Nesta segunda-feira (4), Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) acusou Benjamin Netaniahu e seus aliados de estarem realizando uma campanha para destruir a agência, cuja principal atuação é fornecer ajuda humanitária ao povo palestino, atuando nessa função desde 1948, quando foi criada.
Segundo Lazzarini, “a UNRWA enfrenta uma campanha deliberada e concertada para minar as suas operações e, em última análise, acabar com elas”, acrescentando que “parte desta campanha envolve inundar os doadores com desinformação destinada a fomentar a desconfiança e manchar a reputação da agência”.
Vale relembrar que a principal campanha de calúnias contra a agência foi iniciada em 26 de janeiro de 2024, quando o Estado de “Israel” acusou 12 funcionários da UNRWA de terem lutado na operação Dilúvio de al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023.
Essa campanha foi desatada no mesmo dia em que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) proferiu decisão determinando que “Israel” tomasse todas as medidas para prevenir quaisquer atos que pudessem ser considerados genocidas conforme a Convenção do Genocídio de 1948.
Quando fez a acusação, o governo israelense também alegou que cerca de 13 mil funcionários da agência teriam ligações com as organizações da resistência palestina, em especial o Hamas e a Jiade Islâmica, sendo que 190 deles seriam militantes de tais partidos.
Então, ao mesmo tempo que “Israel” e o imperialismo utilizam de seu aparato de propaganda para caluniar o Hamas e a resistência, com acusações falsas de estupros de mulheres e bebês decapitados, o Estado sionista acusa os funcionários da agência de serem do Hamas e da Jiade, para que os doadores parem de financiar a UNRWA e os palestinos morram de fome.
Conforme afirmou Lazarini à época, “Israel” não forneceu nenhuma prova para suas acusações. Eventualmente, a acusação foi desmascarada como sendo falsa, como ocorre com todas as campanhas do sionismo. Contudo, 10 funcionários da agência foram demitidos (os outros dois já haviam falecido), segundo pronunciamento do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Apesar disto, diversos países imperialistas, como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha e Japão, suspenderam todo o financiamento da agência. Uma demonstração inequívoca de que os países imperialistas são os avalistas do genocídio contra os palestinos. Lazzarini denunciou que “apesar destas ações rápidas e decisivas, e da natureza infundada das alegações, 16 países suspenderam o seu financiamento, totalizando 450 milhões de dólares”.
Recentemente, também na segunda-feira (4), o contra-almirante Daniel Hagari, principal porta-voz militar de “Israel”, reiterou a acusação: disse que 450 funcionários da agência (de um total de 30 mil) são combatentes da resistência (“operativos militares em grupos terroristas em Gaza”, na linguagem dos sionistas). Novamente, “Israel” não forneceu nenhuma prova dessas alegações.
Mas continua utilizando essas calúnias como pretexto para os ataques contra a agência, seja através das sanções do imperialismo, seja através de ataques militares. Algo que serve para comprovar as afirmações do comissário-geral da UNRWA, de que “Israel” está tentando destruir a agência.
Outros fatos que servem para comprovar isto é que suas instalações e funcionários vêm sendo alvo de ataques sistemáticos das forças israelenses de ocupação desde o 7 de outubro, sejam esses ataques através de bombardeios ou pelas forças terrestres.
Em seu 86º relatório sobre a situação na Palestina (Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental) desde outubro de 2023, a UNRWA contabiliza que, até o dia 4 de março, as forças israelenses de ocupação já tinham assassinado 162 funcionários da agência.
Ademais disto, “foram relatados 337 incidentes que afetaram as instalações da UNRWA e as pessoas dentro delas desde o início da guerra (alguns com múltiplos incidentes que afetaram o mesmo local), incluindo pelo menos 51 incidentes de uso militar e/ou interferência nas instalações da UNRWA. 155 instalações diferentes da UNRWA foram afetadas”.
Em razão disto, a agência estima que pelo menos 404 palestinos que haviam se refugiado nos estabelecimentos da agência foram assassinados pelas forças de ocupação, em ações que feriram mais de 1.385. “A UNRWA ainda está verificando o número de vítimas causadas por incidentes que afetaram as suas instalações e observa que estes números não incluem algumas vítimas notificadas onde o número de feridos não pôde ser determinado”, destacou a organização em seu 86º relatório.
Tais fatos expostos acima mostram a intenção inequívoca de “Israel” em destruir a UNRWA. Afinal, se o sionismo quer expulsar os palestinos de suas terras, estando disposto a exterminá-los no processo, é certo que irão tentar destruir as organizações que prestam ajuda humanitária.
Com os ataques à UNRWA e ao fornecimento de ajuda humanitária em geral, “Israel” já assassinou de fome 18 crianças palestinas, apenas nesta semana. A destruição de agência mostra que os sionistas querem matar ainda mais crianças palestinas de fome.
Expondo sua natureza genocida, a própria cúpula do Estado de “Israel” já deixou claro a intenção de desmantelar a agência. Há cerca de um mês, na esteira das acusações caluniosas contra a agência, o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu declarou que “a UNRWA não faz parte da solução, faz parte do problema. Está na hora de iniciar o processo de substituição da UNRWA por outros órgãos que não estejam contaminados pelo apoio ao terrorismo”.
Mostrando que se trata de uma campanha orquestrada previamente, antes mesmo das acusações, no final de dezembro de 2023, o Haaretz, jornal sionista, noticiou sobre “um relatório confidencial de alto nível do Ministério das Relações Exteriores” delineando um plano de três etapas para forçar a UNRWA a sair de Gaza do pós-guerra, com a primeira etapa envolvendo um “relatório abrangente sobre a alegada cooperação da UNRWA com o Hamas“.
No mesmo sentido, no dia 4 de janeiro, o jornal Israel Hayom noticiou que havia membros do Knesset (parlamento israelense) tentando suspender o financiamento mundial à UNRWA.
Vale ressaltar que a UNRWA não se limita apenas ao fornecimento de bens de primeira necessidade. Também denuncia os crimes de “Israel” contra os palestinos. Nesse sentido, Philippe Lazzarini disse, no início dessa semana, que funcionários da agência foram torturados pelo aparato de repressão de “Israel” para que eles confessassem ser militantes do Hamas.
As denúncias fazem parte de um relatório elaborado pela agência, no qual constam os relatos de centenas de palestinos que foram feitos prisioneiros pelo Estado sionista. A idade dos prisioneiros, muitos dos quais já foram liberados, varia entre 6 e 82.
Segundo informou a UNRWA, os homens e mulheres palestinos que foram encarcerados relataram todo tipo de tortura e abuso por parte dos israelenses, inclusive abuso sexual e estupros. O relatório deverá ser publicado logo menos e, por isso, a campanha orquestrada contra a agência se intensifica.
Nessa quarta-feira (6), Hillel Neuer, diretor-executivo da UN Watch, uma ONG com sede em Genebra, cuja missão declarada é “monitorar o desempenho das Nações Unidas pelo critério de sua própria Carta“, publicou em seu perfil do X (antigo Twitter) mensagem acusando a UNRWA de estar infestada de “terroristas assassinos”:
“Nunca na história uma agência incumbida de ser humanitária esteve tão infestada de terroristas assassinos. Nós avisamos você por 10 anos. Você não fez nada. Em vez disso, você nos atacou. Agora viemos responsabilizá-lo criminalmente, Sr. Lazzarini, você e todos os seus colegas.”
Neuer é um notório sionista, já tendo sido secretário jurídico da Suprema Corte de “Israel” e bolsista de graduação no think tank Shalem Center e no think tank sionista Instituto Canadense de Pesquisa Judaica.
Na medida em que “Israel” não consegue vencer militarmente o Hamas e demais organizações da resistência, segue intensificando o genocídio contra os civis palestinos, na tentativa de dobrá-los.
Mas não acontecerá, pois há uma revolução em curso na Palestina. O estado de espírito dos palestinos é de lutar até as últimas consequências, para acabar com “Israel” e o sionismo, conforme constatou Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), quando de sua visita ao Catar.