Em nova comprovação de que está em marcha a Revolução Palestina, com o povo em armas se levantando; novas brigadas surgem nos territórios onde a luta se trava; muitas sequer têm nome.Em Rafá, cidade fronteiriça com o Egito, no sul de Gaza, a população já criou Comitês Populares armados, para impedir a especulação com preços de alimentos, em um momento em que o povo morre de fome. Na Cisjordânia, o levante armado da população contra as forças de ocupação, a polícia israelense e os colonos fascistas são cada vez mais frequentes.
Neste marco, a Batalha de Jenin é um importante episódio no desenvolvimento da luta do povo palestino. Por um lado, expôs, mais uma vez, a monstruosidade da ditadura sionista que vemos atualmente. Por outro, apesar de ter resultado em um massacre de dezenas de palestinos e na destruição de centenas de casas, foi uma batalha em que o Hamas, a Jiade Islâmica, a Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, setores armados do Fatá (Tanzim) e combatentes palestinos independentes, resistiram com grande tenacidade ao poderio militar superior das forças de ocupação, deixando claro que, eventualmente, a resistência palestina poderia derrotar “Israel”.
A batalha teve início em 1º de abril de 2002, durando 10 dias. Desenvolvia-se então Segunda Intifada, uma mobilização revolucionária do povo palestino contra a dominação sionista, que começou em 28 de setembro de 2000, encerrando-se apenas em fevereiro de 2005, que o Hamas se consolidou como a principal força política e militar do povo palestino, posição que mantém até hoje.
No dia primeiro, tropas das forças israelenses de ocupação invadiram o Campo de Refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada. A invasão foi parte da Operação Escudo Defensivo, através da qual “Israel” buscava destruir células das organizações da resistência, que estariam localizadas no campo.
Já de início, as forças de ocupação utilizaram não apenas infantaria e comandos para invadir o campo de refugiados, mas também helicópteros de assalto. Utilizando o que estava a seu alcance e valendo-se da criatividade revolucionária que vem da escassez de materiais, a resistência palestina armou diversas armadilhas pelo campo, para impedir a entrada das tropas sionistas.
Eventualmente, soldados israelenses acabaram caindo nelas. Quando isto ocorreu, o exército de ocupação decidiu utilizar escavadeiras blindadas. Com isto, saiu destruindo tudo o que via pela frente. Foram mais de 400 casas palestinas destruídas. Novamente, sob o pretexto de derrotar a resistência, “Israel” atacou civis.
O campo possuía 11 mil residentes. Quando ocorre a invasão, estima-se que ainda havia cerca de 4 mil. Destes, algumas centenas eram combatentes da resistência. As tropas sionistas, por sua vez, somavam cerca de 1000. Assim, além das disparidades tecnológicas, havia a disparidade de números.
Contudo, isto não foi suficiente para arrefecer a resistência. Quando a batalha começou, relata-se que Ali Safouri, comandante das Brigadas Al-Quds (braço armado da Jiade Islâmica) no campo disse:
“Preparamos surpresas inesperadas para o inimigo. Estamos determinados a lhe retribuir o dobro e a lhe ensinar uma lição que ele irá não se esqueça… Vamos atacá-lo em casa, em Jerusalém, em Haifa e em Jaffa, em todos os lugares. Damos-lhes as boas-vindas e preparamos um cemitério especial para eles no campo de Jenin. Juramos pelos mártires que imporíamos um toque de recolher nas cidades sionistas e vingaríamos cada gota de sangue derramada em nossa terra sagrada. Apelamos aos soldados de Sharon para recusarem suas ordens, porque entrar no campo [de Jenin]… a capital dos mártires, será, se Alá quiser, a última coisa que farão em suas vidas”.
Logo no primeiro combate, o Major Moshe Gerstner, comandante da companhia de reserva, foi aniquilado pela resistência. Segundo relatos de palestinos que presenciaram o combate, as tropas sionistas precisaram do apoio aéreo para conseguir avançar, dada a tenacidade dos combatentes.
Durante dias, a resistência, entrincheirada, combateu os invasores. As condições, contudo, eram muito desfavoráveis. Havia a disparidade numérica e tecnológica, e, além disso, a resistência estava completamente cercada no campo, sem uma organização sólida como a que se observa atualmente.
Assim, no dia 11 de abril, a batalha terminou com a rendição dos combatentes palestinos que sobreviveram. Não se sabe exatamente quantos palestinos, dentre civis e membros da resistência, foram assassinados. Há aqueles que estimam o número de mortos em cinquenta e três, dos quais metade seriam civis. As estimativas seriam fundamentadas em informações fornecidas pelo Hospital de Jenin às forças de ocupação e à ONU.
Segundo relatório da ONG Human Rights Watch, muitos palestinos “foram mortos intencional ou ilegalmente e, em alguns casos, constituíram crimes de guerra”, citando como exemplo os casos de Kamal Zugheir, de 57 anos, que foi baleado e depois atropelado por tanques das tropas sionistas enquanto estava em sua cadeira de rodas, e o de Jamal Fayid, de 37 anos, um tetraplégico esmagado até a morte nos escombros.
Apesar desse massacre, é fundamental frisar que a resistência palestina conseguiu aniquilar 23 três sionistas, um nível de baixas nas fileiras israelense, provocadas pela resistência palestina, que há muito não era vista.
Confirmando isto, até mesmo um dos comandantes das forças de ocupação que participou da invasão chegou a declarar que “os palestinos estavam admiravelmente bem preparados. Eles analisaram corretamente as lições do ataque anterior”. Uma demonstração de que a resistência havia evoluído na luta contra o sionismo, em especial no decorrer das batalhas que ocorreram na Segunda Intifada.
No mesmo sentido, a declaração do General Dan Harel, Chefe da Diretoria de Operações das FDI:
“Havia indicações de que seria difícil, mas não pensávamos que seria tão difícil”.
Assim, apesar da Batalha de Jenin ter resultado em uma derrota da resistência palestina naquela ocasião, serviu para expor que as forças de ocupação poderiam ser derrotada pelo povo palestino, apesar de toda superioridade tecnológica. Que é justamente o que se está vendo agora, com Revolução Palestina, que avança desde o Dilúvio de al-Aqsa.