O artigo assinado por Paulo Pasin e publicado recentemente no portal Esquerda Online, intitulado Um segundo turno entre dois bolsonaristas em São Paulo seria um desastre!, coloca, de forma enviesada, uma tentativa de chantagem à esquerda classista, e em especial ao Partido da Causa Operária (PCO) para se não apoiar, ao menos suspender as denúncias do direitismo de Guilherme Boulos (PSOL) na campanha das eleições municipais. Logo no início, quando menciona “fogo amigo” (sem nomear quem seria esse “amigo”), Pasin lança uma cortina de fumaça para tentar esconder a verdadeira natureza de Guilherme Boulos.
Para um elemento classista da esquerda, não poderia haver outra política senão a crítica a Boulos, que é um elemento da burguesia. Sua ligação com a ONG IREE e, por meio dela, com a CIA, não pode ser ignorada e, na verdade, explica muitos dos seus posicionamentos, como os ataques à Venezuela e ao bolivarianismo, sua defesa de cortes de gastos e suas omissões na defesa da Palestina. Boulos não é amigo da classe trabalhadora, ele é uma ferramenta do imperialismo. Ainda assim, Pasin tenta pintar a campanha de Boulos como uma cruzada contra o bolsonarismo, afirmando:
“Após sofrer ataques de todo tipo, pelas redes sociais da indústria de fakenews bolsonarista, da mídia hegemônica Faria Limer, da máquina do governo do Estado e da prefeitura e muito ‘fogo amigo’ de setores da esquerda – certos amigos dispensam-nos de ter inimigos – Boulos continua liderando a disputa eleitoral.”
Essa “liderança”, no entanto, é meramente uma peça de propaganda. Dadas as condições da campanha, com Boulos desempenhando um papel medíocre nos debates, o apoio que ele tem recebido vem claramente da burguesia. Esse apoio da classe dominante é o principal ponto que precisa ser considerado.
Mesmo trazendo a ROTA para sua campanha, pode ser exagerado caracterizar Boulos como um bolsonarista (pelo menos por enquanto), mas inegavelmente, o psolista representa os interesses da burguesia, a mesma classe social que criou e sustenta a direita de conjunto, inclusive a ala mais extremista. Portanto, ao endossar a candidatura de Boulos, Pasin não está enfrentando a extrema-direita, mas sim fortalecendo o aparato que a criou.
O verdadeiro problema do argumento de Pasin é a tentativa de forçar a esquerda a ignorar a burguesia e suas ferramentas políticas, focando apenas em atacar os “bonecos”, enquanto o ventríloquo – a classe burguesa – é deixado livre para continuar manipulando o jogo político. Boulos não é, e nunca foi, uma alternativa genuína para a classe trabalhadora, sendo antes, um elemento dedicado a sua desorientação.
Desde o movimento “Não Vai Ter Copa”, ainda na década passada, passando pelos ataques contra a “indefensável” presidenta Dilma (como ele mesmo se referiu, durante o fogo cerrado do imperialismo contra a presidenta petista) até sua campanha atual, ele se posicionou repetidamente ao lado dos interesses burgueses, inclusive atacando a Venezuela, como tem feito reiteradamente no último período. Boulos não é e nunca teve qualquer ponto em comum com a esquerda em questões que não sejam as extravagâncias da esquerda pequeno-burguesa, que não tem subsistência política alguma para os interesses da classe trabalhadora, por isso mesmo, podendo ser usadas como disfarce.