Em 1979, Margaret Thatcher assumia a chefia de Estado do Reino Unido, cargo que manteria até 1990. Há 45 anos, a mulher que seria conhecida como “Dama de Ferro” iniciava sua cruzada contra a população britânica e do mundo. Thatcher marcou uma guinada do imperialismo britânico, sendo a primeira mulher a assumir o cargo e, mais importante do que isso, líder do novo modelo econômico para o atual estágio de decadência: o neoliberalismo.
O governo da “Dama de Ferro” – apelido dado por um jornal soviético antes dela assumir como ministra – foi marcado pelo desmonte dos serviços públicos, a destruição de milhares de empregos, privatizações, desindustrialização e a ferrenha repressão contra movimentos populares. A medida mais marcante de seu governo tenha sido a campanha que liderou pela desindustrialização do país, algo já característico do imperialismo, mas acentuado durante o processo de neoliberalização.
Um ano após ter sido eleita, Thatcher reduziu os postos de trabalho nas indústrias de aço de 156.600 para 88.200, causando um desemprego em maça no país. Além disto, conduziu uma ferrenha batalha contra os sindicatos dos mineradores de carvão, indústria tradicional na Inglaterra desde o século XIX.
Sua cruzada contra os mineradores tinha como objetivo o fechamento de dezenas de minas de carvão, tentando pela primeira vez em 1981, no que fracassou em um primeiro momento devido à força da classe trabalhadora na época. Passados três anos, a primeira-ministra volta à ofensiva contra as minas de carvão, iniciando uma batalha com os sindicatos mineradores que perduraria por um ano, marcada por dura repressão e violência policial – tendo como auge a Batalha de Orgreave.
Na ocasião, que 6 mil policiais confrontaram 5 mil trabalhadores em piquetes, resultando em 120 feridos e 95 prisões. Após um ano de luta, Thatcher vence a greve dos trabalhadores e fecha as minas de carvão.
Ao longo de seu mandato a classe trabalhadora britânica passou pelo desemprego mais alto de sua história, atingindo 9,5% em 1984. Além de assistir mais de 15% de sua indústria destruída em apenas alguns anos de mandato, a Dama de Ferro também foi responsável por minar todo o poder dos sindicatos britânicos, ao ponto de que quando assumiu 82% dos trabalhadores do Reino Unido se encontravam organizados nos sindicatos, em 1996 após o fim de seu mandato este número caiu para 35%. A destruição do NHS (o serviço de saúde do Reino Unido) também foi obra da amazona do neoliberalismo, assim como a privatização de empresas de petróleo, aço, gás, água e telecomunicações.
Thatcher renuncia apenas em 1990 após a tentativa de mudar a legislação de impostos sobre residências. A nova lei proposta pelo partido de Thatcher cobraria impostos a partir do número de pessoas residentes em uma casa, não pelo valor ou tamanho do imóvel.
Na prática, estaria cobrando altíssimos impostos da classe trabalhadora, que dividia a casa normalmente com um alto número de familiares devido ao alto custo das residências – também gerado pela primeira-ministra. Manifestações correram por todos os países do Reino Unido com o lema “não cobre, não pague”. Após um ano de manifestações, em 1990 Thatcher renuncia o cargo.
O legado da Dama de Ferro assombra até hoje a Grã-Bretanha e todo o mundo. As experiências neoliberais do fim do século XX no Reino Unido, Chile e Estados Unidos criaram uma para a destruição das forças e meios de produção no mundo inteiro.
Não é à toa que quando Thatcher morreu, explodiram manifestações celebrando a sua morte, com milhares de trabalhadores com cervejas e vinho gritando “a bruxa está morta” e queimando fotos da falecida primeira-ministra. Na etapa do imperialismo que nos encontramos a tendência da burguesia imperialista é aplicar, mais uma vez, o neoliberalismo em todo o mundo para combater a crise econômica e política que enfrenta.
O maior exemplo da nova onda de neoliberalização no mundo hoje está ao nosso lado: a Argentina de Milei. A partir do golpe de Estado dado pela burguesia imperialista na Argentina, Milei está aprofundando a política neoliberal de Thatcher.
Com a “Lei Ônibus”, Milei irá privatizar dezenas de empresas públicas fundamentais para a economia argentina – dentre elas uma empresa petrolífera, assim com a Dama de Ferro –, eliminar a moratória previdenciária, conduzir uma reforma trabalhista que destruirá os direitos da classe trabalhadora e implementara um pacote fiscal.
Assim como Thatcher, Milei planeja destruir a já fragilizada economia argentina. O plano do imperialismo para todo o mundo neste momento é este: avanço de um neoliberalismo selvagem e destruição da classe trabalhadora.