O sítio Em defesa do comunismo publicou uma extensa matéria intitulada “Sobre o comportamento dos monopólios chineses no México”, que trata da penetração do capital chinês no México. São quase vinte mil caracteres tentando explicar detalhadamente como funcionam os investimentos chineses em diferentes áreas da economia mexicana, seja nos transportes, mineração, energia eólica, especulação imobiliária e até como isso afeta a expansão do crime organizado. Deixando de lado toda a minúcia, o que nos interessa são as conclusões do artigo: a China seria um país imperialista, e que são “as rivalidades imperialistas que levam à guerra ambos os grupos, o dos EUA e o da China”.
Quem quer que tenha escrito a matéria deveria ter se atentado no modo como o capital chinês aborda o mercado mexicano, e isso mostraria claramente que não se trata um verdadeiro país imperialista. O capital chinês, como mostra o artigo, está sendo canalizado “através da formação de um Fundo de Investimentos China-México, com uma contribuição superior a um bilhão de dólares por parte de investidores chineses, e seriam administrados por instituições do Banco Mundial através de uma instituição financeira internacional”.
Os Estados Unidos gastaram, apenas no Afeganistão, US$ 2 trilhões em vinte anos de ocupação, o que nos dá o resultado de US$ 100 bilhões/ano. Não bastasse isso, há saldo de quase um milhão de mortos, a maioria civis, o aumento da miséria, da produção de ópio etc. São US$ 8,33 bilhões por mês; US$ 274 milhões por dia.
Temos que lembrar que gastaram outros trilhões na invasão ao Iraque, à Síria, há ainda a destruição da Líbia, da Somália, da Iugoslávia, a guerra por procuração na Ucrânia, a presença militar na Ásia, na América Latina, com especial destaque para a Colômbia e para Essequibo – para garantir a extração de petróleo na Guiana pela Exxon-Mobil.
O imperialismo é uma máquina de guerra que garante seu domínio sobre os mercados internacionais por meio da violência. Estima-se que os custos militares dos Estados Unidos estejam em torno de US$ 900 milhões. O autor da matéria sobre os investimentos chineses deveria ter se perguntado: quantos países a China tem invadido ou destruído nestes últimos cem anos?
A China, ao contrário do que se tenta insinuar, não é um país imperialista, mas um país atrasado que está sendo ameaçado pelo imperialismo. Os Estados Unidos estão formando coalizões militares na região que chamam de Indo-Pacífico, como o QUAD e a AUKUS; tem tentando separar Taiwan, pretende colocar o Japão na OTAN, envolve no conflito a Índia, as Filipinas. É disso que se trata o imperialismo.
Enquanto o imperialismo implementa bases militares na Síria para garantir o roubo de petróleo e trigo, a própria matéria do Em Defesa do Comunismo diz que “Os capitais chineses no México se orientam mais para as obras de infraestrutura no transporte terrestre de passageiros, mas também no transporte ferroviário, onde a empresa chinesa CRRC Zhuzhou Locomotive desde 2021 importou trens para o serviço de transporte coletivo de Nuevo León; enquanto a empresa China Communications Construction Company participa na construção do primeiro trecho do Trem Maia, em sociedade com a Mota-Engil. Ambas as empresas também construirão projetos ferroviários em Jalisco e Monterrey, enquanto a CRRC Zhuzhou Locomotive, em particular, recebeu em 2020 um contrato de 32 bilhões de pesos para dar manutenção por 19 anos à Linha 1 do Metrô da Cidade do México (CDMX)”.
O próprio artigo reconhece que “os capitais chineses não são os únicos que chegam ao país, pois os EUA continuam ocupando o primeiro lugar em investimento estrangeiro direto (IED)”. O problema, que a matéria mal consegue esconder, é que esses capitais “são significativos em termos percentuais, [e] mantêm um aumento constante”.
Supresa: a China é um país capitalista
Com algumas décadas de atraso, a matéria aponta que “os monopólios chineses não são apenas exportadores de mercadorias, mas também, e principalmente, de capitais; sobretudo seguindo os planos de expansão capitalista da China pelo mundo”.
Sim, a China é um país capitalista. Há um detalhe, porém, que o articulista deixou de lado: a China serviu para as grandes empresas e monópolios americanos e europeus aumentarem seus lucros com a abundância de mão de obra barata e semi escrava chinesa. Vale lembrar que o México, antes da China, serviu para o mesmo propósito. Inúmeras empresas americanas transferiram sua produção para solo mexicano atrás de mão de obra barata.
O neoliberalismo se aproveitou da abundância do mercado de trabalho chinês, só não pôde adivinhar que a fuga de empresas para a China desenvolveria o país e que este entraria na concorrência pelo mercado global. O imperialismo foi quem criou para si o problema, e se tem uma coisa que neoliberais não admitem é a concorrência.
Pró-imperialismo
A matéria da Em Defesa do Comunismo, nada mais é que uma defesa do imperialismo. Todas as críticas à penetração do capital chinês no México, a exploração da mão de obra, o problema dos cartéis do crime, são apenas uma cortina de fumaça.
Dizer que “a natureza imperialista dos monopólios chineses em nada se diferenciam dos norte-americanos ou europeus” serve apenas para justificar os ataques do imperialismo sobre um país atrasado.
Outra mentira que confunde a classe trabalhadora é lançada na matéria, que afirma que vivemos “tempos convulsionados pela guerra interimperialista na Ucrânia”, uma guerra claramente iniciada contra a Rússia, que também é acusada de ser imperialista.
Embora a matéria encerre dizendo que “Nossa posição [a da esquerda] deve ser contra os monopólios, sejam de que capital forem”, a única crítica é feita à China, que incomoda a dominação do imperialismo, principalmente o americano.
Matérias como essa publicada no Em Defesa do Comunismo são um exemplo de como setores da esquerda, que se dizem defensoras do socialismo, nada mais são que apoiadores do imperialismo, o principal inimigo da classe trabalhadora.