A fundação do Estado de “Israel” se deu com o apoio da União Soviética dirigida por Stalin. No fim da Segunda Guerra Mundial, o stalinismo estava totalmente alinhado com o imperialismo norte-americano e inglês e havia traçado um plano conjunto para o Oriente Médio que contava com a fundação do Estado de “Israel”. O seu grande apoio, além de dar uma aparência “socialista” para fundação do Estado sionista, foi armar as milícias fascistas por meio da Checoslováquia durante a guerra de fundação de “Israel” em 1948.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Exército Vermelho ocupou toda a Europa oriental e a União Soviética estava sob o controle de todos os países. Neste período de transição entre 1945 e 1948. O stalinismo ainda não havia acabado com os Estados capitalistas, mas já estava sobre controle político dos países. A Checoslováquia era o grande polo industrial da região e logo após um período de guerra tinha uma poderosa indústria bélica.
Após a guerra, o general Heliodor Pika, nomeado vice-chefe do Estado-Maior, ficou responsável pela indústria de armas da Tchecoslováquia. Ele tinha relações com o imperialismo desde antes da guerra e na década de 1930 já havia vendido armas para o Haganá, a milícia fascista de “Israel” liderada por Ben-Gurion, que viria a ser o primeiro-ministro do Estado sionista.
Quando já estava claro que haveria uma guerra, pois a ONU aprovou a fundação de “Israel” Bedrich Reicin, comandante da inteligência de defesa, recomendou a venda de armas à Haganá e o governo tchecoslovaco aprovou. O general Pika foi muito importante na organização disso. As armas em questão eram do inventário que não circulavam, armas construídas para os alemães durante a guerra, mas que agora eram inúteis. Os sionistas então fundaram “Israel” com armas nazistas.
Em 1º de dezembro de 1947, a Fábrica de Armas Zbrojovka assinou um contrato para vender mais armas do que todo o arsenal da Haganá na época. Isso é um apoio gigantesco, o Haganá se tornaria o exérctio de “Israel”, ou seja, o stalinismo foi a força que na prática criou esse exército. A próxima tarefa era entregar as armas a “Israel”. Este era o trabalho de Pika e outros generais ligados a ele. O governo polonês se recusou a permitir o envio, e as armas foram, portanto, enviadas pelo rio Danúbio através da Hungria para a Iugoslávia, e depois clandestinamente pela Itália até Telavive. Elas chegaram em abril de 1948.
O agente do Mossad Ehud Avriel escreveu um relato sobre suas ações nessa época: “o representante da fábrica de armas tcheca estava no aeroporto para nos receber. Também estava lá meu amigo Felix Doron, o homem da Haganá em Praga, que veio conosco na limusine preta de aparência oficial para o escritório central dos amigos de negócios de Adam”. O relato mostra que os sionistas tinham uma ampla atuação no país, inclusive com um representante oficial da Haganá. Um dos objetivos da milícia era também recrutar judeus da Europa oriental para lutar na Palestina, afinal havia muitas pessoas com experiência de combate após a guerra.
Novas negociações de venda de armas começaram em março. A Tchecoslováquia sofria com uma grave escassez de moedas fortes e ofereceu à Haganá uma quantidade considerável adicional de equipamentos de seu próprio excedente, avaliado em cerca de 18 milhões de dólares. Um dos principais instigadores desse projeto foi Antonin Zapotocky, então vice primeiro-ministro. Ele discutiu a possibilidade de vendas adicionais de armas com Mordechai Oren, um membro do partido socialista israelense.
Zapotocky inclusive prometeu treinar pilotos e paraquedistas israelenses na Tchecoslováquia. O aeroporto militar em Zatec foi colocado à disposição da Haganá para movimentar as armas. O transporte foi encoberto como uma venda de sucata metálica para uma empresa de Adis Abeba e foi realizado por uma empresa aérea panamenha, sob o codinome Operação Balak.
Em abril e maio, o governo de Praga liberou oitenta e cinco aeronaves para a Haganá, mas se recusou a vender tanques e canhões. As aeronaves foram transportadas via uma ponte aérea de Zatec, na Tchecoslováquia, para Titograd (então chamada Podgorica) na Iugoslávia, até Ekron na Palestina. Cerca de oitenta pilotos da Haganá foram treinados em escolas militares, e outro grupo estava passando por treinamento de paraquedistas no centro de treinamento na cidade de Straz pod Ralskem.
Nessa época, também, uma brigada militar tchecoslovaca estava sendo formada para lutar ao lado dos sionistas. Seus membros estavam sendo treinados em Velka Strelna, na área militar de Libava. Sua formação foi proposta por Shmuel Mikunis, secretário-geral do Partido Comunista de “Israel”. Ele originalmente queria criar uma brigada internacional composta por judeus das “democracias populares” da Europa oriental. O governo stalinista da União Soviética aprovou.
Apenas uma brigada tchecoeslovaca foi criada, que incluía algumas dezenas de judeus húngaros e romenos. O transporte ocorreu em partes, começando em dezembro de 1948, com o último contingente de cerca de quinhentas pessoas partindo em abril de 1949. Mas naquela época, a guerra já havia terminado e a brigada não era mais necessária.
Stalin salvou o Estado de “Israel”
Esses são os detalhes do gigantesco auxílio militar que o stalinismo concedeu a “Israel” em seu momento de maior crise. O Estado sionista provavelmente não venceria a guerra contra os países árabes em 1948 sem esses armamentos. E um fator ainda mais importante, durante a guerra havia um acordo do imperialismo que foi aprovado na ONU de embargo de armas aos sionistas e depois ao Estado de “Israel”, e também aos países árabes. Ou seja, uma política de não apoiar a guerra diretamente.
O imperialismo auxiliou “Israel”, pois naquele momento os governos árabes eram todos monarquias lacaios dos britânicos e a Síria era controlada pelos franceses. A Jordânia claramente não estava em guerra com “Israel”, apenas queria anexar a Cisjordânia para seu território. Mas mesmo assim a situação do Estado recém criado eram muito difícil. Uma guerra contra Egito, Iraque, Síria e Jordânia sem ainda ter todo o aparato militar de um Estado era quase impossível de ser vencida sem apoio externo.
As armas da Tchecoslováquia foram um fator importantíssimo para virar esse jogo. Stalin sabia muito bem o que estava fazendo, pois ele apoiava a criação do Estado de “Israel”. Não fica claro o motivo, mas provavelmente ele acreditou que os sionistas poderiam ser aliados no Oriente Médio, eles apareciam como uma força de esquerda naquele momento. Depois ficou claro para Stalin que “Israel” era uma ferramenta do imperialismo e ele foi buscar outros aliados.
Mas a realidade é: no momento mais critico em toda a história de “Israel”, foi o stalinismo quem garantiu as armas, a força material, para derrotar os árabes e se estabelecer como Estado. E o lado mais macabro disso. Esse era o momento em que os Palestinos sofriam com o processo de limpeza étnica, a Naqba, que expulsou 800 mil palestinos de suas terras para se tornarem refugiados. Nem o sofrimento dos palestinos, e nem o claro ataque ao povo árabe de forma geral foi relevante para o stalinismo.