A esquerda pequeno-burguesa brasileira acredita piamente que, usando as instituições antidemocráticas da burguesia, vai conseguir livrar-se do bolsonarismo. Na prática, essa esquerda crê que a única maneira de combater o bolsonarismo – para ela a única expressão do fascismo no Brasil – seria apoiando-se na direita tradicional.
Não é necessário fazer muito esforço para demostrar a insanidade de tal ideia. Ela simplesmente ignora que o fascismo não é apenas o bolsonarismo, mais ainda, esquece que o bolsonarismo sequer é – ao menos, até o momento – o setor mais perigoso da direita. Esquece que o golpe de Estado de 2016, que fortaleceu o fascismo em geral e o bolsonarismo em particular, foi orquestrado por aqueles que agora tentam aparecer como democratas e com os quais a esquerda está aliada. Por último, essa esquerda ignora que dar poder às instituições da burguesia para passar por cima de direitos básicos é, na prática, fortalecer o fascismo, não enfraquecê-lo, ainda que o pretexto – cínico – seja o exato oposto.
Dito isso, há outro aspecto importante dessa política levada adiante pela esquerda pequeno-burguesa, e a experiência a ser observada vem do norte. A política descrita acima, apresentada como “anti-fascista” e “anti-Bolsonaro”, está sendo aplicada nos Estados Unidos contra Donald Trump. A mesma direita que aqui se apresenta como “democrata”, ou seja, os próprios Democratas do Partido Democrata, tenta desesperadamente, à custa de uma série de políticas antidemocráticas, frear o crescimento do trumpismo.
E isso está sendo um desastre!
Nessa segunda-feira (15), começaram as primárias do Partido Republicano para escolher candidato do partido que irá disputar a presidência dos Estados Unidos nas eleições deste ano. Trump obteve uma vitória esmagadora na convenção no estado de Iowa com 51% dos votos, saindo à frente de Ron DeSantis, ex-governador da Flórida, que obteve apenas 21,2% dos votos. Em terceiro lugar, ficou a ex-governadora da Carolina da Sul, Nikki Haley, com 19,1%.
Dentro do Partido Republicano, a ala anti-Trump, representante dos setores mais poderosos do imperialismo e aliada objetiva dos Democratas, perdeu completamente a força política. Esse índice apresentado na primária é semelhante a de um presidente em exercício, em que as primárias são meramente uma formalidade, pois seria o candidato óbvio. A tendência é que Trump ganhe de lavada a escolha nas primárias e seja o candidato dos Republicanos.
As pesquisas eleitorais indicam que Trump ganharia de Biden se as eleições fossem hoje, o que é mais grave se levarmos em conta que Biden é o atual presidente. Numa escolha entre Trump e Biden, 47% dos eleitores dizem apoiar Trump e 43% votariam em Biden, com 10% de indecisos, segundo pesquisa nacional do Wall Street Journal, divulgada em dezembro do ano passado.
A política dos setores mais poderosos do imperialismo para derrotar Trump mostra-se um completo fracasso. A perseguição judicial contra o ex-presidente aumentou sua popularidade ao invés de diminuir, ele aparece justamente como um perseguido político para o povo – e, de fato, ele é.
No Brasil, as arbitrariedades judiciais contra Bolsonaro, que seguem o modelo do que a burguesia está fazendo nos Estados Unidos, podem e muito provavelmente vão resultar no mesmo fracasso.
Quando a esquerda apresenta a direita e a burguesia como solução para combater o bolsonarismo, ela está se colocando a reboque de uma política que não vai dar certo e que, mesmo se desse certo, beneficiaria a própria direita.
Se o bolsonarismo crescer, como está acontecendo com o trumpismo nos Estados Unidos, a esquerda ficará totalmente sem política e a burguesia poderá até mesmo deslocar-se para Bolsonaro.
Por sorte, ainda dá tempo de mudar de política. A esquerda brasileira é muito mais popular do que a norte-americana, Lula e o PT estão no governo, é preciso aprender a lição que vem dos EUA.