O feriado da Independência, no último 7 de Setembro, foi marcado por um espetáculo derrotista, trazendo um alinhamento entre o governo Lula e o poder judiciário, e uma aposta do bolsonarismo na mobilização da direita. Em Brasília, o desfile militar na Esplanada dos Ministérios contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em um claro aceno de apoio ao magistrado. Moraes, alvo de críticas generalizadas por sua condução truculenta, foi recebido com aplausos e elogios por parte de um grupo de espectadores, enquanto outros ministros do STF, como Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, também estavam presentes, compondo uma tribuna de autoridades que representava a união entre o Executivo e o Judiciário.
Eduardo Leite, governador tucano criminoso do Rio Grande do Sul responsável pela calamidade no estado após as recentes enchentes, também estava presente, reforçando a imagem de um evento tenebroso. A homenagem às vítimas das enchentes foi feita como parte da cerimônia, mas o que realmente chamou a atenção foi o churrasco realizado logo após o desfile no Palácio da Alvorada.
O clima no Alvorada foi descrito como “descontraído” e “muito positivo”, segundo a coluna de Roseann Kennedy ao Estado de S. Paulo (Churrasco de Lula, Moraes e ministros após desfile tem piadas sobre ato bolsonarista; veja bastidor), com Moraes sendo uma das figuras centrais da festa, com direito a piadas sobre as manifestações em São Paulo que pediam seu impeachment. Um ministro do governo não identificado pela colunista chegou a brincar com Moraes, segundo ela, sugerindo que as “homenagens” ao ministro já estavam a caminho, arrancando risos dos presentes. Nenhum dos convidados parecia se importar com o fato de que, na capital paulista, bolsonaristas se aglomeravam na Avenida Paulista para protestar contra o mesmo magistrado que compartilhava o churrasco com Lula.
Enquanto isso, em São Paulo, Jair Bolsonaro atraiu um público estimado em 58 mil pessoas para seu ato de 7 de Setembro, conforme o sítio Poder360. Embora o número seja visivelmente menor do que o registrado em fevereiro, o ato ainda representou uma força considerável. Com um carro de som como palco, Eduardo Bolsonaro foi o primeiro a discursar, usando uma camiseta com o símbolo do X, a rede social arbitrariamente suspensa por decisão de Moraes. Em sua fala, Eduardo atacou o ministro e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, exigindo que o impeachment do magistrado fosse colocado em pauta.
Bia Kicis seguiu o mesmo tom, prometendo que a oposição irá obstruir os trabalhos na Câmara dos Deputados até que o processo de destituição fosse instaurado. A deputada afirmou que mais de 150 deputados e 31 senadores já apoiavam o pedido, embora as chances de que ele avance no Senado sejam praticamente nulas:
“Mais de 150 deputados já assinaram o pedido de impeachment. Temos 31 senadores já confirmados. Queremos que o Rodrigo Pacheco receba esse pedido e distribua para ser analisado como manda a lei. E, agora, meus colegas, deputados e deputadas, nós vamos obstruir os trabalhos. Nós vamos parar a Câmara dos Deputados. E os senadores hão de parar o Senado Federal”.
Nikolas Ferreira, em um discurso inflamado, também chamou Moraes de “tirano” e pressionou Pacheco a agir, enquanto Júlia Zanatta reforçou as críticas, acusando o presidente do Senado de ser “covarde” e jurando lutar até o último dia de sua vida pela libertação dos presos políticos.
“Cada homem decide o legado que quer deixar nesta terra. Pelo visto, Pacheco escolheu a covardia. Paute o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, seu covarde. E o resto nos fazemos na rua, nos plenários, no congresso.”
Por fim, o ato teve a fala do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), que pediu “freio, através dos dispositivos constitucionais, naqueles que saem, que rompem o limite das quatro linhas da nossa Constituição”, disse ao carro de som na Paulista. “E eu espero que o Senado Federal bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva”, acrescentou o ex-presidente.
O ato bolsonarista reforçou a polarização crescente entre o governo e a base popular de Bolsonaro. Enquanto Lula se reúne com figuras execráveis como Moraes e Leite, ambos representantes do regime golpista, o bolsonarismo aposta na mobilização de rua e no enfrentamento contra o altamente impopular STF. Essa estratégia de confronto com as instituições, liderada por Bolsonaro e seus aliados, tende a fortalecer o movimento bolsonarista, que cresce com o descontentamento popular e a insatisfação com o regime.
O governo Lula, por outro lado, enfraquece-se ao se aliar a figuras odiadas pela população, como Alexandre de Moraes, e ao ignorar o descontentamento popular que transborda nas ruas. A política derrotista de Lula, que tenta conciliar com os inimigos da classe trabalhadora, apenas abre espaço para que a direita e o imperialismo aumentem suas pressões sobre o governo, empurrando-o cada vez mais para a defensiva, até que sua desmoralização permita um golpe indolor.