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Caso Silvio Almeida

Identitários inventam a presunção de culpa

Youtuber afirma que Silvio Almeida terá de "provar a sua inocência"

Silvio Almeida

Em menos de uma semana, muitas barbaridades já foram ditas pela esquerda acerca do caso envolvendo o ex-ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, e a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial. De uma maneira geral, a esquerda pequeno-burguesa, seguindo da ideologia identitária formulada pelas Organizações Não Governamentais (ONGs) sediadas nos Estados Unidos, apresentaram a mesma ideia: se uma mulher acusou um homem de assédio, sua palavra tem que ser tomada automaticamente como verdade e o homem deve ser, portanto, imediatamente sancionado.

Essa é a posição do youtuber Humberto Matos, historiador de um tal Coletivo Soberana. No vídeo O que podemos dizer do caso de Silvio Almeida, Matos, além de defender a mesma posição, chega a uma conclusão muito grotesca – mas que, convenhamos, é até uma conclusão natural daqueles que assumiram essa posição. Segundo Matos diz textualmente, Silvio Almeida terá de provar sua inocência para que ele o considere inocente! Isto é, Almeida é culpado até que se prove o contrário!

É a defesa escancarada do reino do arbítrio. Ninguém deveria ser obrigado a provar que é inocente – até porque, em muitas circunstâncias, tal coisa pode ser impossível. Alguém poderia provar, por exemplo, que não estava em um determinado local em uma determinada hora, contrariando a acusação de que tivesse praticado um determinado crime naquele local e naquela hora.

Mas como provar, por exemplo, que nunca cometeu nenhum caso de assédio? E mesmo que estejamos falando do primeiro caso de prova, como exigir que alguém viva a todo momento preocupado em colher provas contra acusações que sequer sabe que serão feitas contra si?

É uma ideia sem pé nem cabeça, mas que serve, obviamente, para regimes autoritários. Para uma ditadura, não importa a capacidade de uma pessoa se defender ou não. A única coisa que importa é a possibilidade de aquele que acusa triturar o acusado. É a política que visa não proteger os direitos das pessoas, mas sim os privilégios de quem tem o poder de acusar.

Enquanto concepção de Estado, é uma loucura. Implica em dizer que os juízes podem trancafiar pessoas na cadeia, caso elas não consigam “provar sua inocência”. Enquanto concepção geral para a luta política, também é um erro grave. Implica em permitir que um governo como o do presidente Lula seja manipulado por meio de ONGs e da imprensa capitalista.

Tudo se torna ainda mais ridículo quando levado em consideração a argumentação de Humberto Matos. Diz ele:

“Mas, poxa, o que a ONG divulgou são 14 vítimas. 14 vítimas, Clara. A mais conhecida é a Anielle Franco, que inicialmente não se pronunciou, mas internamente se pronunciou, sim. Isso já partiu pra imprensa. Ela não negou a situação. Ficou insustentável, gente, porque, poxa, se você tem, a princípio, 14 vítimas e não houve uma negativa, né? (…) Por isso que eu digo: não dá para passar pano. Não dá para passar pano, tá? É muito difícil das denúncias não se sustentarem”.

Primeiro, que nem foram de fato 14 vítimas – foram 14 pessoas que supostamente teriam testemunhado algum desses casos. Segundo que a vítima poderia ser Anielle Franco ou Madre Tereza de Calcutá – não deveria mudar em absolutamente nada a política para essa situação.

Destacar quem é a suposta vítima de um caso serve apenas para encobrir a falta de provas. Esse é, inclusive, o método preferido da direita para fazer acusações estapafúrdias contra a esquerda. Quando a burguesia estava em uma campanha desesperada para impedir que Lula fosse eleito em 1989, ela, por meio de seu candidato improvisado Fernando Collor de Mello, foi atrás justamente de uma ex-esposa do petista para que ela fizesse acusações contra ele.

Não importa quem faça a denúncia que for. Essa ideia, oriunda do identitarismo, de que a mulher sempre tem razão – e de que a mulher negra tem mais razão ainda – não é nada democrática. Visa apenas subverter aquele que deveria ser o funcionamento normal de qualquer sociedade: ninguém deve ser considerado culpado antes que seja provado qualquer coisa a seu respeito.

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