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Revolução dos Cravos

Há 50 anos, a revolução operária chegava a Portugal

No ano em que se comemoram 50 anos da Revolução dos Cravos, uma nova situação revolucionária mundial se apresenta no horizonte

Em 1974, o povo português estava sob o regime do Estado Novo. Já fazia 41 anos de ditadura fascista, que teve início em 1933 quando António de Oliveira Salazar assumiu o poder, com apoio do imperialismo e da burguesia portuguesa. Na época em que ocorreu a Revolução dos Cravos, Portugal já estava em crise, especialmente em razão de seu império colonial que se desmanchava.

Sendo pioneiro, através das Grandes Navegações, na expansão colonial que eventualmente permitiu a consolidação do capitalismo no mundo como o modo de produção dominante, Portugal também foi o primeiro dos impérios coloniais europeus a decair, sobrevivendo exclusivamente do parasitismo sobre suas colônias. No ano de 1822, o país ibérico perdia sua principal colônia, de forma que, quando as demais se insurgiram contra o domínio português a partir do fim da Segunda Grande Guerra, o Estado Novo foi se afundando em uma crise cada vez maior.

A primeira grande crise do governo de Salazar foi quando, na década de 1950, os povos de várias de suas colônias na África se insurgiram em um movimento nacionalista contra o domínio colonial. Contudo, foi a partir da década de 1960 que se acelerou o fim do império português, com as perdas de suas colônias. As primeiras no continente asiático, quando o governo da Índia de então decidiu por anexar Goa, Diu e Damão. O território de Dadra e Nagar Haveli já tinham sido anexados em 1954. Assim, o país ibérico perdeu seu controle territorial sobre suas colônias na Índia, a chamada Índia Portuguesa. Isto se deu em 1961, mesmo ano em que teve início a Guerra Colonial Portuguesa.

A Guerra foi travada no continente Africano, e eclodiram em Angola, Moçambique e Guiné portuguesa, entre os anos de 1961 e 1964. As guerras duraram até a queda do Estado Novo, em 1974, tendo sido fator fundamental no fim da ditadura fascista. Salazar não viveu para ver a queda de seu regime, pois morreu em 1970, em decorrência das complicações de um derrame que lhe acometera em 1968. 

Por parte do lado português, foram mobilizados cerca de 1,4 milhões de homens para conter o levante revolucionário dos povos africanos, dentre militares e funcionários civis. Destes, aproximadamente 50.000 mil eram portugueses lotados em Angola, Moçambique e Guiné Bissau, enquanto que 400 mil eram de soldados africanos mobilizados. Do outro lado do conflito, grupos revolucionários, os principais deles o MPLA em Angola, o PAIGC FLING na Guiné, e a FRELIMO em Moçambique, contavam algo entre 40 mil e 60 mil homens.

Apesar da disparidade de números, a tenacidade dos revolucionários africanos provou aproximadamente 29 mil baixas nas fileiras do Exército Português, das quais 8.831 foram portugueses.

Essas derrotas do exército português nas colônias resultaram em uma crise nas forças militares, não apenas entre os soldados, mas também entre o oficialato. Crise da qual surgiu o Movimento dos Capitães, do qual, por sua vez, surgiria o Movimento das Forças Armadas. Este foi criado em 9 setembro de 1973, no Monte Sobral (Alcáçovas), em uma reunião que contou com 136 oficiais, capitães em sua maioria. A criação do MFA recebeu apoio dos oficiais que estavam lotados nas colônias.

Apesar do avanço do movimento independentista, contudo, o então primeiro-ministro, Marcelo Caetano, que havia sucedido Salazar em 1968, recusava-se a conceder a independência às colônias.

Em 1973, a situação de Portugal se agravou ainda mais, em razão da crise geral do imperialismo, que se manifestou sob a forma da Crise do Petróleo. Foi a partir de dezembro deste ano que as contradições entre os militares e o governo do Estado Novo se intensificaram ao ponto de sua luta ganhar amplo apoio das massas, de forma que entre essa data e o triunfo da Revolução, em 25 de abril de 1974, houve mais de 40 grandes greves, que contaram com a participação de cerca de cem mil trabalhadores e milhares de estudantes.

Contudo, ante a ausência de uma direção marxista, os militares, através do MFA, continuaram à frente do movimento. 

Uma tentativa de tomada do poder foi feita em 16 de março de 1974, por oficiais do Regimento de Infantaria 5, saindo das Caldas da Rainha, rumo a Lisboa. Conhecida como Levantamento das Caldas, a tentativa falhou, o que obrigou o MFA a se organizar com vistas à tomada do poder.

Esta aconteceu em 25 de abril de 1974, com os militares assumindo o controle de quartéis, aeroportos, estações de rádio e cercando os ministérios, de forma a impedir qualquer reação por parte do Estado Novo e dos militares que permaneciam alinhados ao regime.

Apesar de liderado por um setor pequeno-burguês, isto é, oficiais das forças armadas portuguesas, a Revolução dos Cravos foi uma Revolução Proletária. Apenas não foi levada às últimas consequências, em razão da direção confusa da MFA e da sabotagem do Partido Comunista de Portugal e do Partido Socialista. Naturalmente, o imperialismo, em especial o norte-americano, agiu para conter a revolução. Afinal, apesar de Portugal ser já àquela época o mais fraco dos países imperialistas, ainda assim era uma Revolução Proletária em um país imperialista, que poderia se espalhar para o restante do continente Europeu, caso o Estado Operário fosse erguido.

Henry Kissinger, então secretário de Estado norte-americano à época, foi claro sobre a necessidade de impedir o triunfo da Revolução. Em reunião realizada com o Papa Paulo VI, na qual também esteve presente o presidente Gerald Ford, Kissinger declarou que “é difícil entender que Portugal, com um governo comunista, seja nosso parceiro. A OTAN foi criada para se opor ao comunismo. Se um membro da Aliança se tornar comunista, […] isso iria destruir a Aliança Atlântica. Não podemos dar um mau exemplo em Portugal. […] Precisamos de fortalecer as forças democráticas em Portugal e ajudá-las a retirar o governo das mãos dos radicais”.

É fundamental compreender que a Revolução dos Cravos ocorreu em uma conjuntura de grave crise do imperialismo. Como foi dito acima, em 1973 teve início a crise econômica geral, mais conhecida como Crise do Petróleo. No entanto, a crise também se manifestava politicamente. Não era apenas Portugal que perdia suas colônias. A última das grandes colônias francesas, a Argélia, se libertou do domínio colonial da República Francesa em 1962, após uma guerra de libertação nacional que durou 8 anos. Mais de 1,5 milhões de argelinos morreram na luta por sua libertação. 

Anos antes, em 1954 (não coincidentemente o ano em que se iniciou a Guerra da Argélia), o imperialismo Francês já havia sido derrotado na Indochina, pela República Democrática do Vietnã (popularmente conhecido como Vietnã do Norte). Liderando essa derrota, esteve o movimento Viêt Minh, liderado pelo revolucionário vietnamita Ho Chi Minh, e militarmente por Võ Nguyên Giáp. Ambos já haviam liderado a vitória do povo vietnamita sobre o Império do Japão, na Segunda Guerra Mundial.

Nas décadas de 1960 e 1970, os Estados Unidos tentam afogar em sangue a luta do povo do Vietnã por sua libertação nacional. Foi a Guerra do Vietnã, que resultou na morte de cerca de 3 milhões de vietnamitas, mas que impôs uma derrota humilhante aos EUA. Os Estados Unidos já haviam sofrido uma grave derrota nas Américas, com o triunfo da Revolução Cubana.

Com a derrota no Vietnã, que ocorreu em 1975, a crise imperialista se agravou. Esta, somada à Revolução dos Cravos, ocorrida um ano antes, impulsionou a luta de vários outros povos por sua libertação nacional. A exemplo das Revoluções Sandinista, na Nicarágua, e, é claro, a Iraniana, ambas iniciadas em 1979.

A Revolução Iraniana triunfou, e seu progresso pode ser testemunhado ainda nos dias atuais, como se vê pela recente ação militar do país persa contra “Israel”, a Operação Promessa Cumprida.

Atualmente, assim como no ano de 1974, ano da Revolução dos Cravos, o imperialismo vive grave crise. Igualmente ao que ocorreu àquela época, o levante de um país oprimido contra o imperialismo gera uma reação em cadeia, fazendo outros países e povos se levantarem. Apenas nos últimos três anos houve a expulsão dos EUA do Afeganistão, em 2021 (o Vietnã do séc. XXI); a derrota do imperialismo na Ucrânia; vários golpes nacionalistas na África; a nova etapa da Revolução Palestina, desencadeada pela Operação Dilúvio de al-Aqsa; e, mais recentemente, a ação do Irã, que acabou com o poder de dissuasão dos EUA e de “Israel” no Oriente Próximo.

No ano em que se comemoram 50 anos da Revolução dos Cravos, uma nova situação revolucionária mundial se apresenta no horizonte.

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