ainda afirmou que ao que tudo indica, os eventos da última quarta-feira “foram inaugurados por atos hostis perpetrados contra os indígenas” — tiros de arma de fogo em direção ao acampamento.
A decisão do Judiciário, em defesa dos índios, é muito atípica. Aparenta ser mais uma demonstração de que a crise na luta pela terra estava em um ponto de ebulição, prestes a explodir. Não é todo dia que algum agente de latifundiário é sequestrado por guaranis que lutam por sua terra. A radicalização em questão, mesmo que desorganizada, mostrou que esse é o caminho da vitória.