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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Eu sou Cuba: uma visão soviética da revolução

Filme soviético sobre as causas da revolução cubana foca em mostrar como o espírito de libertação une um povo

“Soy Cuba”, diz a narradora do filme de mesmo nome, dirigido pelo cineasta soviético Mikhail Kalatozov para a Mosfilm em 1964, durante os piores momentos da Guerra Fria. A voz da narradora estabelece, como se fosse um personagem, a própria voz de Cuba. É firme e emocionada, como uma palavra de ordem revolucionária.

No enredo, Fidel Castro e seus companheiros estão na Sierra Maestra, em combates com as forças da marionete Fulgêncio Batista. O foco, no entanto, não está nos revolucionários. Ao contrário, o filme busca oferecer histórias que mostram, através de diferentes personagens, indivíduos em situação de desespero e desesperança pela situação de opressão em um país cativo dos colonizadores norte-americanos às vésperas da revolução.

Na época de sua produção, além de ser um contraponto às provocações dos Estados Unidos, reforçou a importância da luta revolucionária para a superação do capitalismo, um sistema que constrói unicamente sociedades desiguais, desunidas, autoritárias, saqueadas de todas as suas riquezas e empobrecidas.

Na melhor tradição do épico, as escolhas formais têm função didática e mostram a perda de dignidade em um ambiente ondem faltam solidariedade, união e propósito. Uma dessas escolhas, que vale registrar, é a bela fotografia em preto e branco do mar do Caribe. A ausência da cor ressalta a importância do tema revolucionário. 

O russo não é dublado em espanhol, mas em voice over. Um recurso que não esconde a linguagem do povo cubano e é completamente distinto da fórmula estadunidense, que faz qualquer personagem de seus filmes, de norte a sul do planeta, falar inglês.

São quatro histórias distintas que acontecem pouco antes da queda do governo. A primeira, mostra os estrangeiros – estadunidenses – usufruindo de Cuba, representada nas figuras de mulheres pobres, como a prostituta Maria, moradora de uma favela, de quem eles desfrutam.

Na segunda, temos um intelectual universitário que quase põe tudo a perder quando decide agir por conta própria contra os fascistas de Fulgêncio, ao invés de seguir as decisões do comitê revolucionário. Seu fim é trágico.

Na terceira, temos a figura de um idoso e de seus filhos, todos trabalhadores em uma plantação de cana-de-açúcar. Com uma vida miserável, inteiramente dedicada a um trabalho exaustivo, ele vê seu mundo desmoronar ao saber que as terras de seu patrão foram vendidas para uma empresa estadunidense Novamente, sem organização sindical ou social que o acolha, ele toma decisões movido por desespero e raiva.

Por fim, a história de um camponês, pai de quatro filhos, que recebe um revolucionário em seu casebre na Sierra Maestra. Chamado a lutar, ele se esquiva, mostrando receio e sem acreditar na causa. “Quero apenas paz”, diz. Mas as circunstâncias históricas o atropelam e ele é forçado a entrar na luta.

O final, claro, não poderia ser mais feliz. É muito raro conhecer um filme de origem soviética sobre a Revolução Cubana e este, além de ser uma realização cinematográfica excepcional, tem ainda a importância de mostrar para nós o ponto de vista soviético e cubano em um momento de tensão histórica.

É um legado e tanto para entender aquele momento de luta de 1964, tão caro para nós brasileiros. É uma preciosidade obrigatória.

*As opiniões desta coluna não refletem, necessariamente, as opiniões do Diário Causa Operária

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