O crescimento e a ascensão dos partidos e dos movimentos de extrema direita em diversos países do mundo, em particular na Europa e nas Américas, vêm despertando muita especulação e opiniões das mais diversas. A maioria dessas opiniões e pontos de vista, no entanto, não compreendem a essência que motiva o aparecimento e o desenvolvimento do fenômeno.
O fato é que a extrema direita está explorando e se beneficiando da completa falência dos regimes atuais, vale dizer, da “ordem democrática liberal”. Esse tipo de regime está em colapso em todo o mundo, revelando a completa incapacidade do mundo “democrático” (imperialista) em oferecer qualquer perspectiva de solução para os agudos problemas que hoje afligem a humanidade. Disso, a extrema direita, demagogicamente, se vale para enganar e iludir as massas, oferecendo-lhes soluções que não passam de palavras ao vento.
Ora, os países ditos democráticos são hoje os países imperialistas, os mesmos que enviam armas e apoiam a ação criminosa dos sionistas contra a população civil indefesa de Gaza; os mesmos que prolongam o sofrimento do povo ucraniano, alimentando uma guerra que todos os especialistas militares já vaticinaram como vencida pela Rússia; os mesmos que ameaçam o Irã e a China; os mesmos que impõem sanções e bloqueios criminosos contra Cuba, Venezuela e Nicarágua; os mesmos que apoiam o governo de extrema direita de Javier Milei e sua política de guerra contra a população da Argentina; os mesmos que organizam e financiam governos direitistas na África.
Aqui no Brasil, o principal partido da esquerda, o PT, expressa acabadamente essa política de defesa da “democracia”, supostamente em oposição à extrema direita nacional e internacional. Em um artigo publicado no Brasil 247, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffman, declarou que “é preciso barrar o avanço da extrema direita no mundo”, pois “com essa gente não se brinca”. Surge, então, a pergunta: e com essa outra gente, os “democratas liberais”, devemos brincar? Devemos nos aproximar dessa gente golpista, que hoje compõe o governo Lula com vários postos de comando em ministérios e empresas estatais, os mesmos que arquitetaram o golpe de Estado de 2016? Por acaso não foi também essa gente que colocou na cadeia, por 580 dias, o presidente Lula, pavimentando, à época, o caminho para a eleição do fascistóide Jair Bolsonaro?
Surge também outra questão: e os países que são apresentados pela burguesia como “autoritários”? A esquerda deve se opor ao governo venezuelano só porque ele se nega a entregar o seu petróleo de graça para os Estados Unidos?
O centro da luta que se desenvolve hoje no mundo não é e não pode ser entre democracia e ditadura, pois assim colocada a questão, trata-se de uma falácia, uma discussão sem conteúdo, abstrata, que, em última instância, favorece o imperialismo, que se autointitula defensor da “democracia”, da “liberdade”, contra a “opressão totalitária” dos países do “Eixo do Mal” (China, Rússia, Irã, Cuba, Coreia do Norte etc.).
A luta, para ser consequente nos dias de hoje, deve se dar em torno da necessidade de colocar fim ao regime de exploração do grande capital imperialista e sua política de opressão contra os povos, de guerras, de neocolonização, de fome e miséria, de doenças, de destruição do meio ambiente e das conquistas sociais das massas.