Desde que entrou no mercado norte-americano, a empresa brasileira do setor de alimentos JBS vem sendo alvo de golpes atrás de golpes vindos do capital imperialista. Em 2007, a JBS comprou a processadora de carnes Swift & Company. Matéria publicada no Estado de S. Paulo afirma que, em 2022, cerca de 49% da receita da empresa veio do mercado dos Estados Unidos, enquanto apenas 14% veio do brasileiro. A empresa vem tentando há mais de 10 anos negociar ações na Bolsa de Valores de Nova Iorque, porém enfrenta um poderoso lobby que busca manter a imprensa de fora.
Cabe já alertar os mais afoitos que não se trata aqui de defender a JBS como se fosse uma empresa “do bem”, até porque é uma empresa capitalista e não existe capitalismo “do bem”. Este Diário tem denunciado frequentemente o descaso da JBS com seus trabalhadores e a Corrente Sindical Nacional Causa Operária (CSNCO) tem atuado em favor desses trabalhadores no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carne, Derivados e do Frio no Estado de São Paulo. No entanto, é importante denunciar como o imperialismo atua asfixiando o desenvolvimento do capitalismo brasileiro.
Um exemplo do poder de intervenção do imperialismo foi a Operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal em 2017. A operação mirou especialmente nas gigantes JBS e BRF e visava “proteger” os consumidores do Brasil e dos países para os quais essas empresas importavam carnes. Como se comprova pelo acúmulo de parcerias escusas da PF com agências do governo norte-americano, na dúvida é prudente desconfiar da sua motivação. A operação segue aberta, sem nenhum indiciamento. No entanto, a repercussão internacional já bastou para afetar a confiança dos compradores. No mesmo ano, foi aberta a “CPI da JBS”, que terminou sem nenhum indiciado.
No começo de 2024, senadores dos Estados Unidos e do Reino Unido enviaram cartas à comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos (SEC na sigla em inglês) pressionando para que o órgão impeça que a JBS possa oferecer ações na Bolsa de Nova Iorque. Os “senadores” (na verdade “lordes”, membros da Casa dos Lordes, que é o modelo original para os senados modernos) do Reino Unido atacaram utilizando-se da política “ambientalista” do imperialismo, pelo fato da empresa ter frigoríficos na Amazônia. Segundo sua carta, a rejeição da JBS no mercado de ações norte-americano enviaria uma mensagem de que “os Estados Unidos permanecem firmes em seu compromisso de combater as mudanças climáticas”.
O lorde Goldsmith de Richmond Park, ou Zac Goldsmith, foi um dos signatários da carta e respondeu email para o Estado de S. Paulo. Goldsmith afirmou que “além de prejudicar as pessoas que vivem e cuidam das florestas, (a JBS) está contribuindo para um colapso na biodiversidade e causando considerável dano ao planeta que compartilhamos. Seus negócios, portanto, são de interesse de todos”. Como se o Brasil, por exemplo, tivesse alguma responsabilidade pelas atividades da British Petroleum por conta do vazamento de 5 milhões de barris de petróleo no Golfo do México em 2010, onde ainda morreram sete trabalhadores.
No senado norte-americano, democratas e republicanos se uniram para boicotar a JBS. A carta teve a assinatura, por exemplo, do democrata Bernie Sanders e do republicano Marco Rubio, dois extremos do limitado espectro político do parlamento do país. O foco deles são acusações de corrupção. E os funcionários do imperialismo dizem na carta que “a aprovação da proposta de listagem da JBS sujeitaria os investidores dos EUA ao risco de uma empresa com um histórico de corrupção flagrante e sistêmica, e ainda consolidaria seu poder de monopólio”. Afinal, os senadores do país que detém os mais importantes monopólios do mundo se preocupam muito com a existência de monopólios, desde que envolvam capitalistas de países atrasados.
Um mês depois, no final de fevereiro, foi a vez da procuradoria-geral de Nova Iorque entrar com ação contra subsidiárias norte-americanas da JBS. A acusação é de fazerem falsas afirmações sobre “metas de emissão de gases do efeito estufa” mirando consumidores “ambientalmente conscientes”. A acusação afirma que a empresa não tem um plano viável para zerar emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040. Mesmo enfrentando contestações dentro dos Estados Unidos, o processo já serve para atrapalhar os planos de expansão internacional da empresa.
Outro exemplo citado pelo Estado de S. Paulo é o movimento “Ban the Batistas”, que significa “Banir os Batistas”, em referência à família que é proprietária da empresa. Lançado em novembro de 2023, o movimento é registrado como organização 501-C4, que pode ocultar seus financiadores e atuar fazendo lobby. Pelo volume das ações contra a empresa brasileira, fica evidente que se trata de uma defesa de mercado operada pelos representantes do país mais poderoso atualmente.