Logo após o assassinato covarde de Ismail Hanié, praticado em 31 de julho pelo Estado de “Israel”, a imprensa sionista passou a divulgar que Maomé Deif, líder militar do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), havia sido morto pelas forças de ocupação. Trata-se, no entanto, de mais uma mentira do aparato de propaganda de “Israel”.
A confirmação de que Maomé Deif está vivo foi feita por Osama Hamdan, representante do Hamas no Líbano, em entrevista recente à agência Associated Press (AP).
Deif, que é um dos fundadores do braço militar do Hamas, as Brigadas al-Qassam, permanece sendo seu principal comandante militar, tendo sido um dos principais arquitetos da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, junto de Iahia Sinuar, o atual líder do Birô Político do Hamas.
Ainda à AP, Hamdan declarou que os sionistas utilizaram a alegação de que assassinaram Maomé Deif para justificar um ataque que ‘Israel’ realizou em julho, que resultou na morte de 88 palestinos.
Há apenas duas fotos suas disponíveis publicamente, sendo a mais recente delas do ano 2000. Sua aparência hoje deve ser muito diferente da imagem reproduzida nesta matéria. O mentor das brigadas Al-Qassam tem hoje 58 anos e, segundo reportagem da emissora britânica BBC, durante a primeira década do século foi alvo de quatro tentativas de assassinato israelense que supostamente lhe custaram um olho e o deixaram alejado, possivelmente dependente de uma cadeira de rodas. Há relatos ainda do jornalista israelense Shlomi Eldar, que entrevistou muitos membros do Hamas, de que desde 2006 Deif tem estilhaços alojados em seu crânio, frutos de um dos atentados contra sua vida, e que desde então precisaria de tranquilizantes para lidar com as enxaquecas provenientes do ferimento.
Deif é um fantasma e as descrições de seus feitos, de sua insistente sobrevivência contra a perseguição israelense, deram-no um caráter mitológico que, naturalmente, é aproveitado pelas lideranças políticas do Hamas. Após ataque contra o “convidado” em 2014, em bombardeio que acabou por vitimar sua esposa e seu filho mais novo, as autoridades do Hamas simplesmente declararam que Deif “ainda estava vivo e liderando a operação militar”.
Mesmo os serviços de inteligência israelenses têm dificuldade para obter mais detalhes não apenas sobre o paradeiro do líder das brigadas Al-Qassam, mas sobre sua vida. Os poucos detalhes disponíveis o colocam como um palestino comum, nascido após a Nakba, em 1948.
Em 1965, Deif, então Mohammed Al-Masri, nasceu no campo de refugiados Khan Yunis, estabelecido desde a Nakba, quando palestinos foram expulsos de suas terras pelos sionistas. À época, Gaza estava sob domínio egípcio. Sua família era muito pobre, o que levou o jovem Al-Masri a largar os estudos para ajudar o pai no trabalho. Ainda assim, conseguiu graduar-se como bacharel em Química pela Universidade Islâmica de Gaza em 1988.
Nos anos 1990, com um papel secundário, ajudou a organizar atentados contra “Israel”. Muitos de seus companheiros foram capturados ou mortos e ele próprio foi preso pela Autoridade Palestina em maio de 2000, a pedido de “Israel”. Já como Mohammed Deif, o militante palestino estava na lista dos mais procurados pelas forças sionistas desde 1995.
A partir de 2002, Deif tornou-se de fato o líder das brigadas e transformou-as, de um grupo difuso de organizações amadoras e semi-independentes, num verdadeiro exército bem organizado. O resultado de sua ação é visível nas ofensivas de 2014, 2021 e agora, em 2023, a mais bem-sucedida de todas.
Os fragmentos de informação que juntamos para construir a história de Deif transformam-no, de certa forma, no representante perfeito da resistência palestina do último período. Nascido em Gaza, o menino que viu sua família viver com as mazelas de ter sido expulsa de suas terras juntou-se ao Hamas para resistir às forças ocupantes, participou ativamente das duas Intifadas e hoje comanda a guerrilha armada contra o sionismo. Deif expressa o direito sagrado do povo palestino à sua independência. É difícil saber se o guerrilheiro revolucionário está vivo ou se morreu e alguém tomou seu lugar, mas sua força vive, impõe medo nos sionistas e enche os palestinos de vontade de lutar.