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HISTÓRIA DA PALESTINA

Georges Abdalá: preso há mais de 40 anos por combater ‘Israel’

Preso na "democrática" França, o militante libanês fez parte da FPLP e liderou as Facções Revolucionárias Armadas Libanesas

Desde que o Hamas, liderando a resistência palestina, realizou a Operação Dilúvio de al-Aqsa, desencadeando a atual Revolução Palestina, “Israel” vem tentando evitar seu inevitável colapso através de um genocídio e uma repressão de tipo nazista contra o povo palestino.

Nesse sentido, desde 7 de outubro de 2023, o regime nazissionista já prendeu mais de 8.270 palestinos arbitrariamente, sem contar os que já estavam encarcerados anteriormente nas masmorras israelenses. Considerando estes, o número ultrapassa 9,5 mil, sendo que mais de 3.660 estão presos no regime de “prisão administrativa”, isto é, sem qualquer processo judicial, muito menos julgamento.

É em razão dessa arbitrariedade que todos os anos, em 17 de abril, o povo palestino sai às ruas em protesto, tanto pela libertação dos prisioneiros quanto contra as torturas que estes sofrem no cárcere. É o Dia dos Prisioneiros Palestinos. Um deles está preso há mais de quatro décadas por travar a luta contra “Israel” e contra o imperialismo norte-americano. Seu nome é Georges Ibrahim Abdalá.

Contudo, ele não está preso em “Israel”. Está trancafiado nos cárceres da República Francesa. Isto mesmo, a França, uma tão alardeada “democracia”.

Nascido no Líbano em 2 de abril de 1951, Abdalá tem 73 anos e é a pessoa há mais tempo presa na Europa. A imprensa imperialista nada diz sobre isto quando acusa países como Irã, Rússia e Venezuela de serem ditaduras.

Vindo da aldeia de Al Qoubaiate, o maior vilarejo cristão na província de Acar, no norte do Líbano, a vida de Georges Abdalá passou a fazer parte da resistência do povo palestino contra “Israel” quando o sionismo e o imperialismo desataram a Primeira Guerra do Líbano, uma guerra de agressão que objetivava destruir a resistência palestina (principalmente OLP e Fatá) e conter um crescente movimento nacionalista libanês, que se opunha a “Israel” e à ditadura imperialista.

Sua luta política em defesa do povo palestino começou com o ingresso nos quadros da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), na década de 1970. Antes disso já havia tido experiência política nas fileiras do Partido Social Nacionalista Sírio (PSNS). 

Em 1978, Uadi Haddad, líder e fundador do Comando de Operações Externas da Frente Popular para a Libertação da Palestina, foi assassinado pelo Mossad. Com isto, esse órgão da FPLP se dissolveu. Foi quando, em 1979, Abdalá criou as Facções Revolucionárias Armadas Libanesas (LARF, na sigla em inglês), igualmente voltando para operações externas contra “Israel” e o imperialismo, em defesa dos palestinos.

A LARF foi estruturada como uma guerrilha urbana, e era formada majoritariamente de cristãos maronitas que não faziam parte das milícias fascistas de outros cristãos maronitas, e que tinha lutado ao lado da OLP contra essas milícias.

As principais ações de resistência contra “Israel” e o imperialismo que Abdalá teria liderado, no comando do grupo, seriam: aniquilar o tenente-coronel Charles R. Ray, um adido militar assistente dos EUA, e o diplomata israelense Yaakov Bar-Simantov; bem como a tentativa de eliminar o ex-cônsul americano em Estrasburgo, Robert O. Homme, em 26 de março de 1984. Tais ações seriam uma resposta à agressão sionista e norte-americana contra o Líbano em 1982 e a ocupação sionista do sul do país. Por estas ações Abdalá foi condenado pelo imperialismo francês, após pressão dos EUA e de “Israel”.

Ele havia sido preso inicialmente em 24 de outubro de 1984 acusado apenas de portar documentos falsos. Foi em 28 de fevereiro de 1987 que o tribunal especial, uma espécie de tribunal de exceção na França, condenou Abdalá à prisão perpétua. Durante seu julgamento, ele declarou: “Se o povo não me confiou a honra de participar nestas ações anti-imperialistas que me atribuem, pelo menos tenho a honra de ser acusado por eles pelo teu tribunal e de defender a sua legitimidade face à legitimidade penal dos algozes.”

Desde que foi preso, Abdalá jamais abandonou suas posições políticas. Tanto é assim que continua encarcerado.

Nesse sentido, por ocasião do Dia dos Prisioneiros Palestinos deste ano, Georges Abdalá escreveu carta endereçada ao povo palestino, saudando o espírito inquebrantável de Ualide Daqqá, prisioneiro palestino que deveria ter sido libertado este ano, mas recentemente foi assassinado nas prisões de “Israel”. Daqqá, assim como Abdalá, jamais capitulou perante o sionismo. 

Na carta também é denunciado o genocídio que “Israel” vem cometendo contra Gaza há sete meses, assim como a repressão fascista contra todo o povo palestino, e é saudada a luta da resistência palestina, exortando esse povo martirizado a continuar na luta até o fim do sionismo. Leia abaixo o documento, na íntegra:

Carta do Companheiro Georges Abdalá por ocasião do Dia dos Prisioneiros Palestinos 

Queridos Companheiros, Queridos Amigos,

Nestes dias, muitos estão celebrando o Dia dos Prisioneiros Palestinos por meio de iniciativas semelhantes às suas, comemorando o martírio de Ualide Daqqá. Esta figura simbólica dos ícones da resistência palestina nunca se rendeu ou vacilou de forma alguma ao longo de décadas de cativeiro, desafiando tortura, privação, isolamento e doença, além da proibição de suas mensagens e escritos.

No ano passado, nesta mesma ocasião, Ualide ainda estava firme em sua cela solitária; sua vontade inabalável, apesar de estar privado de todo cuidado médico necessário. Alguns de vocês ainda se lembram das diversas expressões de apoio sólido a ele e a outros combatentes detidos nas prisões sionistas, especialmente as chamadas e convites para apoiá-lo, principalmente as iniciativas militantes em curso naquela época, com o objetivo de libertar o Companheiro Ualide, cuja situação de saúde era precária, das garras de seus carcereiros criminosos. Infelizmente, todos os nossos esforços não foram suficientes para superar a teimosia de Ben-Gvir e seus cúmplices entre os carcereiros e juízes. A morte pela negação de cuidados médicos agora domina a situação em várias prisões sionistas, especialmente a prisão de Naqab onde estão detidos os sequestrados de Gaza.

Pode ser útil lembrar, queridos camaradas, que se o Conselho Nacional Palestino designou 17 de abril como “Dia dos Prisioneiros Palestinos” em 1974, não foi apenas para denunciar a barbárie do ocupante sionista nesta ocasião, nem apenas para homenagear os combatentes da resistência cativos lembrando às massas populares de seus sacrifícios e concessões ou de sua vontade inabalável ao enfrentar o militarismo sionista. Celebrar o Dia dos Prisioneiros visa, acima de tudo, afirmar alto e claro nossos deveres para com nossos camaradas prisioneiros, e principalmente incluir sua libertação na dinâmica geral de nossas lutas em curso. Celebrar o Dia dos Prisioneiros Palestinos visa, acima de tudo, queridos camaradas, convocar e encorajar as forças vivas da revolução e suas vanguardas combatentes a implementar todas as medidas necessárias para expressar de forma prática nossa firme determinação em libertar nossos camaradas das garras de seus carcereiros criminosos.

Nosso Ualide morreu de pé. Ele permanece para sempre vivo em nossos corações e nas mentes das massas e combatentes que participam desta epopeia de resistência, e ele permanece para sempre vivo com todos aqueles que o antecederam ou o seguiram como tochas iluminando o caminho da resistência, libertação, liberdade e emancipação.

Queridos Companheiros, Queridos Amigos,

Em tempos de genocídio em Gaza e os assassinatos e massacres e a ampla confiscação de terras na Cisjordânia, é difícil para a mobilização popular adentrar em discussões sobre as condições dos heróis da luta ou extrair lições deles… A escala enorme dos massacres torna quase impossível compreender as histórias de várias figuras da luta. O número de mártires, que ultrapassa 33.000, incluindo mais de 14.000 crianças, e mais de 76.000 feridos, sem mencionar todos os que estão sob os escombros, é mais do que avassalador… Mas a verdade é que os milhares de prisioneiros que têm sido encarcerados por muitos anos, alguns por várias décadas, destacam hoje mais do que nunca a resistência do povo palestino em suas diversas formas. Este governo sionista, mais do que qualquer governo anterior, só pode intensificar a repressão e tentar expandir mais do que nunca seu escopo de destruir tudo o que é palestino, especialmente todos aqueles que se unem à vontade coletiva de resistência. Por esse motivo, entre outros, a solidariedade internacional é chamada mais do que nunca a levar essa realidade em consideração. Isso nem sempre é fácil, dado que estamos lidando com um genocídio ocorrendo à vista de todos e não na névoa de campos secretos, pela primeira vez na história humana, centenas de milhões de pessoas estão testemunhando um genocídio em curso.

O fato permanece, camaradas e amigos, que dentro do quadro geral dessa resistência histórica do povo palestino, podemos entender melhor a interconexão dinâmica dos vários fatores que constituem a “vontade coletiva de resistir” e o lugar especial que o prisioneiro ocupa na memória coletiva palestina. Ao longo dessa epopeia histórica e até os dias de hoje, o “prisioneiro resistente”, junto com o “mártir”, é o personagem compartilhado pela maioria das famílias palestinas.

Naturalmente, como em qualquer outro lugar, os heróis da luta revolucionária, especialmente aqueles que personificaram a vontade coletiva de resistência, foram os alvos preferidos das políticas genocidas, às quais fascistas de todos os matizes se apressaram em implementar, principalmente porque a atmosfera de genocídio tornou isso fácil de fazer.

Camaradas, sejamos vigilantes e evitemos que os criminosos sionistas aniquilem os heróis revolucionários em cativeiro!

Sejamos dignos da epopeia das tochas da liberdade, esses heróis invencíveis da resistência detidos nas prisões sionistas! Naturalmente, as massas populares palestinas e suas vanguardas combativas em cativeiro podem contar com sua solidariedade ativa. Que mil iniciativas de solidariedade floresçam em prol da Palestina e de sua gloriosa resistência.

Solidariedade, toda a solidariedade, com os lutadores da resistência nas prisões sionistas e celas de confinamento solitário em Marrocos, Turquia, Grécia, Filipinas e outros lugares ao redor do mundo.

Solidariedade, toda a solidariedade, com os trabalhadores da classe trabalhadora!

Saúdo os mártires e as massas lutadoras do povo!

Abaixo o imperialismo e seus lacaios sionistas e reacionários árabes!

O capitalismo não é nada além de barbárie, saúdo a todos que se opõem a ele em várias formas!

Juntos, camaradas, e somente juntos, seremos vitoriosos!

A todos vocês, queridos camaradas e amigos, as mais calorosas saudações comunistas.

Seu camarada, Georges Abdalá

17 de abril de 2024

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