Há pouco mais de 10 anos, em agosto de 2014, o líder revolucionário cubano Fidel Castro publicava no órgão de imprensa cubano Granma suas reflexões sobre o martírio sofrido pelo povo palestino e que, revelando um sinistro padrão da ação das forças sionistas verificado atualmente, vitimava com especial destaque as mulheres e as crianças palestinas. Intitulado Holocasuto Palestino em Gaza, o texto de Castro insere o conflito em marcha entre o Hamas e a ditadura sionista em uma conjuntura maior, onde as forças dos principais países atrasados do mundo, Brasil, Rússia, Índia e China, destacavam-se como forças emergentes capazes de desestabilizar o imperialismo.
No artigo, o dirigente da Revolução Cubana expõe de maneira contundente a brutalidade com que o regime sionista impõe sua dominação sobre o povo palestino, denunciando não apenas a violência, mas o genocídio que se desenrolava na Faixa de Gaza. A partir de suas observações, Castro tece uma crítica ao que ele considera uma nova forma de fascismo, caracterizando “Israel” como um executor impiedoso de políticas de extermínio, ao estilo do que os nazistas fizeram contra os judeus na Segunda Guerra Mundial.
O texto de Castro reforça a solidariedade histórica entre os revolucionários latino-americanos e os palestinos. A conexão entre essas lutas, porém, não se limita a questões táticas ou ideológicas momentâneas, como o apoio a grupos como o Hamas. Vai muito além, sendo uma solidariedade entre povos oprimidos que compartilham a mesma luta contra o imperialismo, a opressão e o colonialismo. Como Fidel aponta, o martírio palestino é apenas mais uma das muitas expressões da brutalidade imperialista, uma realidade que os revolucionários latino-americanos conhecem de perto.
Um dos trechos mais impactantes do artigo é quando ele cita o número de mortos palestinos, em sua maioria civis, destacando como mulheres e crianças estão entre os alvos preferenciais da ditadura sionista. A destruição de milhares de casas e a devastação da infraestrutura vital de Gaza são exemplos do que Fidel chama de “genocídio criminoso”. Ele critica ainda a cumplicidade dos Estados Unidos nesse massacre, apontando que a “nojenta forma de fascismo” em ascensão na época não difere, em essência, das atrocidades nazistas, exceto pelo fato de agora ser patrocinada pelas principais potências ocidentais.
Castro não poupa palavras ao denunciar a covardia e a selvageria do exército israelense, que se aproveita da assimetria militar para massacrar uma população praticamente indefesa, confinada a um pequeno território sob bloqueio. Ele também reitera o caráter colonial da ocupação israelense, que há décadas nega aos palestinos o direito à autodeterminação e busca apagá-los do mapa.
Ao longo do texto, Fidel resgata a tradição de solidariedade dos povos latino-americanos com a causa palestina, que se consolidou muito antes do surgimento do Hamas como força política. Essa solidariedade revolucionária tem raízes profundas nos processos históricos de resistência ao colonialismo e ao imperialismo, que tanto os palestinos quanto os latino-americanos enfrentaram. Para Fidel, a luta dos palestinos contra a ocupação israelense é parte integrante da mesma luta travada por Cuba e por outros países da América Latina contra as ditaduras imperialistas que tentaram subjugá-los ao longo do século XX.
Em suma, o texto de Fidel Castro não só reafirma o apoio incondicional dos revolucionários latino-americanos ao povo palestino, como também denuncia com clareza a barbárie cometida pelo regime sionista, revelando a face mais cruel do imperialismo em sua tentativa de subjugar povos inteiros através da violência sistemática e do genocídio. Veja o artigo de Castro, publicado no Granma abaixo:
“Holocaustro Palestino em Gaza
Fidel Castro
4 de Agosto de 2014
ROGO novamente ao jornal Granma não empregar o espaço da primeira página para estas linhas, relativamente breves, acerca do genocídio que está sendo cometido contra os palestinos.
Escrevo-as com rapidez, apenas para fazer constar aquilo acerca do qual se requer meditar profundamente.
Eu penso que uma nova e nojenta forma de fascismo está surgindo com notável força neste momento da história humana, no qual mais de sete bilhões de habitantes se esforçam pela própria sobrevivência.
Nenhuma destas circunstâncias tem a ver com a criação do império romano, há por volta de 2.400 anos ou com o império norte-americano que nesta região do mundo, há apenas 200 anos, foi descrito por Simon Bolívar quando exclamou que:
‘…os Estados Unidos parecem destinados pela Providência a encher a América de misérias em nome da liberdade’.
Inglaterra foi a primeira real potência colonial que utilizou seus domínios sobre boa parte da África, Oriente Médio, Ásia, Austrália, América do Norte e muitas das ilhas antilhanas, na primeira metade do século XX.
Nesta ocasião não falarei das guerras e dos crimes cometidos pelo império dos Estados Unidos ao longo de mais de cem anos, mas só quero fazer constar o que quis fazer com Cuba, o que fez com muitos outros países do mundo e que tão só serviu para provar que ‘uma ideia justa do fundo de uma gruta pode mais que um exército’.
A história é muito mais complicada que tudo aquilo que já foi dito, mas é assim, a grandes traços, como a conheceram os moradores da Palestina e é lógico igualmente, que nos meios modernos de comunicação se espelham as notícias que diariamente chegam, assim tem ocorrido com a vergonhosa e criminosa guerra na Faixa de Gaza, um pedaço de terra onde mora a população do que restou da Palestina independente, até há apenas meio século.
A agência francesa AFP informou em 12 de agosto:
‘A guerra entre o movimento islâmico palestino Hamas e Israel já provocou a morte de cerca de 1,8 mil palestinos […] a destruição de milhares de moradias e a ruína de uma economia já enfraquecida desde antes’,
embora não assinale, naturalmente, quem iniciou a terrível guerra.
Depois acrescenta:
‘…no sábado ao meio-dia, a ofensiva israelense tinha matado 1.712 palestinos e ferido 8.900. As Nações Unidas puderam verificar a identidade de 1.117 mortos, a maioria deles civis […] A Unicef contabilizou ao menos 296 menores mortos’.
‘As Nações Unidas estimaram […] (umas 58.900 pessoas) sem lar na Faixa de Gaza’.
‘Dez dos 32 hospitais fecharam e mais onze foram afetados’.
‘Este enclave palestino de 362 quilômetros quadrados também não dispõe da infraestrutura necessária para 1,8 milhão de habitantes, sobretudo em termos de distribuição de eletricidade e de água’.
‘Segundo o FMI, a taxa de desemprego ultrapassa 40% na Faixa de Gaza, território submetido desde o ano 2006 a um bloqueio israelense. Em 2000, o desemprego afetava 20% e em 2011 afetava 30%. Mais de 70% da população depende da ajuda humanitária em tempos normais, segundo Gisha’.
O governo de Israel declara uma trégua humanitária em Gaza às 07:00 GMT desta segunda-feira; contudo, poucas horas depois rompeu a trégua ao atacar uma casa na qual 30 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram feridas, e entre elas uma menina de oito anos que morreu.
Na madrugada desse mesmo dia, dez palestinos morreram em consequência dos ataques israelenses em toda a Faixa e já chegou a 2 mil o número de palestinos assassinados.
A chacina chegou a tal ponto que ‘o ministro dos Assuntos Exteriores da França, Laurent Fabius, anunciou nesta segunda-feira que o direito de Israel à segurança não justifica o ‘massacre de civis’ que está perpetrando’.
O genocídio dos nazistas contra os judeus provocou o ódio de todos os povos da terra. Por que o governo desse país pensa que o mundo será insensível a este macabro genocídio que hoje está cometendo contra o povo palestino? Acaso se espera que ignore quanta cumplicidade existe por parte do governo norte-americano neste vergonhoso massacre?
A espécie humana vive hoje uma etapa nunca vivida antes na história. Uma colisão entre dois aviões militares ou navios de guerra que se vigiam estreitamente ou outros fatos similares, podem fazer deflagrar uma guerra com o emprego das mais sofisticadas armas modernas, o que se converteria na última aventura do conhecido homo sapiens.
Temos fatos que refletem a incapacidade quase total dos Estados Unidos de fazer face aos problemas atuais do mundo. Pode afirmar-se que não há governo nesse país, nem o Senado, nem o Congresso, a CIA ou o Pentágono que possam determinar o desenlace final. É triste realmente que isso venha a acontecer quando os perigos são maiores, mas também as possibilidades de continuar avançando.
Quando da Grande Guerra Pátria os cidadãos russos defenderam seu país como os espartanos; subestimá-los foi o erro principal dos Estados Unidos e da Europa. Seus aliados mais próximos, os chineses, que tal como os russos obtiveram sua vitória a partir dos mesmos princípios, constituem hoje a força econômica mais dinâmica da terra. Os países querem o yuan e não dólares para adquirir bens e tecnologias e incrementar seu comércio.
Forças novas e imprescindíveis têm surgido. O Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul, cujos vínculos com a América Latina, a maioria dos países do Caribe e da África, que lutam por seu desenvolvimento, constituem a força que em nossa época estão dispostos a colaborar com o resto dos países do mundo, sem excluir os Estados Unidos, Europa, Japão.
Culpar a Federação Russa da destruição em pleno voo do avião da Malásia é uma simplicidade estonteante. Nem Vladimir Putin, nem Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, nem os demais dirigentes desse Governo jamais fariam semelhante disparate.
Vinte e seis milhões de russos morreram na defesa da Pátria contra o nazismo. Os combatentes chineses, homens e mulheres, filhos de um povo de cultura milenar, são pessoas de inteligência privilegiada e espírito de luta invencível, e Xi Jinping é um dos líderes revolucionários mais firme e capaz que já conheci na minha vida.”