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Sayid Tenório

Historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal). Twitter/X: @soupalestina

Coluna

Gaza faz ressurgir movimento estudantil nos EUA

"Rebeldia juvenil representa a ponta de lança dos direitos palestinos, que está mudando a realidade nas universidades dos Estados Unidos e de muitos países no mundo"

O movimento estudantil americano em solidariedade com Gaza revive nestes dias o grande papel exercido com outros movimentos no enfrentamento à Guerra do Vietnã (1955 a 1975), que muitos atribuem como um fator importante para o fim da agressão militar imperialista ao país asiático.

Os acampamentos universitários que se alastram pelos Estados Unidos ganham uma importância excepcional neste momento, no qual os EUA apoiam e fornecem armas para que “Israel” exerça um massacre de magnitude que a história nunca testemunhou, pela intensidade, pela sua dimensão e pelo número de mortos e feridos.

É um paradoxo notável que os Estados Unidos reúnam o sistema político mais corrupto, socialmente injusto e destrutivo do mundo, que expressam injustiça, dominação e interferência nos destinos dos povos e nações, por um lado, e por outro tenha um movimento estudantil com uma história de consciência revolucionária na abordagem de questões humanitárias e políticas, dentro e fora das fronteiras estadunidenses.

A relação entre ambas as questões talvez seja mais causal do que paradoxal, uma vez que a política imperialista adotada pelos Estados Unidos durante quase um século, sobretudo depois de terem dominado sozinhos o Ocidente após a Segunda Guerra Mundial, obriga os seus estudantes a estarem na linha da frente e dar a seu movimento mais importância do que outros, em qualquer lugar do mundo.

Os protestos estudantis estão se espalhando rapidamente pelos Estados Unidos e chegando a outros lugares mundo, menos no Brasil, onde as lideranças estudantis permanecem apáticas ao que vem acontecendo nestes mais de seis meses em Gaza, infelizmente com seu olhar voltado quase que exclusivamente para pautas identitárias e institucionais.

Para muitos pode parecer algo inusitado que o principal movimento pelos direitos humanos e justiça para palestinos esteja acontecendo em Universidades dos EUA,  já que as universidades que estão hoje na vanguarda desta luta, como Columbia e Yale, são conhecidas como “Casas de Estudos Superiores” da elite estadunidense, tendo entre os graduados de Columbia figuras do staff americano como o presidente Joe Biden, o Secretário de Estado, Antony Blinken, e na Yale estão o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, as secretárias do Comércio, Gina Raimondo, e do Tesouro, Janet Yellen, bem como o assessor especial para os Assuntos Climáticos, John Kerry, e a administradora da USAID, Samantha Power.

Porém, na década de 1960, foi o movimento estudantil que liderou a luta por “liberdade de expressão” nos campi universitários, defendendo os direitos dos estudantes afrodescendentes e exigindo que os currículos universitários incluíssem conteúdos relacionados à história e à cultura dos afro-americanos.

A questão palestina é reconhecida pelo movimento como uma causa global e a operação “Inundação de Al-Aqsa” é o divisor de águas neste momento histórico que estamos vivendo. A avalanche revolucionária da resistência palestina proporcionou o ressurgimento do movimento estudantil nos Estados Unidos, na América Latina, na África e no Oriente Médio, e está produzindo transformações locais que podem afetar os regimes que se puseram de joelhos para os sionistas, sobretudo os árabes.

Mesmo com as forças policiais orientadas por Washington a reprimir excessivamente os acampamentos e muitas reitorias estarem impondo enormes sanções aos participantes, os estudantes demonstram por seus meios que suas universidades serão as vitrines da civilização ocidental contra a barbárie sionista em Gaza, um genocídio apoiado fortemente pelos Estados Unidos.

As surradas acusações de antissemitismo já não são mais aceitas em todo o mundo, porque a sua fragilidade política e ideológica foi exposta. A acusação de antissemitismo tem sido usada para intimidar os críticos dos crimes de “Israel” ou para esterilizar a discussão e desviar a atenção dos problemas reais, quando é sabido que os palestinos e os movimentos de solidariedade rejeitam fortemente as narrativas com viés religioso ou sectário da luta contra a ocupação, condenando qualquer forma de perseguição ou a negação de direitos, seja de judeus, árabes – cristãos e muçulmanos, ou qualquer outra pessoa e grupo.

Muitos manifestantes nas Universidades americanas são judeus. E eles sabem que o estado de Israel é inimigo dos judeus. Os judeus no mundo inteiro estão sob pressão dos sionistas e são oprimidos por causa de suas crenças religiosas e por não apoiarem o apartheid e o genocídio sionista em Gaza, que usam o judaísmo como escudo para suas práticas criminosas contra a humanidade.

A heroica jornada “Inundação de Al-Aqsa” iniciada em 7 de outubro, é o evento revolucionário mais importante desta quadra histórica que estamos vivenciando. Está ajudando o mundo a se limpar da mancha autoritária de “Israel” que contaminou muitas nações do mundo, que sempre apoiaram o ditame dos EUA em benefício do regime sionista.

Neste sentido, o ressurgimento do movimento estudantil revolucionário e antissionista nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo, é uma benção da abnegada e resiliente resistência de Gaza. Se o movimento estudantil americano vai ajudar a mudar o curso da guerra em Gaza, é uma questão que a história se encarregará de responder. O fato concreto é que essa rebeldia juvenil representa a ponta de lança dos direitos palestinos, que está mudando a realidade nas universidades dos Estados Unidos e de muitos países no mundo.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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