A FPLP foi a segunda organização mais importante da luta armada palestina por décadas. No fim da década de 1960 foram escritos uma série de documentos com inspiração tanto na China quanto no Vietnã com o objetivo de organizar a luta dos palestinos. Um dos mais interessantes, “Resistência até a vitória”, toca num ponto muito importante: “como povos oprimidos podem enfrentar a superioridade tecnológica imperialista?”
O texto afirma: “nossa confrontação com Israel e o imperialismo não pode levar positivamente à vitória se consistir em uma confrontação militar clássica na forma de uma guerra convencional entre o exército e forças do inimigo, e nossas tropas regulares. Tal guerra seria vencida por Israel e o imperialismo devido à sua superioridade em armamentos e qualidade, sua capacidade de usar a máquina de guerra moderna e movê-la com velocidade de choque e flexibilidade, e suas capacidades econômicas que sustentam tal guerra, o que lhes permitiria triunfar sobre nós em tais batalhas. Três experiências são uma lição suficiente para nós. A guerra convencional, que hoje assume uma forma extremamente rápida, é a maneira pela qual o inimigo exerce sua esmagadora superioridade tecnológica, e também é a maneira pela qual todos os pontos fracos de uma sociedade subdesenvolvida são revelados“.
Isso sempre foi uma imposição aos palestinos, a inferioridade tecnológica os obrigou a lutar uma guerra de guerrilhas. E quem era o grande exemplo desse tipo de guerra naquele momento? O Vietnã.
O texto então cita o general vietnamita Vo Nguyen Giap: “o equilíbrio de forças claramente mostrou nossas fraquezas contra o poder do inimigo. A guerra de libertação do povo vietnamita, portanto, teve que ser uma guerra difícil e de longa duração para criar condições para a vitória. Todas as concepções nascidas da impaciência e visando obter uma vitória rápida só poderiam ser grandes erros. Era necessário agarrar firmemente a estratégia de resistência a longo prazo e exaltar a vontade de ser autossuficiente para manter e aumentar gradualmente nossas forças, enquanto corroíamos e destruíamos progressivamente as do inimigo; era necessário acumular milhares de pequenas vitórias para transformá-las em grandes sucessos, alterando gradualmente o equilíbrio de forças, transformando nossa fraqueza em poder e alcançando a vitória final“.
Um erro de muitos setores da esquerda foi acreditar que esse é o método de luta para ser aplicado sempre. Não é em qualquer conjuntura que se deve lançar uma guerrilha. Mas quando o momento é de uma guerra de guerrilhas contra o imperialismo, o exemplo do Vietnã certamente é de uma grande vitória. Os palestinos realizaram essa luta por décadas, impuseram muitas “pequenas derrotas” a “Israel”. Mas infelizmente foi só no século XXI, com o Hamas, que a luta estava melhor organizada no interior do território da Palestina.
O mais interessante aqui não é a teoria em si, que pode ser debatida. Mas como os movimentos de libertação nacional do mundo eram uma inspiração enorme para todos os grupos armados palestinos. Isso fica muito claro quando se lê o que os palestinos nas décadas de 1960 e 1970 diziam. Hoje o quadro se inverteu, quem inspira a luta dos povos do mundo são os palestinos, que estão derrotando o imperialismo.