No século I, na província da Judeia, que seria rebatizada de Palestina, o Império Romano enfrentava uma grande rebelião. Ela durou décadas e se expressava de diversas formas, inclusive religiosas, como é comum no Oriente Médio até hoje. Um dos rebeldes era um homem chamado Jesus, que havia nascido em Belém. Sua história é incerta, os textos da Bíblia foram escritos séculos depois, e pior, alterados pelos romanos, que havia assassinado Jesus. Um marxista alemão analisou essa história, Karl Kautsky.
Em seu livro Os Fundamentos do Cristianismo, Kautsky analisa a luta que se travava entre o povo da Judeia e o império romano. Ele afirma: “se os cristãos em tempos posteriores não conseguiam se resignar a abandonar a ascendência real do seu Messias, apesar de sua origem divina, estavam ainda mais ansiosos para apagar outra marca de seu nascimento judeu: sua rebeldia”. E então faz uma explicação da trajetória política de Jesus.
Kautsky afirma:“Embora Jesus geralmente apareça como gentil e submisso, ocasionalmente ele diz algo de uma natureza bastante diferente, o que sugere que, quer ele realmente tenha existido, ou seja, apenas uma figura ideal e imaginária, ele viveu como um rebelde na tradição original, alguém que foi crucificado por sua revolta malsucedida”. E então passa a citar alguns exemplos que, mesmo com a censura posterior dos romanos aos textos bíblicos, mostram a luta política de Jesus.
“Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso? Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se! Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; Porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três”. (Lucas 12, versículos 49 e seguintes).
E também: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10, versículo 34).
Em outros momentos, a Bíblia deixa claro que Jesus e seus discípulos andavam armados: “Guarda outra vez a tua espada no seu lugar; pois todos os que lançarem mão da espada, à espada perecerão. Pensas tu que eu não poderia agora orar ao meu Pai, e ele me daria mais de doze legiões de anjos? Mas como então se cumpririam as escrituras?” (Mateus 26, versículos 52 e seguintes).
Então Kautsky faz um questionamento muito acertado. “Ora, se Jesus fosse totalmente contra toda violência, por que ele teria chamado por espadas? Por que ele instruiu seus amigos a seguirem com ele carregando armas?” E tira a conclusão: “essa contradição só se torna compreensível se supusermos que a tradição cristã originalmente contava sobre um golpe planejado, durante o qual Jesus foi preso, um golpe ousado para o qual o momento parecia estar maduro após a expulsão dos cambistas do templo ter sido bem-sucedida. Os editores posteriores não ousaram simplesmente eliminar essa história, cujas raízes eram profundas; em vez disso, eles atenuaram seu ponto central, reduzindo o uso da força a um ato tentado pelos apóstolos contra a vontade de Jesus”.
Analisando de um ponto de vista político, a história faz muito mais sentido. A crucificação aconteceu porque Jesus enfrentava o Império Romano. Essa era a punição dos subversivos, tal qual Espártaco, que liderou a rebelião dos escravos. Jesus teria morrido no ano 33, já no ano 66 começaria a chamada Guerra Romano-Judaica. Era, portanto, um momento de grande agitação política contra o domínio estrangeiro do país.
Com base nessa análise, Kautsky também explica a traição de Judas: “seria uma questão totalmente diferente se fosse uma questão de um golpe de Estado planejado. Nesse caso, haveria algo a trair, um segredo que valeria a pena pagar. Se o plano e o golpe de Estado fossem eliminados da história, o relato da traição de Judas não teria propósito. Como a traição era obviamente muito conhecida entre os camaradas e a amargura contra o traidor era muito forte, o evangelista não poderia ignorar essa circunstância. Ele teve que construir uma nova traição a partir de sua imaginação, no entanto, não teve muito sucesso”.
Ou seja, na luta contra o Império Romano, um dos seguidores de Jesus se vende para a repressão. É uma história muito mais fácil de compreender, algo que aparece em diversos episódios da luta política, aquele que denuncia o movimento para a polícia.
Kautsky aponta mais uma contradição na história oficial: “a captura de Jesus é uma invenção tão infeliz quanto a versão atual da traição de Judas. O homem que é preso é justamente aquele que prega o caminho pacífico, enquanto os apóstolos, que sacaram suas espadas e atacaram, não são incomodados em nada. De fato, Pedro, que cortou a orelha de Malco, segue os guardas e se senta calmamente entre eles no pátio do sumo sacerdote e conversa com eles. Imagine um homem que resiste à prisão de um camarada com força, dispara um revólver e fere um policial e depois acompanha pacificamente as forças da lei até a delegacia para se aquecer e beber um copo de cerveja com eles! Seria difícil inventar algo mais absurdo. Mas é essa absurdidade que mostra que havia algo aqui para ser encoberto a qualquer custo.”
Novamente aparece a tendência do Império Romano, na época em que assumiu o cristianismo como religião oficial, de alterar a história para se isentar da culpa. É nesse mesmo sentido que Bíblia culpa os próprios hebreus pela morte de Jesus quando é óbvio que quem o matou foram as autoridades do Império.
E a evidência história também converge com a tese de que Jesus era um rebelde. “A conjectura de que a execução de Jesus foi causada por sua rebelião não é apenas a única suposição que torna as alusões nos Evangelhos inteligíveis, mas também está completamente de acordo com a natureza da época e do lugar. Desde a época em que a morte de Jesus é situada até a destruição de Jerusalém, os distúrbios nunca cessaram ali. Lutas de rua eram algo bastante comum, assim como a execução de insurgentes individuais. Uma luta de rua por parte de um pequeno grupo de proletários, e a consequente crucificação de seu líder, que vinha da eternamente rebelde Galileia, poderia muito bem ter causado uma profunda impressão nos sobreviventes que participaram dela, sem obrigar os historiadores a notarem tal ocorrência cotidiana”.
Ou seja, Jesus foi uma liderança de um movimento de luta contra um império que dominava o seu território. Seus seguidores levaram adiante essa luta contra o Império Romano e eram perseguidos por ele. Foi só após séculos que o Império, derrotado pelo avanço do cristianismo, teve de adotar a religião, mas, ao mesmo tempo, a alterou consideravelmente.
Fato é que Jesus é uma das figuras históricas mais importantes da Palestina, é admirado tanto pelos cristãos quanto pelos muçulmanos e provavelmente pelos judeus originários da Palestina. Os únicos que não admiram Jesus são os sionistas, que reprimem brutalmente a população de cristãos que lá vive há 2 mil anos.